domingo, 12 de dezembro de 2010

Ai a crise... III

Fechou o ar e deu ao arranque uma duas vezes, o motor tossia cavo, mas negava-se. Esta trampa ainda se afoga, pensou fechando o ar, sem acelerador fez um compasso de espera olhando o alto numa prece muda, e deu à chave. Como milagre o velho 126 cooperante exalou uma densa nuvem de fumo. Engatou a primeira e lá se fez Juvenal ao banho de multidão, direito ao Prior Velho. No para-arranca foi fazendo contas à vida: Se lhe pagassem metade do subsídio de natal mais as, inesperadas, horas extraordinárias que a patroa lhe impusera, talvez pudesse comprar a mala que Marta vira.
-Bonita mala! Estes tipos fazem promoções interessantes.
-Qual delas? – para parecer interessado.
-Aquela, castanho avermelhado.
-Ah! É gira, é. Tem um “calfo” lindíssimo.
-Querias... Pelo preço é uma boa imitação.

Chegou à oficina e preparou-se para levar com as trombas da patroa, vestiu a bata dirigiu-se à bancada e cumprimentou os colegas que já buliam.
-Juvenal, chegue aqui.
-Já vais levá-las...
Olhou para o colega, espetou-lhe o dedo dissimuladamente, e lá foi para o chá.
-Desculpe o atraso dona...
-Não faz mal, saíste tarde e eu sei com’é o transito.
Juvenal olhou para a patroa desconfiado.
-Esta noite acabamos a conferência?
Juvenal sabia que não era propriamente uma pergunta.
-Está bem, dona Angelina.

A conta do telefone por pagar, tinha maneira de avisar lá para casa, Foi a preocupação que se sobrepôs às contas ao dinheirinho.

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