sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Vou fugir

a todos um bom final de ano

UM NOVO ANO MUITO FELIZ

mas voltarei

Obrigado a todos.

O prometido é devido, aqui tou felizmente inteiro.

Espero que tenham passado de um ano para o outro com alegria; que este vos traga saúde e felicidade é o que vos desejo.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

Manhã

Os dias, embora curtos, foram-se arrastando por aquela semana, Nereu não se aquietava até que, uma tarde enquanto cumpria a sesta obrigatória, ouviu a porta do pátio; Adelaide entrava acompanhada de uma menina -Margarida chegava a casa dos avós, para passar as férias, agora que entrara para a escola. Logo que pôde, Nereu, desceu ao pátio, para ali se entreter jogando as suas caricas; certeiramente visava ora uma ora outra, não tardou que se sentisse observado; mudou de jogo, agora percorria uma pista desenhada a carvão no chão cimentado, cumprindo escrupulosamente todas as regras; Margarida observava de soslaio enquanto compunha a boneca que repousava nas pernas; Nereu afoito lançou uma tampa com mais força, Margarida seguiu com o olhar o deslizar do pequeno pedaço de lata até este se deter a escassos palmos dos seus pés; hesitou, olhou Nereu, pegou nela e dirigindo-se a ele de mão estendida disse: -Toma.
Tão simplesmente começou aquela amizade, como aquelas que só distancia e muito tempo fazem esquecer.

Nereu ao acordar, vigiava a casa de Adelaide; aparecida Margarida voava escadas abaixo ao seu encontro; Adelaide colocava, ao sol, uma manta de retalhos onde os catraios se entretinham em brincadeiras comandadas por Margarida; Nereu, trocou as caricas por conchas que eram tachinhos, bonecos e caminhas; aprendeu com prazer brincadeiras de menina.

O resto da semana voou.

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

Chegou a "cexta"

O sol tocava a igreja quando entravam no pátio. Maria recebeu a cesta que Rosa entregara com a recomendação de que Maria fosse à Quinta falar com D. Gertrudes.
-Vó, o Menino Jesus existe? Maria e Alfredo olharam-se. –Existe pois, disse Maria. –Bem… existe pois, arremedou Alfredo. –Dá prendas à gente?
Voltaram a trocar olhares; -Dá pois, aos que se portam bem, juntava-se Maria da Graça, à conversa.
Maria puxou pela mão do pequeno; -Vamos que se faz tarde, anda lavar-te.
Retirou da parede o alguidar de zinco, colocou-o no chão, verteu-lhe um jarro; levou a braseira para a cozinha, voltou com a panela de água a ferver da qual, cuidadosamente, despejou parte. Estava tudo pronto: Maria esfregava, Nereu protestava: era a água que estava quente, era o pano que arranhava, era o sabão nos olhos; por fim ao verter-lhe pela cabeça e pelo corpo o que sobrara da água aquecida, era que estava fria.
-Olha a minha sina, desabafou Maria, enrolando-o numa toalha; carregou-o até ao quarto.
-O que é que o Menino Jesus me vai dar? –Alguma roupa p
or certo, disse-lhe a Avó. –Oh, fez Nereu. –Mas o que querias tu, meu filho? –Umas luvas, Vó, umas luvas.
Valha-me Deus, para que queres tu as luvas?

Enquanto acabava o jantar, desfez a cesta coberta por um pano de linho bordado a ponto cruz, que a cobria: uma couve galega, duas postas de bacalhau; peras rocha, cenouras e nabos acondicionavam uma garrafa de azeite, por baixo de uma folha de jornal as batatas forravam o fundo.

O Menino Jesus de Maria chegara mais cedo

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

domingo, 17 de dezembro de 2006

Ainda é quinta

Rosa pousou a cafeteira, retirou o prato; voltou com o passador de pano e serviu habilidosamente o café, para si e Alfredo, sentou-se; Nereu levantou-se, retirou o seu prato que pousou na pedra de granito ao lado do lava-loiça, preparava-se para se escapulir mas foi travado; –Fruta. –Não quero; Rosa não se comoveu, –Toma, estendeu-lhe uma maçã. Contrariado deu-lhe uma dentada, -Posso ir lá para fora? –Trás o paliteiro; cumpriu e raspou-se direito à’dega.
Para ali ficaram beberricando em conversa perdida às tantas interrompida pelos sons da sanfona. –Lá tá ele, convencido que sa… -Deix’ó, interrompeu Alberto, deix’ó tomar o gosto. Os sons continuaram desordenados percorrendo a escala, ora subindo ora descendo, os tons cumpriam sem regra, caprichosas intensidades; -Faz-se hora, disse Alfredo ao levantar-se, -Vá com Deus. Desceu a escada e deu com ela de costas, imóvel. –Boa tarde, Sra. D. Gertrudes. –É o rapazito que toca?-Quer dizer…, é sim, minha senhora. –Ao lanche mande-o ter comigo, respondeu-lhe, virando-se de novo para mirar, ao fundo, o que se adivinhava do ribeiro.
Alfredo foi pr’ádega, interrogando-se do que quereria a velha. Ao entrar ficou a observá-lo: cabeça descaída levemente inclinada para ali estava o gaiato, suavemente dedilhando, por vezes franzia o cenho e tentava repetir sequências de sons; ao dar por ele parou de imediato, esfregou as mãos nas pernas e pediu-lhe –Toca? Não havia forma de escapar. –Só uma. Foi essa e mais duas antes de lançar mãos ao trabalho.

Dirigiu-se ao alambique que iria fazer um ano que estava parado, enorme, na sua dignidade de cobre velho, era bem capaz de queimar de uma vez uns bons três almudes; ajudado por Nereu foi-lhe devolvendo pacientemente a sua cor e brilho à medida que ia retirando o verde, uma após outra a sua roupa ia também saindo até ficar em tronco nu com o suor a escorrer-lhe por todo o corpo. Por fim, percorreu-o em volta, mão no rim, em rigorosa inspecção, acendeu um três vintes, deu-se por satisfeito.
Lavou-lha a cara, os braços e as mãos sem piedade nem dó pelos queixumes, dadas as últimas recomendações, entregou-o a Rosa, lá na cozinha; esta por sua vez concluiu o que Alfredo começara tentando pentear o teimoso cabelo de redemoinho indomável; conformada acompanhou-o pelo longo e escuro corredor, interrompido a meio por três degraus. Fez-se anunciar antes de introduzir Nereu. Na enorme sala nem o fogo da lareira nem os quatro imponentes janelões bastavam completamente ao frio e à claridade; a voz de Gertrudes soou por detrás de um cadeirão, –Anda sentar-te aqui. Nereu, pequenino, seguiu pela mão, sentou-se à frente da Sra.; esquecido da lição para ali ficou sentado, mordendo o lábio inferior, batendo com os calcanhares no sofá; angustiado viu Rosa sair para ir buscar o chá. O interrogatório parecia não ter fim mas lá foi respondendo: –Nereu; –No pátio; –Com a minh’avó; -Maria; –Maria Mota, e assim por diante até o chá chegar; mas nem ele nem as bolachas o confortaram. Com o tempo ou pelo adoçar dos olhos de Gertrudes, a voz foi-se soltando.
Sim minha senhora, gosto de música, mas não sei tocar nada. Gertrudes levou-o até junto do piano. Gostavas de aprender? Elevando os olhos para ela, respondeu com a voz embargada: Gostava muito, minha senhora.
Afagando-lhe a cabeça, Gertrudes: –Então está bem .
Pobre criança saberá onde se pode meter?

sábado, 16 de dezembro de 2006

Não MLEBS a mal,

mas em minha opinião,
o encarquilhanço mental das caquécticas e vetustas sumidades intelectuais, vestidas de roupagens folclóricas, arremedam senhoras de provecta idade em remansoso deleite dos fins de tarde das suíssas rossinianas, mordiscando queques ou babás onde depositam o carmim apostado que dos seus lábios gretados se vai libertando, pariu uma filha da puta de ideia que nem ao cabrão do diabo lembrava.

Saravá Sivuca

o mundo está mais rico com a sua música

está mais triste com a sua partida

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Agora é que vai ser ela

com os cumprimentos do Sr Procurador
.
.
"Ao fim de mais de quatro anos "encostada" no Tribunal da Relação de Lisboa a analisar recursos, Maria José Morgado vai regressar à investigação criminal. E com plenos poderes para investigar todos os processos que nasceram do "Apito Dourado" (que se encontra na fase de instrução no Tribunal de Gondomar). As competências da magistrada, segundo explicou ao DN o procurador-geral, Pinto Monteiro, vão para além da análise das certidões extraídas. Morgado poderá abrir novas investigações sobre a corrupção no futebol."...
***
Mizé Tung, pode ter feito algumas cedências na vida, ao visual foi uma delas, mas rais me partam se houver quem dobre a canita.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Quinta Grande

...pés bailando dentro das galochas emprestadas, ia Nereu pisando as parras secas que teimavam em cair, molhadas porque a chuva teimava também. A parreira estendia-se em comprida latada armada em pilares de granito escassilhado, interrompida quase a meio por um confortável alargamento; de um lado o tanque recebia água da mina, ao meio uma enorme laje de pedra equilibrava-se num afloramento rochoso, mesa seria se esse uso lhe dessem, com ela embirrava Alfredo que achava só servir para estorvar; à direita outra latada desce suavemente para sul dividindo o pomar em dois e prolongando-se até à eira; para lá uma leira, língua de terra negra duns cem por uns trezentos passos bem medidos terminava num silvado a despontar no meio dos velhos salgueiros; é a estrema da quinta onde o ribeiro arrasta as ramadas na forte corrente. Diacho, com isto perdi-os que seguiram em frente direitos ao muro de pedra onde o casão das alfaias convive entre alpendres, palheiro e cercados; aí ficam os animais. Alfredo abre primeiro a cancela das cabritas que os olham lá do fundo do telheiro, indiferentes nas barrigas a encher, Nereu encarrega-se de as enxotar correndo para elas que de um salto partem cada uma para seu lado procurando a saída. Aí vão elas e Nereu, em perseguição até ao –Deix’ás bichas, vamos; foram até ao casão onde Alfredo se ocupou por um pouco a arrumar caixas de fruta, ferramentas e outros pequenos objectos, Nereu entretinha-se encavalitado no pequeno tractor, manobrando volante e mudanças numa ruidosa e misteriosa viagem recheada de perdigotos. Alfredo mirou as tesouras da poda, avaliou o tempo, abanando a cabeça acabou por decidir que hora de tratar do estômago era chegada.
Voltavam à adega e ao fundo avistaram Rosa que Gertrudes mandava dizer para irem prá cozinha. Ordens, ali, são ordens; lavadas as mãos trocado o calçado, Alfredo passou um pouco de água pelo cabelo enquanto inspeccionou Nereu. Na quente cozinha a mesa posta; esperava-os: pataniscas de bacalhau, arroz de feijão, grelos cozidos; Nereu teve direito a ovo estrelado em azeite.

Assim Gertrudes os salvava do pecado da carne naquela sexta-feira.
Na marmita enrolada em jornais, a chanfana de cabra velha ficava adiada.

Feliz Natal a todos

a quadra do amor, da paz e da fraternidade merece ser celebrada.
assim o farei, à minha maneira, sem mais comentários.
(aconselho, vivamente, a não passarem por aqui nos próximos dias)

Sebastião Salgado
in ADN

in ADN


in ADN


sábado, 9 de dezembro de 2006

Pátio - nada de especial a referir

Até agora foi fácil; este é aqui aquele ali. Dizer como o pátio funciona é que é mais difícil, por isso não digo, vou dizendo. Vou passando por cá, e se vir alguma coisa que valha a pena, eu conto. Não é o caso de hoje, pelo menos a esta hora. De manhã ainda se viu a Conceição de missal, véu e terço na mão a bater à porta da Adelaide perguntando se a comadre ia à missa, que sim respondeu ela poderia lá ser outra coisa em dia de Imaculada Conceição. Não tardou a acabar de se arranjar. Comadres prontas postaram-se em frente uma da outra mirando-se reciprocamente em olhar que percorria a vertical que vai da cabeça aos pés, há uma arrancaram, direitas à porta; ainda no pátio hesitaram pondo-se agora numa estranha sequência de trejeitos de cabeça, reforçados pela boca, sobrancelhas e olhos. Depois lá se foram. Perceberam? Também eu não se não as tivesse ouvido mais à frente, –Mas porque irá ela à da tarde? Não se acostumavam afinal à ideia de Maria não as acompanhar no ritual do Santo Sacrifício. –É tão boa mulher. –Lá isso é, mas... assim foram desaparecendo estrada abaixo.
No pátio agora prepara Alfredo os atavios, para este não há feriado; enquanto nisto anda dá por Nereu que o observa do alto. –Onde vai? Alfredo moita. –Onde vai? Maria de pronto o repreendeu. Alfredo retardando o que fazia ia lançando olhares de esguelha a Nereu, até que decidiu não prolongar mais o seu sofrimento, –Se a tua avó deixasse, se me quiseres ajudar… o alvoroço instalou-se, a súplica naquela carita arrepanhada, o sim desejado, o tropel escadas a baixo, o inevitável: –Vai devagar, catano.
–Vizinha Maria, vimos pela tardinha; –E o almoço? –Comemos por lá; -Mas isso tem algum jeito, valha-me Deus. mas se estava decidido. –Levas a concertina; Maria deliciada viu-os agarrar as coisas, Alfredo fechar cuidadosamente a porta.
Estes lá se vão também mas estrada a cima direitos à Quinta grande, à quinta da Dona Gertrudes, Sra. D. Gertrudes como ela corrigia quem se descuidasse. Aqui Alfredo, consultado o Borda d'Água, quase põe e dispõe no tratar do que ainda resta da velha quinta, outrora rica em tudo; rica em água, o sereno mas severo cuidado de Alfredo garante o sustento de Gertrudes, que filhos e netos ía ajudando, por vezes até aos sobrinhos valia, quando por amor ou outra qualquer razão a visitavam. Hoje não é propriamente dia de trabalho e por isso a esta hora vai. A falar verdade não é só por isso, mais cedo fosse e Gertrudes predicaria sobre inconveniências de falhas aos deveres de um bom cristão; assim, talvez não lhe pergunte pela cor da salabita do padre, mas nunca fiando que a velha, nestas coisas de igreja não é mesmo de fiar.
Chegados arrumaram, na mesa de grossas tábuas da adega, a seira um, a concertina o outro. –Vamos ao trabalho? e aí vão eles, feliz segue Nereu, Alfredo, pés bailando dentro das galochas emprestadas.
No pátio nada mais digno de nota;
portas dentro de Maria da Graça, Victor toma-a nos braços forçando-a a um doce despertar.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Fujam que vem lá mais pátio

Da Graça já vos falei há uns tempos atrás, uns ouviram ou melhor, leram, outros não tiveram oportunidade mas ficam a saber que a sua porta fica ao canto mesmo ao lado da da Maria. Serão os que destoam nesta ilha, mais pela idade que os separa do resto, do que por qualquer outra razão. Para ali foram acabados de casar embora já não fossem estranhos quando chegaram, porque a montar casa andaram um ano a escorregar para os dois. Para além disso a menina Graça já era conhecida do cartório onde trabalhou até há algum tempo atrás. Porque não trabalha lá, agora? Explico: Corria tudo bem até ao dia em que o Dr. Sobral a chamou-a ao gabinete para lhe dizer –Graça, a partir de amanhã vem um estagiário; quero que o vá pondo a par do serviço, vá ensinando os procedimentos comece pelos assentos. Ah, o arquivo, o arquivo também. Assim foi. No dia seguinte lá estava aquele lingrinhas, logo pela manhã fria de Janeiro, sentado na escada, ou melhor no lenço porque o lenço é que estava na escada, mirando-a apalermado, enterrado no boné, desajeitado. Desajeitado era pouco; ao aperceber-se que ia abrir da porta, pôs-se á sua volta em passinhos laterais, fazendo sons de macaco e a retorcer o boné! –Entre, é o estagiário, não é? Pois o tanso, que outro nome não merece, palavra d’honra faz-me uma cena! Entra não entra, com encontrão pelo meio…-pró que estás tu calhada Graça Maria, pensou ela; e pensou bem digo eu.

Pacientemente lá foi mostrando os cantos e os livros da casa até chegar o Dr. Sobral que a primeira coisa que fez foi metê-lo no gabinete para uma conversa; para lá estavam eles, toca o telefone: –É da diocese da parte do Sr. Bispo, para o Sr. Dr. Sobral. Graça viu tudo, ou quase tudo.
Os primeiros meses nem correram mal. O rapaz de desajeitado foi-se tornando desembaraçado, sem dificuldades para aprender; tinha até de admitir que em arrumo e método podia pedir meças a ela própria; não se esquivava a nada nem ao pó do arquivo. Correram bem… com ele corriam porque com o Dr. Sobral iam piorando, especialmente após os telefonemas do Bispo.
Começaram a correr mesmo mal no dia em que o Dr. Sobral ao examinar uma escritura lhe pôs a mão na cintura e a começou a afagá-la paternalmente. Era o dia das mentiras, o tempo convidava a saia travada de tecido cinza e a camisolinha de malha. Sentia-se tão bem! até aquele estupor se atrever. Quando e como pôde refugiou-se no arquivo onde poderia verter as suas lágrimas, secas de raiva. –Que se passa, menina Graça? nem ali! A um passo inquiria aquele estupor direito seguro e doce. –Que se passa Graça? Ficaram a olhar um para o outro. Olhou-o nos olhos e viu-os límpidos sem qualquer mácula. –Não é nada, deixa lá; quis passar por ele mas viu o caminho barrado. –Sei tudo o que se passa, é por minha causa, disse ele antes de lhe virar as costas direito ao gabinete; um: –Pára, rouco, ríspido, semigritado estacou-o. –Depois conversamos melhor.
O arquivo passou a ser local das conversas. Na primeira foi feito o ponto da situação, avaliada a conjuntura: Bispo e Sobral estavam de acordo no que dizia respeito a quem melhor servia no cartório; nas que se seguiram não mais se entenderam. –Pões-te fora e vou eu a seguir. –Prá guerra, não? dizia ela; dois meses nisto, o tempo a aquecer era a conversa ao almoço partilhado no arquivo que nada mais tinha para pôr em ordem.

Entre teimoso e teimosa como se sai desta? Eu desunho-me dizia ele. – Parvo, retorquia ela; desesperado e sem argumentos agarrou-a pelos ombros , puxou-a para si sem sentir grande resistência, sentiu-a sim aninhar-se no seu peito. Pegou-lhe no queixo, a resistência foi afrouxando, beijou-a ao de leve nos lábios.


Nesta vida nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.
Perdia o emprego, ganhava o futuro marido

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

Hoje há Festa

TRIO NORDESTINO FORRÓ PÉ



Erecteu já tem a ferramenta boa
aos amigos que viveram este drama exacerbado, obrigado
ás minhas, Bolachinha und Baum Cem Anos de gratidão, com elas não há Solidão
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I'M A SLAVE FOREVER
shiny I blink

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Esse teu olhar/Promessas

Cristina Motta - (animação)

O sinal dos deuses

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I'M FREE FOREVER
blindly I blink

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Segunda marcar consulta

A reunião até tinha corrido bem. Bem entrados pela noite, desfeitos os equívocos, o Sr. Almirante desmanchou a pose tornando-se numa pessoa surpreendentemente afável, comunicativa e alegre.
Arrastando-me até á cervejaria Alemã, não lhe pude fugir e lá tive de o acompanhar em informal cerimónia. Do bife mal passado, às cervejas passando pelo semi-frio até ao café e a aguardente reserva, sustentados num puro, foram duas e meia longas horas de conversa agradável, com intermitências de prolongadas dissertações, que desculpo. À despedida convite para jantar numa breve oportunidade e lá fomos cada um para seu lado, aos respectivos carros. Tivesse ele melhor sorte que a minha. Jante bloqueada, uma e vinte e cinco da madrugada, sexta-feira que nem era treze! A salvação do destino, ali há mão descendo ao Cais de Sodré; passando pelo Irish Pub, um grupo alegre cavaqueava, e de dentro saíam em surdina folk sonds. Salvação não tivesse eu visto as luzes do último comboio a afastarem-se nesta noite, trigésima de Novembro, de dois mil e seis.

Noite fria resolvi entrar. Para ali fiquei até me perguntarem o que queria –Uma Guiness, por favor, entre praguejares pra dentro e o ouvir a música. Grupos alegres de habituais, poucos de ocasionais; uma quase gaiata, divertida, não dava descanso às amigas roubando-lhes as bebidas ou passando as mãos molhadas pela cara de uma, pelas coxas oferecidas pela mini, de outra. Os nossos olhos cruzaram-se e a pequena, para meu triunfo, sentindo-se observada, convenientemente os desviou para voltar desafiadora; ficámos num jogo de sisudo, desvirtuado por sorrisos irónicos. As canecas foram saindo, mais do lado delas que do meu até me convidarem a sentar. Quem és, o que fazes, correu a mesa. Universitária uma, ex as outras, todas em abertura de fim-de-semana que prometia; Já solidárias com a minha desgraça, implacáveis com os filhos da puta dos xuis, porque não havia o direito, cabrões. Sem ser tido ou achado sentenciaram levar-me a casa, destruindo impiedosamente desculpa ou argumento apresentados; nem mais nem menos, passavam primeiro pelo meu carro para sacar uma pasta e assim foi, mas; Carro… uma porra, já lá não estava! Três da manhã, hôi! No problem, sabiam para onde o tinham, de certeza absoluta, rebocado e que até lá me levavam. Forçado e reforçado por aquelas frescuras, lá fomos. A desalmada comigo no banco detrás, não parava quieta moendo as amigas e ainda mais a mim nos quentes e fortuitos contactos de pernas; gaita, nunca vi gaja tão sepidada e com tal diabo no corpo que já do meu se apossava. Tivesse ela mais uns anitos e, e… Bem, adiante: após o desembaraço da viatura, os agradecimentos e a proposta de troca de números de telemóveis para um posterior contacto, o borracho colado a meu lado. –Vou contigo. –Comigo onde? –Já vês, melodiosa e concisa. Foram-se as outras duas, envoltas em gargalhadas, acenando divertidas. Ficámos nós. Aparvalhado dei por ela a entrar no carro, puxar o banco todo para trás, traçar a perna fazendo subir ligeiramente a saia, enquanto acendia um cigarro e lançava um olhar transviado. Fechou a porta, ergueu o queixo, olhou em frente.

Arranquei atarantado, e sem jeito fiquei ao sentir o suave pousar da sua mão no meu braço. -Queres... -Ir a tua casa, interrogou ou sentenciou, não sei. Devemos ter subido a escada, mas só dei por mim já lá dentro, abraçado com o seu rosto refugiado no meu peito, cabelos enredando-se na barba que já despontava; a morna respiração no peito foi descendo pelo corpo e incendiando a cabeça. Abracei-a suavemente, por um momento ali ficámos até que a sua mão da minha se ia suavemente libertando partindo á descoberta da casa de banho. Fui para a sala, sentei-me, levantei-me quando ouvi a água correr, acendi um cigarro fazendo de cabeça contas à idade que a gaiata poderia ter; assustei-me ao pressenti-la a meu lado puxando-me para o quarto com a cama por fazer.

(Foto © João Freitas )

Foram tantos os abraços os beijos as carícias, tantas as mordidelas os arranhões o repuxar de cabelos as lambidelas, tantos os apertões as festas e mais beijos e mais, mais, e mais...
louco dei por apartar-se, deslizar para fora da cama, desaparecer em silêncio.

(Foto © João Freitas)

A água deixou de correr; no silêncio instalado da madrugada ouvi-a entrar na banheira, fui escutando o marulhar da água, irromper um suave e doce cântico celestial. Assim adormeci, sonhando que uma ninfa de mim se tinha assenhoreado, comigo tinha feito amor, uma e outra vez.
Acordei com o sol, precipitei-me para a casa de banho.
A banheira estava vazia,

o chão molhado deixava um rasto até à porta onde jazia uma rosa.

Pátio de novo

A Laidinha, como já lhe chamam, Dief, o que dizer dela? Há tão pouco a dizer de uma pessoa assim! Será então: seca de carnes mas não de olho, mexe-se como lagartixa ou ratito do campo, se preferires, faz a sua vida em casa saindo para os avios, vive para os filhos embora já tenham a sua casa, enfrenta quem lhe pisar os terrenos. Pergunto-me se será uma pessoa feliz. Vocês julgarão, se nos der ocasião para tal. No pátio chamam-lhe a “Generala”, chamam, quer dizer, referem-se a ela, seguros de não estar por perto. De generala Á’delaide não tem nada; será uma ajudante de campo, sargento de dia ou fachina voluntária, generala, definitivamente, não; só para quem não a entende. O seu orgulho é o Manel Carvalho, o seu homem. Como ele não há outro. Nunca lhe pedira namoro mas não mais se esqueceu daquele dia em que se fora despedir do irmão que viera a casa para se despedir antes de partir para as Áfricas; o comboio a apitar para partir e sai de lá aquele rapagão direito a ela, –Posso escrever-te? o comboio a pôr-se em marcha, ele ali especado a olha-la do alto; só quando sem som lhe sair da boca lhe disse, –Sim é que ele sem mais nada, rodou e correu a tempo de ainda apanhar a última carruagem. Depois, foram dois anos e dois meses:

Adelaide
Espero que esta te vá encontrar de saúde, na companhia dos teus, por aqui tudo bem, graças a Deus.
….
O que tanto bem te quer,
Manuel Carvalho

Tinha-os lá todos; quatro maços amarelos atados em fita de cetim rosa, arrumadoas na caixa de camisa TV. "É LAVAR PENDURAR E VESTIR"

Depois... era já uma vida sem o ouvir queixar de nada.