quinta-feira, 14 de junho de 2012

... não se olha ao dente


Que uma pessoa saia à rua com dentes podres não merece grande reparo, mas que se atreva a vestir uma fatiota catita e a dar às ancas, cuidado que pode estar a pisar os limites; então se a isto juntar o atrevimento da abrir a boca para cantarolar uma marchita, segurem o Carmo e a Trindade não vá a caraça entrar-nos casa adentro pela mão de um realizador da TV como aconteceu na transmissão em directo das Marchas Populares de Lisboa-2012.

Constatei que a imagem da senhora foi suficiente forte para merecer reparos e fartos comentários no “face. Independentemente das razões que tenham motivado o realizador a colocar no ar aquelas imagens, fica para a história uma narrativa que não desmerecerá Fernão Lopes ainda que em pincelada de sabor a corrente  realista... aquela em que os temas e as personagens estavam aquém dos mitos.

Deixem-me bailar à vontade e não se importem se o faço para aparecer na TV ou se a minha veia plebeia, quando rufa um tambor, me faz o pé marcar compasso.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Vinde a mim as criancinhas


Se vos disser que “Ficacom”é uma expressão derivada de um neogalicismo, não pensem que vos estou a ofender, independente das coneries de que sejam eventualmente capazes.

Atenham-se simplesmente a “Restavec”, expressão que  refere crianças sem tecto mas com fome e sede de sobra, avassalados por doenças e entregues por suas mães a quem lhes pudesse valer.
 Agora recordo-me da bronca que foi tratada na imprensa, pouco depois do terramoto, aquando da detenção de uns membros de uma ONG, acusados de quererem “raptar” umas quantas infelizes criancinhas. Na altura fiquei sem saber o que disso pensar. Tratava-se de arrogância da organização que desrespeitava as autoridades locais ou estava-se perante burocracia de inspiração “tontons macoute”?

Os “restavec” são profusamente aproveitados como mão-de-obra barata por parte de algumas (muitas) famílias haitianas que, sob a capa de generosa piedade, dos "restavec" em troca recebem trabalho e não raramente as sujeitam a lascivos abusos e frequentes agressões de brutalidade inimaginável.

Infelizmente este fenómeno traz-me à memória muita coisa que não abona a favor da nossa presença além-mar reveladora de um desprezo ou falta de consciência de coisas a que hoje chamamos de "direitos fundamentais" e se mais não digo, por agora,  mas penso no que se passará aqui ao virar da esquina a uns quantos desempregados e como se sentem as pessoas, um povo dependente!!!

Esta coisa tem gaitas...

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Descubra as sete diferenças


Os marinheiros estão desejosos de chegar e logo de partir, dizem.

Diz-se que são, inconformados de olhos desfocados em busca de novos cenários para aventuras de fazer gelar o sangue ao mais valente; de trazer até à amurada as fauces de monstros saídos das profundezas; dizem mesmo que depois de uns quantos Gins ou Runs fecham ainda mais a alma enquanto vão soltando a língua e abrindo a boca de espanto a quem os oiça e compreenda. Nessas ocasiões veem à ribalta sereias de cabelos dourados cantando em timbre de harpa, selvagens tatuados rangendo dentes e brandindo facas descomunais; por vezes, baixando a voz, até falam de dobrões d’oiro, diamantes, esmeraldas e rubis, dentro de baús de grosso ferro, enterrados à sombra de três palmeiras de uma ilha deserta no meio dum mar imenso.

Na verdade nunca ouvi marinheiro em discurso directo mas, um amigo que foge para tudo quanto é porto e doca jurou-me que é errado falar assim de marinheiros. Tornou evidente que, tal como as marés e os pôr-do-sol, não há dois marinheiros iguais.
Contudo, disse ele, numa coisa em particular são todinhos iguais – no desejo de possuírem embarcação própria para capitanear. Contou aliás que os dois dias mais felizes de um marinheiro são: o primeiro, o da compra do batel e o segundo quando se desfazem dele, por um pataco que seja...

Esta coisa tem gaitas!!! Afinal os marinheiros são como os meninos e os brinquedos novos; aliás são como os homens e as namoradas, né?

terça-feira, 5 de junho de 2012

Desconfianças


Não sei se foi mesmo a sério ou a brincar mas... eu desconfio.

Pois bem, amigo puxa amiga e dei com este comentário no “Face” cujo autor, por questões de pudor recuso identificar.

..."mesmo acerio foi uma grande festas ate fizemos chorar a alexandra por isso temos de ter grandes qualidades... ahahahah"

Poupem-me os defensores de telebs e, ou, os cruzados do (des)acordo ortográfico mas, carago, O REI VAI NUZINHO!!!!

O chavaleco supracitado é um irresponsável pelo acto, sem ser necessariamente mentecapto. Atrevo-me a dizer mais: por cada calinada que o "jove" dá, deveria ser indemnizado leoninamente, aplicando os critérios que o estado utiliza nas negociações com as PPP's.

A talhe de foice e, acreditem se quiserem, cá no burgo há uma professora de português do 3º ciclo que corrige "estavam" para, valham-na todos os do Olimpo "estavão" e "sentisse" para "senti-se". É obra, né?

, obra,  é o facto do encarregado de educação (EE) que me deu conta disto, ser, por acaso, também professor, mas... obra mesmo, é nada fazer. E porquê? Não é por qualquer tipo de atitude corporativista, nã senhori, é por ter medo das consequências que pudessem daí advir se tratasse devidamente do assunto! - Onde estavas tu no 25 de Abril? (perguntaria BB)- 
Cá o Lorpa , por parte do pai, entende que o Sr EE se está a furtar a um elementar dever de cidadania, no mínimo.... Os pais dos outros menino que corrijam devidamente a indevida correcção, pensarão vocencias. E, já agora: e se algum menino tiver um EE que não saiba corrigir ou não acompanhe devida milimétricamente o educando? Paciência, né?

Esta coisa tem gaitas!!!

Em verdade, verdade vos digo que, pelos vistos, é mais fácil entrar um camelo pelo buraco d'uma agulha do que , “acerio”, o ensino rumar a bom porto.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Bla-bla-blá

É tudo uma questão de princípios; sopram-me ao ouvido com voz doce e, antes, no mesmo tom me disseram que no princípio era o Verbo.
Em tudo acreditei, mesmo quando me parecia que a bota não acertava na perdigota! Ás vezes, quando começava a estrebuchar um bocadinho, a Sra. Professora e catequista, célere conectava-me à terra fazendo enter no dogma da fé.

Olhando por cima do ombro, vejo uma catrefada de Verbos bem entrincheirados, ao serviço: da família, de nacionalismos, clubismos, senhoras flutuando sobre oliveiras, internacionalismos bolorentos, sei lá... chega de “fezadas”.

Confesso que a fé, quando dá jeito, muito facilmente é adoptada. No principio da CEE, quando o princípio, para além do Verbo era a VERBA, afadigávamo-nos a calar os Velhos-do-Restelo que uivavam aos quatro ventos: Essa história do Rei Midas não passa de mito, olhem que a tocarem em tanta fartura ainda desfazem o fígado e acabam na merda.

Mas o princípio da VERBA era forte e o pessoal em festa cantarolava docemente: Já fui ao Brasil... dando azo a deixa para ai és?
-Ai é? E eu a Cuba...
- Ai é? E eu às Honduras...
- Ai é? E eu aos States...
Assim por diante, ufano, cada um vangloriava-se da aplicação dos créditos bancários. Só não aguentei quando um primo afastado me disse que tinha passado quinze dias enfiado nas PIPIS!!!

Bom, se a festa ía boa pó pagode, imaginem as elites abrindo e fechando empresas para aplicação dos fundos comunitários... E os governantes, do central ao local? Gandas bombas topo de gama por aí a acelerar com batedores “abrir” caminho: Uhéeee, ninoni!
Tá claro que para tanta máquina aconselhava o bom senso que se construíssem auto-estradas, umas ao lado das outras servindo as preferências por paisagens marítimas ou mais bucólicas.

E agora, estamos no fim, o que será o princípio d’alguma coisa né?
Verbo ou VERBA? Venha o mafarrico e escolha qu’esta merda tem gaitas!

sábado, 2 de junho de 2012

Gaitas


O Ti Alfredo Coelho já lá vai há muito tempo, descanse em paz.
Atacava com o mesmo a vontade e dedicação tractor agrícola, sachs e zundaps, motores de regas e tudo o mais que metesse bielas e cambotas, isto “pa nã” falar de frigoríficos a petróleo ou chocadeiras.
Era o que se pode chamar à semelhança dos médicos: “MECÂNICO GENERALISTA” (ou, como se usa hoje: DE FAMÍLIA), assim deveria constar no portão de sua garagem se tal fosse necessário...

Estou a vê-lo metido dentro do fato de macaco que daria pelo menos para duas lebres -Muito macaco sobrava ao Coelho! Revelando de falhas no marfim que a idade somara aos chupa-chupas da meninice estou a ver risos abertos, emoldurados num rosto seco e rudemente talhado sob uma cabeleira farta, negra e crespa que nem camadas de brilhantina punham na ordem.

Ti Alfredo, generosamente, não se negava a nada deitando mão a tudo e a todos que procurassem os seus serviços. Só não era generosos com uma pessoa – consigo próprio, pois, na hora do quanto é, coçava a gadelha torcia-se um pouco e a conta, sempre a mesma:
-Olha´, pá próxima... pagas tudo junto,

Como se vê não era homem para fazer mal a quem quer que fosse, tirando as porraditas que dava á mulher quando o Sporting perdia e o copito tinha ido para além da conta. Como o fato de macaco, era um grande homem enfiado em corpo pequeno, de simplicidade despreocupada que a terceira classe dotara de muita sabedoria e cuja alma tinha mais alminhas que o purgatório: ele era a alminha de artista, cantador de fados canalhas, era o desportista, ás do pedal e do jogo da malha; ele era o revolucionário distribuidor d’Avantes dando o corpo pela jornada de oito horas de trabalho, ele era o filósofo que meditava, meditava e, não encontrando solução para a questão, invariavelmente, rematava:
-Esta coisa tem gaitas!!!

Pois’é Alfredo, acreditas que não me lembro da cor dos teus olhos? Esta coisa tem mesmo gaitas!