Fazia, como se costuma dizer, contas de cabeça, a coisa não corria mal de todo. Em boa hora se despedira da Rodoviária e se dedicara ao negócio da mulher. Parecia impossível como a vida se encaminhara. O Vargas, praguejou com a buzinadela e a ultrapassagem à maluca da mota, encostou logo à frente para descarregar mais uma encomenda; em menos dum esfregar de olho continuou para o novo cliente na volta da sexta, uma volta complicada pela intensidade do trânsito. Era assim e às segundas também e então em início do mês… ainda era pior. De novo voltou ao fio da vida: em garoto quando ajudava o avô Vergas sabia que não acabaria a vida a fazer cestos e vassouras.
O Vergas, apelido que ganhara, cuidava do neto com os tostões arrecadados nas feiras saloias, da Ericeira à Malveira carregando a carroça com a cestaria e o neto que não conhecera o pai, caído no cumprimento do dever, como dizia a filha da puta da carta que desfizera a sua vontade de viver. Restava-lhe a consolação do puto ter saído com a cara chapada do pai e não da rameira que se pusera a andar sem ter acabado de lhe dar de mamar.
E a volta continuava da mesma forma que começara de madrugada em Stº Isidoro: uma dúzia aqui, meia mais à frente, na ida por Mafra e na volta por Loures, naquele dia cismando mais do que nos outros; sorria agora com o seu próprio nome, promovido de Vergas a Vargas, não sabia bem se por golpe de asa do padrinho se por erro da conservatória.
A lembrança do avô toldou-lhe o coração e quase lamentou não ter ficado mesmo Vergas, é verdade que para isso contribuía a opinião do filho que até punha a hipótese de retomar o nome se viesse a ter descendência.
O olhar iluminou-se só de pensar nele, no grande homem em que se tornara, como estudara sempre a ajudá-los e como o empurrara para virar o negócio numa empresa invejável. Não fora ele a picar a mãe que tanto jeito tinha para lhe dar a volta e ainda amassavam e coziam no anexo da casa. Agora… agora era um empresário a sério. Uma fábrica com tudo do que há de mais moderno, quatro operárias, cinco carrinhas, com caixa frigorifica, calcorreando léguas por dia a distribuir as “Queijadas Vargas” por supermercados, mercearias e pastelarias: Coimbra, Figueira, Leiria eram o destino e já Aveiro e até o Porto bailavam na cabeça do filho! Bem o avisava: Não dês o passo maior que a perna… e a danada da mulher, sempre aliada ao filho, logo ripostava: Está tudo pago não está?
Estava. Estava tudo pago mas não havia necessidade de esticar a corda. O filho, o Dr. João Vargas –sorriu– explicava que a rentabilidade e a garantia de ocupação do mercado e a estratégia de … eles lá sabiam, queria lá saber...
Seguia agora por Campolide, a volta compunha-se e na próxima entrega, longe do controle da mulher, tomaria um cafezinho e um rissol marcharia porque o “os diabretes” até andavam controladitos.
O para-arranca continuava quando PUM.
Um estrondo, uma dor aguda no peito, cegou! Aos poucos recuperou, não percebendo como entalado no volante e pelo vidro estilhaçado se via enfeixado num carro estacionado á sua direita. Ajudaram-no a sair, e deitaram-no chão. Via rostos sobre si e uma voz clara:
-O sacana do velho atropelou o rapaz.
Fez-se escuro.
Voltou a si, uma multidão pululava, o som estridente de uma ambulância desfazia-se, uma voz amiga confortou-o:
O Vergas, apelido que ganhara, cuidava do neto com os tostões arrecadados nas feiras saloias, da Ericeira à Malveira carregando a carroça com a cestaria e o neto que não conhecera o pai, caído no cumprimento do dever, como dizia a filha da puta da carta que desfizera a sua vontade de viver. Restava-lhe a consolação do puto ter saído com a cara chapada do pai e não da rameira que se pusera a andar sem ter acabado de lhe dar de mamar.
E a volta continuava da mesma forma que começara de madrugada em Stº Isidoro: uma dúzia aqui, meia mais à frente, na ida por Mafra e na volta por Loures, naquele dia cismando mais do que nos outros; sorria agora com o seu próprio nome, promovido de Vergas a Vargas, não sabia bem se por golpe de asa do padrinho se por erro da conservatória.
A lembrança do avô toldou-lhe o coração e quase lamentou não ter ficado mesmo Vergas, é verdade que para isso contribuía a opinião do filho que até punha a hipótese de retomar o nome se viesse a ter descendência.
O olhar iluminou-se só de pensar nele, no grande homem em que se tornara, como estudara sempre a ajudá-los e como o empurrara para virar o negócio numa empresa invejável. Não fora ele a picar a mãe que tanto jeito tinha para lhe dar a volta e ainda amassavam e coziam no anexo da casa. Agora… agora era um empresário a sério. Uma fábrica com tudo do que há de mais moderno, quatro operárias, cinco carrinhas, com caixa frigorifica, calcorreando léguas por dia a distribuir as “Queijadas Vargas” por supermercados, mercearias e pastelarias: Coimbra, Figueira, Leiria eram o destino e já Aveiro e até o Porto bailavam na cabeça do filho! Bem o avisava: Não dês o passo maior que a perna… e a danada da mulher, sempre aliada ao filho, logo ripostava: Está tudo pago não está?
Estava. Estava tudo pago mas não havia necessidade de esticar a corda. O filho, o Dr. João Vargas –sorriu– explicava que a rentabilidade e a garantia de ocupação do mercado e a estratégia de … eles lá sabiam, queria lá saber...
Seguia agora por Campolide, a volta compunha-se e na próxima entrega, longe do controle da mulher, tomaria um cafezinho e um rissol marcharia porque o “os diabretes” até andavam controladitos.
O para-arranca continuava quando PUM.
Um estrondo, uma dor aguda no peito, cegou! Aos poucos recuperou, não percebendo como entalado no volante e pelo vidro estilhaçado se via enfeixado num carro estacionado á sua direita. Ajudaram-no a sair, e deitaram-no chão. Via rostos sobre si e uma voz clara:
-O sacana do velho atropelou o rapaz.
Fez-se escuro.
Voltou a si, uma multidão pululava, o som estridente de uma ambulância desfazia-se, uma voz amiga confortou-o:
-O homem está bem, teve sorte, caiu do terceiro andar em cima de si, se tivesse sido na estrada...
1 comentário:
ó pá, mas tu inventas cada uma!:) O pobre levou mesmo com um tipo em cima, caramba?! E sem ter comido o rissol?! Azarado! (Ainda bem que te deu nova "lua". Abençoada natureza!:))
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