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domingo, 12 de dezembro de 2010
Ai a crise... III
-Bonita mala! Estes tipos fazem promoções interessantes.
-Qual delas? – para parecer interessado.
-Aquela, castanho avermelhado.
-Ah! É gira, é. Tem um “calfo” lindíssimo.
-Querias... Pelo preço é uma boa imitação.
Chegou à oficina e preparou-se para levar com as trombas da patroa, vestiu a bata dirigiu-se à bancada e cumprimentou os colegas que já buliam.
-Juvenal, chegue aqui.
-Já vais levá-las...
Olhou para o colega, espetou-lhe o dedo dissimuladamente, e lá foi para o chá.
-Desculpe o atraso dona...
-Não faz mal, saíste tarde e eu sei com’é o transito.
Juvenal olhou para a patroa desconfiado.
-Esta noite acabamos a conferência?
Juvenal sabia que não era propriamente uma pergunta.
-Está bem, dona Angelina.
A conta do telefone por pagar, tinha maneira de avisar lá para casa, Foi a preocupação que se sobrepôs às contas ao dinheirinho.
sábado, 11 de dezembro de 2010
Ai a crise II
Manhã cedo Juvenal acordou com o bater de panelas, cambaleante dirigiu-se à cozinha dando de caras com umas olheiras acusadoras.
-Bom dia...
-Tu nem me fales...
-Oh Marta...
-Deixa-me, sacana de mulherengo.
-Oh filha, estive a trabalhar, sempre te fui fiel.
-Tretas, é o que é. Fiel? Só se for da parte do teu pai... FIEL!!!
-Lá porque lhe puseram essa alcunha não me xingues, tá?
-Ah é? Chegas tarde e nem avisas?
-Mas como? Não sabes que temos o telefone cortado por falta de pagamento?
-Olha a lata. Só para me gozares é que me vens com essa do fiel.
Lá para o lado do Mercado do Rato era conhecido por Fiel, dizem uns que pelos olhos seguirem o movimento do dito até este parar sempre inclinado a favor do prato do cliente. -Aqui estão bem aviadinhos... era a fase que precedia a transferência de mercadoria. Outros diziam que Juvenal I, para o distinguir de Juvenal, não queria saber do fiel para nada e que o movimento dos olhos, à laia de limpa pára-brisas, se devia ao controle das duas colegas: Marina, concorrente directa na área dos frescos, campeã de coxas e rabo roliço e mais adiante, Rosinha, afamada pelo seus pregões mas muito mais conhecida por um par de seios invejáveis que fariam, pelo menos, duas mulheres felizes...
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Ai a crise...
Horácio, por necessidade de conquista de novos mercados, volta e meia caía fora. Na fábrica, Angelina pulava do escritório para controlar as linhas de produção, embalagem e despachava competentemente toda a mercadoria. Em época de crise a pequena empresa valia-se desta simbiose familiar, se preciso,cada um à sua.
-Voltas hoje, querido.
-Oh filha, bem me apetecia, mas deram-me um contacto em Braga que não posso perder. Conta comigo só depois de amanhã, talvez...
-Fazes bem meu amor.
Noite dentro Horácio, no meio de fumarada, risinhos e umas quantas bebidas, desunhava-se para apalavrar uma encomenda de fechaduras e outros acessórios para portas mas o galego prestava mais atenção a convenções linguísticas luso-brasileiras. Angelina por outro lado, negava a máxima -patrão fora noite santa na loja. Decretara horas extraordinárias para conferência de stocks. Em tempo de crise, umas horas extra a juntar ao meio subsídio de natal não deixaram Juvenal fazer-se rogado.
-A estas horas?
-Pois, o serão deu pó tarde.
-Olha para a minha testa, vez algum “H”?
-“H”?
-Sim “H” de OTÁRIA.
-Vamos é dormir, e deitou-se.
Ela, de supetão, puxou os lençóis para o seu lado e de um pulo virou-lhe o cu, deixando-o destapado de corpo e alma.