terça-feira, 23 de junho de 2009

vocências haviam de ver


tourada - Fernando Tordo
.

Deolindo
Palavras ... o vento leva-as
Tás frito Jaquim

Para quê gastar Latim
o que tem de ser tem muita força

Bico de laca
The end

Raios e coriscos

O sol nasceu em paz não uma mas muitas vezes.
Entretanto…
D . Fernanda andava contente. As flores, à hora certa, sobre o piano sucediam-se na jarra de cristal.
-Pacheco, vai abrir o portão à menina. E a menina lá vinha no seu Imp, só. Só, mas tão pouco era o bastante para a tranquilizar e se poder dedicar à formação de Dioguinho. Conformada com a sua pouca aptidão para a execução dos “martelinhos”, que a sua mana tão graciosamente já aos dez anos executava, canalizou a complementaridade escolar para a equitação.
-Dioguinho, Dinho, como familiarmente era tratado - tomo a liberdade de assim passar a referir-me – em poucas lições a que correspondiam o mesmo número de elogios por parte exigente mestre, revelava uma inata desenvoltura e apreciável destemor que logo justificaram mandar vir da cudelaria de Alter um puro e inteiro lusitano, escolhido por pessoa indicada pelo mestre. Quando o lusitano chegou, Dinho fazia já a última prova da casaca. Como a casaca era linda! Cetim madrepérola debruado a seda rosa, emoldurava a camisa cinza mais-que-pálido. Das mangas floresciam punhos de renda suíça, resultante de aturadas horas de escolha em gabinete privado dos Armazéns do Minho. A calça justa, bege, dava um toque de elegância à figura adolescente espraiando-se pela meia de renda; por fim a bota alta de prateleira em pele de vitela, partida a preceito pelo próprio mestre, acolhia uma autentica jóia: esporas de prata finamente cinzeladas.
Julho chegou finalmente e Dinho mal disfarçando o nervosismo vestiu-se para a sua primeira apresentação pública, ajudado pela extremosa mãe, igualmente nervosa, que lamentava o seu menino ter escolhido entretanto dar um chamado pulo da adolescência. Não foi nada que o alfaiate, mais tarde promovido a costureiro, não resolvesse de pronto com simples alinhavos e alfinetes-de-ama.
Os toques soaram e Dinho e o mestre, alternadamente foram recebendo, respectivamente, garraios e toiros mais as merecidas palmas que não foram regateadas pelo público presente que se dispersava pela zona da sombra, aproveitando o raro espectáculo cujo preço simbólico revertia para uma benemérita obra dos padres capuchinhos de S. Paulo.
No final da corrida de curta distancia, os convidados rumaram aos jardins da residência dos paizinhos do artista onde já noite aconteceu um pôr-do-sol volante, esmeradamente servido por um exército de empregados que contrastavam com as fardas brancas.
Os convivas mindinhos esticados, não se pouparam a elevar as flutes repletas de fresquíssimo meio bruto “Raposeira” em comunhão de opinião de que naquele dia havia nascido um valente cavaleiro.
-Um artista. Acrescentou uma jovem menina loura de finas sobrancelhas escuras, muito amiga de casa que merecia a desvelada protecção de Diogo pai, de seu nome, só para memória futura, Dina (Dininha para Diogo pai).
O mestre não escondia a satisfação pelo sucesso do seu trabalho brindando como competia a homem do Ribatejo, não com flutes de “Raposeira” mas com carrascão do Cartaxo em caneca de barro pois D. Fernanda não era senhora para descurar pormenores. Quem melhor do que ele para atestar a tarde de glória?
-Isto que hoje viram não foi nada. Tivessem os cabrões dos bichos colaborado e vocências haviam de ver do que o Dinho ainda tem para mostrar.
-Pois é. Soou d’algures
-Pois é. Repetiu-se em coro.
Dioguinho, encheu o peito e agradeceu.
Uns alinhavos arrebentaram-se.

2 comentários:

Joana disse...

Adorei!

Texto, Imagem e Som. Lindos!!!



Jinhos.

Erecteu disse...

obigado JJ, às vezes sai.
Bjs