quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Tirem-me daqui

Não é que’eu seja um liberal militante mas isso não quer dizer que seja adepto do estado providencia, fará adepto do patrão providencia.
Esta relação que me prende ao tipo que me deu vida, segundo ele afirma, tem de acabar. Já pedi a minha desvinculação e o sonso faz-se de mouco ou, eufemismisticamente pequeno, parvo para ser mais preciso.
Que tenha paciência agora porque lhe morreu a avó, logo a seguir a prima. - Isto há-de compor-se, diz-me com voz doce e depois… depois não dá porque agora finou-se a tia e, quando ia dar, nem na anedota de alentejanos justificando a falta à segunda-feira… morre-lhe o paizinho!
Oh! meu amigo, tenha paciência, chega de desculpas mais esfarrapadas que chapéu de maltês, ou isto anda ou quero a carta. Qual carta? A de alforria, pois então! Mais um tempito? Querem lá ver? Vá lá mais um tempito e depois... toca a tocar a caneta.

E assim vou eu esperando por Godot, sem saber se o genocídio familiar é causa ou efeito, se valerá a pena esperar. Assim vou eu escriba virtual e para todo o serviço, dependurado em cabide de cornos de veado. Para aqui estou pele amorfa, ansiando que me vistas de vez, me animes, te dispas de desânimos.

É agora? Não? O quê ? O filho “atirou-se-te” à linha do comboio! Deixa-me rir, trespassa-me, vende-me ou mata-me.
Não dá? Olha então mata-te.
Assim não dá.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Queijadas Vargas

Fazia, como se costuma dizer, contas de cabeça, a coisa não corria mal de todo. Em boa hora se despedira da Rodoviária e se dedicara ao negócio da mulher. Parecia impossível como a vida se encaminhara. O Vargas, praguejou com a buzinadela e a ultrapassagem à maluca da mota, encostou logo à frente para descarregar mais uma encomenda; em menos dum esfregar de olho continuou para o novo cliente na volta da sexta, uma volta complicada pela intensidade do trânsito. Era assim e às segundas também e então em início do mês… ainda era pior. De novo voltou ao fio da vida: em garoto quando ajudava o avô Vergas sabia que não acabaria a vida a fazer cestos e vassouras.

O Vergas, apelido que ganhara, cuidava do neto com os tostões arrecadados nas feiras saloias, da Ericeira à Malveira carregando a carroça com a cestaria e o neto que não conhecera o pai, caído no cumprimento do dever, como dizia a filha da puta da carta que desfizera a sua vontade de viver. Restava-lhe a consolação do puto ter saído com a cara chapada do pai e não da rameira que se pusera a andar sem ter acabado de lhe dar de mamar.
E a volta continuava da mesma forma que começara de madrugada em Stº Isidoro: uma dúzia aqui, meia mais à frente, na ida por Mafra e na volta por Loures, naquele dia cismando mais do que nos outros; sorria agora com o seu próprio nome, promovido de Vergas a Vargas, não sabia bem se por golpe de asa do padrinho se por erro da conservatória.
A lembrança do avô toldou-lhe o coração e quase lamentou não ter ficado mesmo Vergas, é verdade que para isso contribuía a opinião do filho que até punha a hipótese de retomar o nome se viesse a ter descendência.
O olhar iluminou-se só de pensar nele, no grande homem em que se tornara, como estudara sempre a ajudá-los e como o empurrara para virar o negócio numa empresa invejável. Não fora ele a picar a mãe que tanto jeito tinha para lhe dar a volta e ainda amassavam e coziam no anexo da casa. Agora… agora era um empresário a sério. Uma fábrica com tudo do que há de mais moderno, quatro operárias, cinco carrinhas, com caixa frigorifica, calcorreando léguas por dia a distribuir as “Queijadas Vargas” por supermercados, mercearias e pastelarias: Coimbra, Figueira, Leiria eram o destino e já Aveiro e até o Porto bailavam na cabeça do filho! Bem o avisava: Não dês o passo maior que a perna… e a danada da mulher, sempre aliada ao filho, logo ripostava: Está tudo pago não está?
Estava. Estava tudo pago mas não havia necessidade de esticar a corda. O filho, o Dr. João Vargas –sorriu– explicava que a rentabilidade e a garantia de ocupação do mercado e a estratégia de … eles lá sabiam, queria lá saber...
Seguia agora por Campolide, a volta compunha-se e na próxima entrega, longe do controle da mulher, tomaria um cafezinho e um rissol marcharia porque o “os diabretes” até andavam controladitos.
O para-arranca continuava quando PUM.
Um estrondo, uma dor aguda no peito, cegou! Aos poucos recuperou, não percebendo como entalado no volante e pelo vidro estilhaçado se via enfeixado num carro estacionado á sua direita. Ajudaram-no a sair, e deitaram-no chão. Via rostos sobre si e uma voz clara:
-O sacana do velho atropelou o rapaz.
Fez-se escuro.

Voltou a si, uma multidão pululava, o som estridente de uma ambulância desfazia-se, uma voz amiga confortou-o:
-O homem está bem, teve sorte, caiu do terceiro andar em cima de si, se tivesse sido na estrada...

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Carta aberta à minha lady

Di,Dizem, e eu concordo, que nasci com o cu virado para a lua, mas na verdade a lua move-se tal como eu e por isso a conjunção de cu/lua desfez-se momentaneamente.

A Augusta, o rapaz e o pátio, quando vier aí um quarto crescente a caminho de lua cheia, por certo voltarão. Por agora faço o papel de Sebastião Carvalho e Melo, cuidando dos vivos.

Em momentos fugazes deixarei registos como este:

O carácter julga-se?
Vem isto ao caso de Maria de Lurdes Rodrigues, na qualidade de figura pública, independentemente do direito de lutar pelas suas convicções e de exercer o legitimo poder que lhe confere o cargo, ser uma excelente comunicadora: verbaliza muito bem, responde ao que lhe convêm e ignora o que lhe interessa. Mais... na sua excelente performance na entrevista de ontem, socorre-se de formas de comunicação elaboradas tais como a expressão gestual, do olhar e de todas a cambiante de timbres que vão do delicodoce ao agridoce maternal.
Louvo-lhe a competência demonstrada na tentativa de dar o dito por não dito quando “
Na entrevista que deu ao DN, na terça-feira, a ministra da Educação reafirmou a intenção do novo Estatuto do Aluno de não chumbar ninguém por faltas.”(…) e na entrevista nega que a versão final do Estatuto do estudante, tenha sido alterado pelo parlamento. Tapa o sol com uma peneira. Parabéns à Sra. Ministra.
Inevitavelmente sim, o carácter julga-se, espero que a pessoa seja mais digna que a politiqueira.

É assim Di, não dá para mais.

Um beijo do teu,

Erecteu