domingo, 19 de dezembro de 2010

Visão de cotas...

Eu sou um macho-man latino, fruto do meio em que fui parido; porque rejeitei muitos dos seus valores, imperfeito me confesso.

Dentro das lutas pela igualdade, as mulheres obtiveram na nossa sociedade muitos êxitos, a forma de os conseguir deve-se principalmente a elas próprias.

O meu principal defeito é o de aceitar como princípio, irredutível, a igualdade; não admito sequer que tal seja um direito.

Na construção de uma sociedade igualitária foi introduzido o sistema das cotas mas tal não é necessariamente a solução para o mal. Se uma sociedade patriarcal ceder a cadeira a uns quantos rostos femininos, as mulheres por eles representadas é bom que estejam atentas, não vá dar-se o caso de as suas representantes serem afinal, mais umas marionetas escolhidas para enfeitar a ribalta, por darem garantias...

domingo, 12 de dezembro de 2010

Ai a crise... III

Fechou o ar e deu ao arranque uma duas vezes, o motor tossia cavo, mas negava-se. Esta trampa ainda se afoga, pensou fechando o ar, sem acelerador fez um compasso de espera olhando o alto numa prece muda, e deu à chave. Como milagre o velho 126 cooperante exalou uma densa nuvem de fumo. Engatou a primeira e lá se fez Juvenal ao banho de multidão, direito ao Prior Velho. No para-arranca foi fazendo contas à vida: Se lhe pagassem metade do subsídio de natal mais as, inesperadas, horas extraordinárias que a patroa lhe impusera, talvez pudesse comprar a mala que Marta vira.
-Bonita mala! Estes tipos fazem promoções interessantes.
-Qual delas? – para parecer interessado.
-Aquela, castanho avermelhado.
-Ah! É gira, é. Tem um “calfo” lindíssimo.
-Querias... Pelo preço é uma boa imitação.

Chegou à oficina e preparou-se para levar com as trombas da patroa, vestiu a bata dirigiu-se à bancada e cumprimentou os colegas que já buliam.
-Juvenal, chegue aqui.
-Já vais levá-las...
Olhou para o colega, espetou-lhe o dedo dissimuladamente, e lá foi para o chá.
-Desculpe o atraso dona...
-Não faz mal, saíste tarde e eu sei com’é o transito.
Juvenal olhou para a patroa desconfiado.
-Esta noite acabamos a conferência?
Juvenal sabia que não era propriamente uma pergunta.
-Está bem, dona Angelina.

A conta do telefone por pagar, tinha maneira de avisar lá para casa, Foi a preocupação que se sobrepôs às contas ao dinheirinho.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Ai a crise II

Manhã cedo Juvenal acordou com o bater de panelas, cambaleante dirigiu-se à cozinha dando de caras com umas olheiras acusadoras.

-Bom dia...

-Tu nem me fales...

-Oh Marta...

-Deixa-me, sacana de mulherengo.

-Oh filha, estive a trabalhar, sempre te fui fiel.

-Tretas, é o que é. Fiel? Só se for da parte do teu pai... FIEL!!!

-Lá porque lhe puseram essa alcunha não me xingues, tá?

-Ah é? Chegas tarde e nem avisas?

-Mas como? Não sabes que temos o telefone cortado por falta de pagamento?

-Olha a lata. Só para me gozares é que me vens com essa do fiel.

Lá para o lado do Mercado do Rato era conhecido por Fiel, dizem uns que pelos olhos seguirem o movimento do dito até este parar sempre inclinado a favor do prato do cliente. -Aqui estão bem aviadinhos... era a fase que precedia a transferência de mercadoria. Outros diziam que Juvenal I, para o distinguir de Juvenal, não queria saber do fiel para nada e que o movimento dos olhos, à laia de limpa pára-brisas, se devia ao controle das duas colegas: Marina, concorrente directa na área dos frescos, campeã de coxas e rabo roliço e mais adiante, Rosinha, afamada pelo seus pregões mas muito mais conhecida por um par de seios invejáveis que fariam, pelo menos, duas mulheres felizes...

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ai a crise...


Horácio, por necessidade de conquista de novos mercados, volta e meia caía fora. Na fábrica, Angelina pulava do escritório para controlar as linhas de produção, embalagem e despachava competentemente toda a mercadoria. Em época de crise a pequena empresa valia-se desta simbiose familiar, se preciso,cada um à sua.
-Voltas hoje, querido.
-Oh filha, bem me apetecia, mas deram-me um contacto em Braga que não posso perder. Conta comigo só depois de amanhã, talvez...
-Fazes bem meu amor.

Noite dentro Horácio, no meio de fumarada, risinhos e umas quantas bebidas, desunhava-se para apalavrar uma encomenda de fechaduras e outros acessórios para portas mas o galego prestava mais atenção a convenções linguísticas luso-brasileiras. Angelina por outro lado, negava a máxima -patrão fora noite santa na loja. Decretara horas extraordinárias para conferência de stocks. Em tempo de crise, umas horas extra a juntar ao meio subsídio de natal não deixaram Juvenal fazer-se rogado.

-A estas horas?
-Pois, o serão deu pó tarde.
-Olha para a minha testa, vez algum “H”?
-“H”?
-Sim “H” de OTÁRIA.
-Vamos é dormir, e deitou-se.
Ela, de supetão, puxou os lençóis para o seu lado e de um pulo virou-lhe o cu, deixando-o destapado de corpo e alma.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Verdade II


Wikileaks é infernal e traz a lume factos inconvenientes e perigosos, divulgando documentos confidenciais ou até mesmo desclassificados que "indiciam" actos pouco abonatórios à luz da ética e princípios democráticos, ou convencionados na cartilha dos direitos humanos.

Assange é o perfeito demónio, como bom demónio, voluptuoso, perseguido pela justiça sob a acusação de um ato de coerção, dois actos de agressão sexual e um de violação, está engavetado no reino de Sua Magestade Elisabeth II. Será hoje presente a um juiz no tribunal de magistrados de Westminster perto das 14h (locais e em Lisboa)...

Para o bem e para o mal, quando é preciso, faz-se justiça por linhas tortas: Alcapone, não respondeu pelo massacre de S. Valentim mas foi detido e condenado por fuga ao fisco. Assange responderá pelo uso que faz da pila. E os massacres, ficarão impunes?

Cheira-me a que podemos finalmente encostar a cabeça ao travesseiro e dormir sonos tranquilos, alheados de pesadelos demoníacos.

Durmam meus filhos porque o papão foi embora...

A verdade existe e não me parece que seja elástica, como a pastilha.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Preparados?


Quando o homem quer...

É Natal, é Natal...
Por inspiração da minha divina Maria

Confiança

Não é negociável.

sábado, 27 de novembro de 2010

Verdade

A verdade existe e não me parece que seja elástica, como a pastilha.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Burrice

Pode-se dizer que uma pessoa é burra de muitas formas: sussurrando ou até gritando, não importa como porque o grau de burrice não depende da veemência com que tal é afirmado, né?


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Algo vai mal


Exmo. Sr. Engº,

Dirijo-me a V. Exa para o fazer notar, se por acaso ainda não deu por isso, que algo vai mal no reino.
V. Exa, que subiu a vida a pulso, tem toda a razão quando apela ao esforço de todos nós para que possamos sair da crise que nos surpreendeu e a V. Exa. certamente em primeiríssima mão, fazendo desabar o seu sonho lindo de nos poder oferecer o éden na terra.
Lamento por si e por mim a desgraça que nos assola. Serve-me de conforto, mas de pouca dura, as suas veementes promessas. Cerro os dentes a cada uma das palavras de incentivo que nos dirige: exigência, excelência, empenho, honestidade, seriedade, competência, solidariedade, eu sei lá que mais...
Fiquemo-nos pela primeira: EXIGENCIA.
Temos um ensino exigente? Aparentemente sim. Se nos centrarmos nas médias exigidas para entrar em faculdades como a de medicina ou a de arquitectura, obrigatoriamente se conclui que temos um ensino exigente. Pode seguidamente concluir-se que o ensino é um sucesso pois a catadupa de médias superiores a dezoito-virgula-tal valores é às centenas! Deve-se este facto à massificação do ensino? É sabido que in illo tempore um catorze dava direito a quadro de honra e dezasseis olála, upa upa, dispensava-se de exame...
Sem querer assumir o papel simplório de dizer que o rei vai nu, peço em nome da seriedade que os nossos doutores da ciência da educação olhem com honestidade para este problema com vista a atingirmos um ensino de excelência. Abandonemos por favor a ideia do quanto mais melhor. Programas extensos cumpridos virtualmente não servem para nada, melhor, servem para nos afastar da competência, rompem com a possibilidade de se alcançar a eexcelência, não fomentam o empenho,.
A honestidade, não se pode confundir com a esmola da atribuição de certificações. O dinheiro despendido com formações profissionais, e certificações de competências nunca é demasiado mas excessivo se for para CEE ver. Quando mal orientado é crime lesa pátria do qual os responsáveis deverão responder civil e criminalmente. Não acha, V. Exa.?
Porque é que o nosso reino do ensino está mal? Porque tem professores com medo de ser avaliados pelo insucesso dos alunos, porque perderam autoridade, porque são formados em cursos de farinha amparo, porque não aproveitam os recursos que têm e por serem calaceirões, porque albardam o burro à vontade do dono?
Podemos carpir, queixarmo-nos da má sorte de ter sido atingidos por ventos que sopram d’alem fronteiras, vilipendiar especuladores mas não nos podemos esquecer que estamos em crise económica e financeira.
Podemos com medidas draconianas que prensam até ao tutano as nossas famílias, equilibrar o orçamento de estado mas só sairemos duma crise que é estrutural se deixarmos de assobiar para o lado; quando a Sra. Ministra da educação, que merece a confiança de V. Exa., ouvir com humildade, sem gargalhar, quando lhe são feitas sugestões; quando dez valer dez, não mais.
V. Exa. que neste momento é minoritariamente poderoso, politicamente falando claro, esteja atento ao poder que detém e não se esqueça que a ele advém, não da ocupação de lugares do aparelho do estado mas sim de um somatório de boletins de voto que V: Exa. obteve com um programa eleitoral por cumprir.
Uma vez que V. Exa. é reincidente nas provas dadas e confessa que se submeteu a plebiscito sem saber da matéria que tem de tratar, Sua Exa. o mais alto magistrado da nação, na minha modesta opinião, tem sido pouco EXIGENTE e pedagogicamente tolerante em demasia pois já deveria ter amavelmente indicado a V. Exa. a saída de emergência, afinal a sída para a crise.

De V. Exa,
Atenciosamente

Erecteu Lorpa
(da parte da mãe e do pai, respectivamente)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O verso e o universo


Se descobriram um planeta com dobro da massa da terra, que ele possa conter água e vida, que ele fique a vinte ou a vinte milhões de anos-luz...






A métrica do poeta está certa, a rima atina no primeiro com o terceiro?




Se é olho ou fechadura, o casario é de lata ou pertence a gente da mais pura nata, a moldura, se existe, é ou não ultrapassada...








Micro chips, quarks e toda a massa negra por descobrir arredem lá para trás que ela diz que me quer ver, o resto que me importa?

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Toca a todos

Vá-se lá saber porquê mas veio-me hoje à memória aquele dia longínquo em que, andava eu mais a maluca da Afrodite e dei com Zeus especado lá no alto do Olimpo, a uns bons 9.570 pés d’altitude, para ser mais preciso: 40° 3′ N; 22° 21′ E.

Nariz apontado ao sol que se punha lá para os lados da Ítaca, vi-o resmungando nos seus velhos trejeitos de velho, em pose pouco abonatória para a sua condição de rei dos deuses. Receoso colei-me à sombra de um penhasco e decidi dar à sola não fosse o cavalheiro, só para alívio do seu estado de espírito, descarregar algum raio como acontecera ao pobre Apolo que viu a sua beleza maculada, para sempre, ao ser atingido nas partes podengas deixando-o marcado pelo estigma de abrilhantar um testículo subido, como aliás se pode constatar nas diversas representações do coitado.
Foi um triste dia; fim de festa que decorria tão animada sem nada lhe faltar pois farra onde Dionísio metesse o dedo era sucexo garantido que nem Baco alguma vez se lhe assomou aos calcanhares.

Pensava eu ter escapado quando, minha mãe Geia m’acuda, o céu se iluminou e aos meus pobres tímpanos chegou tremendo arroto trovejante:
-Quod vadis?
Estaquei, se rabo tivesse entre as pernas estaria com toda a certeza, balbuciei: Quo quê? !!!
–Qual é a tua meu?
-Há!
-Então já nem se dá vaia?
A coisa estava a compor-se, mal por mal prefiro a sua bipolaridade, à esquizofrenia...
–Por quem sois, só não queria incomodar os teus pensamentos...
Largou um muxoxo à laia de sorriso, e convidou: -Puxa d’um calhau e senta-te aqui.
Que remédio... lá se ia a colheita d’azeitona pó galheiro! Fiz um sinal à Afroditinha pedindo um minutinho mas a cabrona virou-me as costas e lá se foi meneando as anquinhas.

O sol a pôr-se, a estrela do pastor a vir-se e o gajo... moita carrasco, qu’é como quem diz, pois lá voltou às falas com os botões ainda por inventar! De rompante:
-Olha estou a pensar em deslocalizar esta merda.
- Deslocaquê?!!!
-Bazar d’aqui pa fora, homem! Fazemos as malas e ala p’á itálica.
Cá pa mim o gajo nã podia, memo, soprar o balão!
-Eréchtheion, isto está pela hora da morte, já ninguém nos dá crédito e não tarda nada temos o FMI à perna, já tenho quase tudo hipotecado só me resta o monte...
-Qual monte?
-O Parnasso, qual havia de ser. Prepara-te, e diz à tua malta para fazer as malas.
-Tá bem tu mandas, Zeus.
-Olha a partir d’agora tratas-me por Júpiter, tá?

domingo, 19 de setembro de 2010

Ai a porra!

Da arte ao amor, gostar não chega sem que nos perguntem porquê. De outra forma, não importa quem, de Kandinski a Rohtko, especialmente se o figurativo não está presente lá vem a “inquirisição”:

Mas... O que é que vês nessa merda?






Rothko largely abandoned conventional titles in 1947, sometimes resorting to numbers or colors in order to distinguish one work from another. The artist also now resisted explaining the meaning of his work. "Silence is so accurate," he said, fearing that words would only paralyze the viewer's mind and imagination.




Mark Rothko, Untitled,1949, National Gallery of Art, Gift of The Mark Rothko Foundation, Inc., 1986.43.138







Vá-se lá saber porquê, geralmente, não se pedem explicações no que toca ao comer – gosto de borrego ou, não gosto e é quanto baste, sem que nos atazanem mais a cabeça.

Por esta razão cada vez gosto mais do comer, de facto é popularmente sabido que na “cuzinha” é um descanso.

Não chega gostar?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Para memória futura

Em boa hora fui kuskar Lusofolia e...


saber nã ocupa lugar, né?

sábado, 28 de agosto de 2010

Se não existisse teria que ser inventado

Omnipotente, debitando mais cavalos que um Ferrari e um Porsche juntos; Omnipresente deixando o Bip-Bip a léguas, Omnisciente ofuscando Sócrates...


Primeiro moldou no barro o homem à sua imagem e semelhança entregando-lhe o paraíso, depois. porque se entediava, a partir de uma costela deu-lhe a mulher e, pedagogicamente, advertiu-o de que não deveria tocar no fruto apetitoso... Foi o bastante para receber quase de imediato uma acção de despejo desterrando-o para a terra onde crescemos e nos multiplicamos sujeitos à dor para aprendermos a não sermos lambões.

Na sua infinita bondade desceu à terra para nos redimir do pecado original que com o tempo foi evoluindo acrescentando à pouca original posição do missionário nuances bem mais divertidas, na minha modesta opinião.

É impossível um mundo sem deuses. A quem atribuir a culpa das catástrofes que se abatem sobre nós? Como explicar eclipses, chuvas de sapos, coriscos ribombantes, o escapar in extremi às garras de um felino ou o simples desabrochar de uma flor, se não a Ele ou a eles, consoante o fuso horário de que se trate?

Se para uns nos vale o “ai Jesus”, para outros o Salvador ainda está para se vir não passando o presumível Filho de um arauta profético. Quem tem razão não sei mas não custa nada ficar cada um com a sua e deixarem-se de merdas quezilentas e muito menos de andarem à lambada por coisa de pormenor. Culturas e as suas derivadas crenças podiam muito bem coexistir em paz na terra, fossemos nós homens de boa vontade e menos picuinhas.

Se uns com o tempo deram a volta ao véu, não será de esperar sentado à espera que a moda das burkas passe? Basta lembrarem-se daquela do fruto mais apetecido, sim o tal originalmente proibido e que hoje consumimos, à fartazana, com ou sem casca...

Mutilações e subserviências, cada um toma as que quer e deixemo-nos de paternalismos porque crenças são afinal querenças, né? Não? Temos o dever de proteger os menos esclarecidos, tá beeeem!...

Pronto vamo-nos a eles e pespeguemos-lhe os devidos correctivos acabaram-se as Excisões e a népia de burkas e outras tretas quejandas, “mai nada”... pó camano, quem aceitar fica quem não quiser vai desta para melhor, geograficamente falando, claro.

Já agora aproveita-se a ocasião e convertem-se todos em bons chefes de família, tá?

Viv’ó Benfica.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

felicidade


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Para que promessas incumpridas não fiquem por celebrar, sugiro que façam as adaptações que considerem pertinentes a esta magnífica canção, nesta versão atrevidamente erudita...


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O primeiro nunca se esquece

A ordem de comando, denunciando irritação de noite mal dormida, se dormida veio cava e rouca: -OUTRO...

Não importava quem, alto ou baixo, magro ou gordo, loiro ou moreno

-OUTRO, Nnnnnão ouviram? Se o primeiro outro pusera em marcha todo o serviço de apoio que se resumia a uma míope que não fazia inveja a uma petinga seca, fará a um carapau, o segundo, acrescido Nnnnnão puseram a senhora a bater as socas de madeira em passo de corrida acelerado.

-Entrem, entrem disse assistente multifunções, contorcendo-se, com a expressões de quem quer ir à casinha de banho.

Pela mão de minha mãe entrei; no meio de um cenário no mínimo estranho, pelos objectos estranhos que não prenunciavam nada de promissor mas sobretudo pelos cheiros dei; com ele de costas oferecendo à vista um pescoço de rodes sobressaindo de uma bata pretensamente branca

-Sente-o. o homem não falava, comandava.

Com as devidas ajudas lá amarinhei cadeira acima e me instalei desconfortavelmente naquela imensidão sem saber onde pôr os braços face ao desajuste ergonómico.: Enorme, tez morena, nariz achatado semeado de pelos, manápulas de onde saíam umas excrescências travestidas de dedos, avançando para mim pôs-me de boca aberta que nem foi preciso receber instruções complementares. Sentando-se a minha frente foi pegando em objectos: espelhinhos percorriam-me todo por dentro enquanto ele fazia uns “hunms”, chegou a vez de uma espécie de anzolinho que ora percutia ora ia escarafunchando até que dei, simultaneamente, um salto e um urro.

-Assim não posso trabalhar, foi o bastante para a mutifunções me manietar; face ao insucesso... entrou minha mãe na lide não me restando outra hipótese do que recorrer, em legítima defesa, ao espernear face ao ataque de um sinistro aparelho do tempo dos discos de 45 rpm que zumbia e agia como martelo pneumático.

-Traga o lençol raios...

E foi assim que me sacaram o primeiro dente, pelos vistos com processos que nem eram exclusivos do Dr, Qualquer coisa de Matos, ex- boxeur, jogador inveterado em noites longas no Automóvel Clube.

Com agradecimentos ao Abílio que me enviou esta foto, amigocom quem partilho afinal mais padecimentos passados do que ele imagina.

domingo, 22 de agosto de 2010

Feitio

Quem não o tem? “Do marisco à bifana, há de tudo.” – como diz o mê Paulinho da Vila, nome que lhe ficou embora o burgo tenha sido promovido a cidade.

São feitios. Diz-se com condescendência mas sempre acompanhado de um franzir de qualquer coisa. Mas, cá pó je e para nous, que ninguém nos lê, o dele é tramado. Teso com’é, mais fácil cede dinheiro do que passagem se lha quiserem forçar; é o seu espírito, feitio, de contradição que não o deixa ver ninguém à rasca sem que lhe valha, ou que mete velhinha na linha, se dissimulada se faz à caixa do Mini, não fora isso e outra galinha cantaria: -Faz favor minha senhora, passe lá, tem tão pouca coisa e eu tanto tempo tenho...

Quem bem o tope, como eu, se o gajo se esforçasse mais um bocadinho até lhe poderia ser atribuído o diploma de bi ou até mesmo de tri-polar. Mas na verdade vos digo que o cabrão não é mau tipo, pecando só por ser um pouco, demais, naif levando a vida demasiado a sério.

Há uns tempos comecei a vê-lo macambúzio, nã lhe via ameaça de saltar um dentinho com as suas piadinhas, joco-irónicas com que brinda os mais próximos... - Olá, pensei eu pó meu fêxecler, a depressão dos Açores deslocou-se pó Bº do Castelo.

-Então Martírio –é o nome qu’herdou da mãe- como vai isso?

-Hã...

-Vá lá, desembuxa, diss’eu, a medo.

-Tou chateado. E o sacana não desenvolvia, parecia uma carripana movida a gasoil low-cost.

-Tás chateado porquê?

-Estou preocupado, disseram-me que tenho um feitio do caralho, não acho justo.

-Não ligues Martírio.

-Se calhar, até têm razão e agora percebo porque me chamam judeu.

-...?

-Sim, tenho espelhos em casa, chamam-me judeu e desde que me disseram que tenho um feitio do caralho comecei olhar-me melhor. É uma porra ter uma cabeça com um feitio do caralho e não ter prepúcio.

sábado, 21 de agosto de 2010

Peace ao Quadrado


Composition:

“Peace is in the waves at sea. Peace must begin with you and me!”
- Student, Gander Middle School, Gander, Newfoundland, Canada

“Why destroy when we could create, Keep the peace, erase the hate.”
- Normal Community West High School, Normal, IL, US





(des)Composição:

.roubada d'aqui


Já começo a ficar farto desta merda, men, I wich piss all over the world

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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ippon


Era uma vez... e fujam que lá vem história, né seus trastes?


Já não se lembram, meus, do tempo em que os bichos não liam... até arregalavam os olhos em cada pausa metida a tempo certo, ou em arrastar de frase colocada no registo dos graves, dos protestos de quando o final ficava para o dia seguinte ou, quando curta suplicavam – vozinha, conta lá mais uma, conta...

Mais tarde as histórias foram outras. Acho que, lá pela quarta, comecei a meter-me na vida de uns fidalgotes franceses que acabaram enrolados com uma Tareja e uma Urraca e a partir daí foi uma coboiada, ora contra moiros ora contra castelhanos, varríamos tudo à rambada, digo, à lambada. É verdade que a par foram entrando o Buck Rogers, Kit Carson e à socapa do bando mais alargado, os mais íntimos trocavam Mickeys e Donalds, enfim concessões a gostos mais de meninas.

Mais tarde a coisa piou mais fino e afinfaram-nos com melodramas de Diniz, dramas de Herculano mas aquilo que eu gostaria de ter lido era mesmo aquele em que o herói era um padre, acho que de nome Amaro, mas esse era mais difícil de arranjar do que aquele cromo que não deixava acabar a colecção; mudei de colégio várias vezes mas ou não tinham ou não podia ser requisitado, coisas da vida... mas acho que um dia ainda pego nele.

Depois, depois passamos a fazer histórias; umas de amor outras cómicas, outras ainda tristes, essa deveriam começar por: “Once ipon a time...” especialmente as que acabam, connosco a lamber feridas, sem forças para praguejar.

Ippon Seoi nage, ou melhor ippon sayonara.

Ippon é um termo japonês comum no judô. Pontuação utilizada em competições de judô, atribuída quando um golpe, desferido de forma correta, resulta na projeção do oponente, com queda, desde que este fique com as costas por completo no tatame Com esta pontuação a luta termina, podendo assim a luta resolver-se em um único golpe. Este pode igualmente ser atribuído em caso de imobilizações, dentro do tempo regulamentado, desistência do adversário em caso de chaves, de estrangulamento, e em resultado de dois wazari.



quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Estou encantado

.


Vocês sabem lá, contado ninguém acredita, só vos conto a vocês porque sabem que sou pessoa séria, puro, purinho.


Atão não é que ontem acordei encantado?

Sorte, dirão vocês, mas não, já viram o qu’é uma pessoa deitar-se como sempre e acordar transformado em príncipe? É verdade que daria jeito a muita gente mas vejam lá a pouca sorte que havia logo de ter, ao invés dos das histórias, esbelto e formoso, não é que sou um canastrão? Bom, não me imaginem logo um Schreck, sou até mais bem apresentável que o do Mónaco: tenho mais cabelo, sou mais desenrascado e não, passe a publicidade, ressono tanto e dou pulos na cama, isso posso garantir-vos que a minha senhora me disse que lhe tinha dado uma noitinha santa. Vá lá... príncipe e com massa a vida não me há-de correr mal, julgam vocês né?

Vá lá uma porra, nã lhe contem, mas estou enrascado, atão não é que tinha uma escapadinha apalavrada com a Dra. Noémia, jurista acessora do vereador da Cultura da Cambra? E agora com’é que vai ser, com’é ca convenço que eu sou eu? Azar do camandro tudo já tão acertadinho! Íbis de Portimão reservado e pré pago, carro alugado e fornecido de viagra, não fosse o diabo tecê-las, porque já dizia o padre Cron “água benta e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Com’é agora chego ali às bombas da Galp, como combinado, e digo entra, bute pá bagnole e ela sem mais entra, é? Entra o caraças, ainda pensa mas’é que sou algum detective privado que o manso do marido, administrador da TELÉLE - EP lhe lançou às canelas.

Telefona-lhe primeiro disse-me o mê gand’amigo Abílio das finanças, cusca de primeira mas que eu tenho curto pela arreata pois se ele deu comigo mais a doutora na Mata do Guizo, por sorte minha trazia agachada no carro a sonsinha da Libélula, professora e diácona catequista em rgime pós-laboral.

O Abílio ou é parvo ou estava a ver se eu fazia a espargata; quem não sabe que os telemóveis só não apanham gente graúda e ainda assim porque os investigadores e outros curadores gerais podem menos que a rainha d’Inglaterra? Fiz-me de mula e deixei passar a conversa da treta, - o Feio esteja lá em paz onde quer que esteja, embora que, com ele lá, aquilo deva estar em polvorosa, pior que a 25 de Abril em final de mês de férias; se do céu se tratar, que os deuses protejam Deus que o imagino dobrado de riso, com dores maiores que as de pedra em rim.

Não há volta a dar, de qualquer forma, se a figura se me avantajou, em proporção inversa os tomates minguaram de tal forma que fariam os tomatinhos-cereja da minha amiga Jaquina, rebolarem de gozo se vissem o estado da minha pobre horta: mato não lhe falta mas os legumes coitados... fossem peixe e não passavam, de certeza, na lota tal é o seu tamanhinho.

Colhei a lição: tou bem encantado mas não m’alegro.

-Erecteu acorda, tens qu’ir ao pão e vai de me pespegar um safanão, a minha senhora. Despertei de supetão, nem resmunguei, agarrei-me aos tomates e agradeci aos deuses e rogando-lhes que o meu sonho de criança nunca se venha a cumprir.

d'aqui


The moment I wake up
Before I put on my makeup
I say a little prayer for you
While combing my hair now
And wondering what dress to wear now
I say a little prayer for you

Forever and ever
You´ll stay in my heart
And I will love you
Forever and ever
We never will part
Oh how I´ll love you
Together, forever
That´s how it will be
To live without you
Would only mean heartbreak for me

I run for the bus dear
While riding it I think of us dear
I say a little prayer for you
At work I just take time
And all through my coffe break time
I say a little prayer for you

Forever and ever...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Marmelar

Mas quem é que nã gosta de marmelar? Só quem não provou, claro! Marmelar é bom, e quem vo-lo diz sabe, imodestamente, do que fala.


Marmelar é já ali, para uns no cu de judas, é verdade, mas isso é relativo porque o cu sempre há-de ficar perto de alguma coisa, mais palmo, menos palmo. Cá para este vosso humilde, humilíssimo, humildessissimo até serviçal, Marmelar, dizia, fica a partir d’ontem a um palmito do meu coração e tenham em consideração que não sou homem de mãos largas nem de vistas grossas, juro-vos. A falar verdade, cousa que muito prezo, ainda que muito me custe e de que maneira, entrei por um lado, dei a volta à igreja e saí por outro, ah! Fiz uma paragenzita, pelo meio, na da Tereza Joaquina e já agora, precavendo, da do Paulo e do João, gente quentinha, como pão saído do forno, não desfazendo em V. Exas.
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Mas porqu’é qu’um cristão, não praticante, se mete ao caminho para destino desconhecido? Olhem, asseguro-vos que nã tenho vocação de Marco Pólo e se nã fora o Gerinho desinquietar-me não tinha passado pela Vidiguêra –Alô Vidigueira- para ver uma exposição da, ou do, Homocenter, que... nã comento, que, dizia, não tinha enfim, Marmelado, entenda-se: devassado uma casa tranquilamente vivida e trabalhada, não teria matado a fome a saudade esquecida, não teria comido melão disputado naco a naco, queijos de amolecer na boca, nao me teria inebriegado com bom vinho e amizade, não teria risos... e, por isso, marmelar é bom. Visitar o Alqueva, também; lavam-se os olhos na paisagem desenrolada por estradas que serpenteiam colinas, branqueia-se a alma.
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Depois, a noite cai e volta-se sem revoltas, com promessas muitas de até 30.
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WEHAVEKAOSINTHEGARDEN: Super-bactéria já em Portugal

WEHAVEKAOSINTHEGARDEN: Super-bactéria já em Portugal:
"Li a noticia que a Super-bactéria já foi encontrada em Portugal. Fiquei surpreendido porque pensava que já por cá nadava a contaminar o pa..."

Quando uma pandemia se vai há outra que se vem... em defesa da economia de mercado; o que seria da procura sem oferta?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

very britishly & polish

Têm por hábito, circunstancialmente, os britânicos falarem do tempo quando mais nada de substante ocorre.


Pois bem, hoje está um magnífico dia.

Pois está, retorquiria o interlucutor, very britishly & polish.

A minha alma lusa perante factos e sem argumentos, diria que ficaria parva e, complicada como é, pôr-se-ia a lucubrar se estaria um magnifico tempo para ocupar soldadinhos de fogo, secar o tomatal, aquecer a pele prenunciando uma corrida aos dermatologistas com direccionamento para o IPO ou se simplesmente os subidtos de sua majestade quereriam dizer que faz sol. Não sei nem me ocorre ir perguntar, lá longe, à entronada Elisabeth. Mas, pensando bem, poderíamos perguntar ao PGR que, segundo opinião sua, dele, se sente com poderes similares aos seus, dela.

But... porque não investigar? Consulte-se o tempo, AccuWeather.

Oh diabos! Estamos a ser invadidos por uma onda laranja e se nos ativermos exclusivamente a Portugal podemos apercebemo-nos de um triangulo vermelho de base irregular!

Não sabendo lidar com búzios nem ossinhos, estando a Maia de férias, não vos restam outras altenativas se não dar corda aos miolos ou auscultarem o Professor Erecteu, formado na escola da vida em para-psico-tudo-e-mais-alguma-coisiologia.

Oiçam pois a reportagem da Cêéneéne:

-Bom dia prof, queríamos...

-Já sê, saber como tá o tempo, né? Tá maravilhoso.

-E...

-Que vêja esse papeli, né? Nã preciso de veri, nem preciso de concentrar-mi. É o mapa de portugali onde está anexo uma futura nossa, província.

-Mas professor...

-O triangulo? Oh homi, qual triangulo, qual carapuça, aquilo é mas’é um losango, um losango assim com’a modos do triangulo das Bermudas. Trará muito afundamento, de fortunas fáceis, topa?

-Oh professor...

-O mê amigo se se tivesse dado ao trabalho de ler a mensagem...

-Que men...

-A de Pessoa, carago, como dizem lá os sês amigos galegos do norti. Aqui ao lemi sou mais do qu'eu, nã ta dou aquilo que n'é teu... e por aí a fora.

-Desculpe...

-Pois olhi, o losango prenuncia que o império se estenderá até ao Brasili, Portalegri assumirá o papeli da antiga Portucal, mas de manêra muito mais rênadêra...

-Reinadeira, quer dizer, a brincar?

-Nã, a rênar à força toda, mas alegremente.

-E quem vai reinar?

-D. Loição I, o Reinador d’aquém e d'alem mar

-Professor, diz isso com um ar tão sério...

-Então já nã posso eu reinar? Estou teso mas em férias, homem dum cabrão.


PS- Menos doutoralmente direi que é a imagem estilizada de um riso de escárnio a mal dizer sinas de quem não limpa florestas municipais ou nacionais, de quem apadrinhou o abandono dos campos subscrevendo PAC's ou Pec's, de quem guardou na gaveta, até à última, projectos de veículos eléctricos e, por ventura, guarda os de sintetização do hidrogénio; de mim que cortei aquele arbusto e aquela arvore, de ti embora não saiba porquê...


domingo, 15 de agosto de 2010

QI 30 / IQ 0

-Desculpa lá, Avozinha, mas exageras.


-Pronto, não faças essa cara, estás a dramatizar um pouco...

-!...

-Tá bem tens razão, não dês demasiada importância às palavras, mas c’os diabos, desculpa a expressão, o tempo passa e não queiras que eu seja o mesmo.

-!...

Claro que ainda gosto de ti, te adoro.

-!...

Não sejas assim, com’é que queres que ache piada às mesmas coisas? Claro que me ria quando me espetavas o dedo no umbigo, claro que adorava aninhar-me ao teu colo!!!

-!...

Não, ainda gosto muito de te ouvir, se bem que a história da Carochinha não me deixe hoje extasiado nem a sorte do João Ratão me cause pesar, não compreendes?

-!...

Desobediente? Oh Vó? Mas querias qu’inda andasse com as botas da “Chico”, por amor de deus! Se não deixei de ser chato, até aos quinze anos querias tu que o pé fosse ao sítio aos trinta e cinco?

-!...

- Surdo? E depois não queres que te diga que exageras! Se estou p’áqui a falar contigo, sou surdo, é?

-!...

-Que nem uma porta? Ok, mudemos de conversa, tá?

(finalmente a bucha)

-!...

Tá bem, não me fica bem, mas que queres que faça ao olho torto?

-!...

Que o endireite? Mas como?

-!...

Que não vire a cabeça, pó lado? Que olhe em frente? Mas se assim não consigo ver!!! E , já agora,olha, se andei dois anos com o olho tapado à pirata e nem os óculos me deixavas tirar enquanto dormia, porque os sonhos me podiam entortar os olhos...

-!...

Qual teimosia, qual quê? A Lagos, já te disse que não vou, quero lá saber dessa sumidade de médico Holandês, chiça! Desculpa, tenho qu’ir embora.

-!...

Tá bem, não volto tarde.

-!...

Tá bem, só bebo refrigerantes.

-!...

Tá bem, guio com cuidado.

-!...

Tá bem, já sei o qu’é cas raparigas querem. Tchau.

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Mas afinal havia mais


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