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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

O Guelas -Tempo de reflexão





Sete anos passaram sem que um dia passasse sem a tua fotografia olhar; aquela com que retribuíste a que te dei, quando tratámos do bilhete de identidade para irmos fazer o exame da quarta.

Guardarei para sempre as cartas que trocámos entre o Sena e o Sado primeiro, e depois, neste último ano, o Tejo.
Quis o destino que nos separássemos com o meu salto para França e a tua ida para a faculdade. Não te guardarei rancor por lá teres encontrado um amor, juro-te. É verdade que me doeu, doeu muito mas amar-te-ei para sempre.
O que eu não te perdoarei é teres feito essa loucura. Se ele não queria o filho, queria-o eu. Queria-o tanto como te queria a ti. Bastava-me que fosse teu.
O que me devora e enlouquece é não poder ter ido despedir-me de ti. Lanço esta flor nas águas na vã esperança que te possa encontrar.

Malvada aquela que nos apartou,
arda para sempre nos infernos.

Porque fizeste isso, Ofélia, meu amor.
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Dedico a pretensão de conto, “O Guelas”: A uma amiga a quem saquei, sem pedir, o logotipo “blogpelosim2a” , a um amigo que me sugeriu que contasse umas histórias do meu lugar profundo e, às “Ofélias” passadas, na esperança que o amanhã seja um dia diferente.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

O Guelas - Tempo real


Noventa e um dias era o tempo real, mas quando Pucarinho e Pombinho se voltaram a ver tinha passado, para eles, uma eternidade.
Os primeiros dias, no posto da guarda, viriam a revelar-se uma doce memória, face ao pesadelo que se seguiu.
Primeiro em Évora onde os três inspectores, à uma ou à vez não davam descanso, descanso mesmo. Depois em Lisboa, em pé ouviam repetidamente as perguntas e os insultos misturados com gritos e empurrões; quando os olhos se fechavam vinha o humilhante estalo em plena cara ou o jorro de água fria.
-BURRO, teimoso de merda, o teu camarada já contou tudo.
Podia lá ser! Se ele aguentasse não seria pelo compadre Pucarinho que eles pegavam.
Aquele corpo forte, desfeito pelo cansaço, já não obedecia. Os braços teimavam em baixar ainda que soubesse o que se seguiria. Há muito que horas ou semanas, dia ou noite tinham deixado de fazer sentido. O pensamento refugiava-se na imagem da terra e dos seus que para lá labutavam. Aí se refugiava.

apanha da maçã, Pissaro

Pois ali estavam, agora na mesma sala ainda que separados pelos guardas. Cruzaram os olhos e o que lhes restava do coração deu para entender que nenhum rachara.

*
**
Três anos para um, cinco para o outro, vá-se lá saber porquê mas fora essa a sentença. Sábia é a Justiça e com ela devemos aprender. O diacho é que não aprendem todos o mesmo e por vezes há alguns que não aprendem mesmo nada.

Mas eles aprenderam um mundo novo: que o sol também se deita por trás de uma ilha, que água do mar tem cheiro e que as traineiras não passam frente ao forte sem saudar por três vezes os que lá estão.
Os dias voltavam a ser mais curtos, quando receberam as primeiras visitas. Na cesta comum para os dois, vinha um pouco de todos: linguiça, azeitonas, queijo e ainda pães. Ah, aqueles pães com algum travo azedo, diz-se que do suor que a terra foi empapando desde que mouros, ainda, o grão lançavam depois da terra rasgada.





Do regaço de Bia saiu aquele papel.
No monte, o meu Zeca é o primeiro, porra.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

O Guelas - Voos

O Zeca passou uma semana a fazer cópias no intervalo. Ainda lhe faltavam duas mas a soussora, deixou-o ir ao intervalo da tarde. Ele prometeu que fazia as cópias em casa mais os trabalhos que temos; são só contas! Será que se esqueceu de marcar a cópia?
Nunca tínhamos tido um intervalo tão grande. O Zeca foi para a oliveira grande e por lá ficou. Depois os meninos começaram a juntar-se à roda dele e do passarinho, do Bico como ele lhe chama. Não queríamos acreditar. O Bico já quer voar! Ele pô-lo num ramo e o Bico começou a piar, depois saltou para o Zeca a bater aflito as asinhas, o Zeca apanhou-o no ar e disse: -Pá semana já voas maganão. Todos queriam agarrar no Bico, o Zeca deixou todos os que quiseram mas estava sempre –Não o apertes.
A professora veio ter connosco, despenteou o Zeca e disse-lhe: Parabéns Zeca e ele, -Oh. Ficou que parecia um tomate. Foi a primeira vez que a ouvi chamar-lhe assim.

*
**

Ainda hoje o Bico é a alegria da escola; juntou-se ao bando de pardais mas não esqueceu a mãe Zeca. Vive na oliveira grande mas mal vê o Zeca voa para ele. Sabe que tem sempre um miminho. O miúdo trás com ele bicharada que me metia nojo, por sinal, já não me fazem nenhuma impressão, as larvas de varejeira.
Aprendi a diferença entre o ser malcriado e talvez, o ser mal-educado. Rebelde como tudo, não, arisco, arisco é que é, explode à primeira. Tem um sentido de justiça exacerbado que o leva a meter-se constantemente em confusões. O que lhe reservará o futuro, nas condições em que vive? Esperto e esforçado, tem superado as insuficiências que trazia, a ponto de estar entre os melhores alunos. Dá muitos menos erros, lê maravilhosamente, interessa-se pela história como ainda não tinha visto. Vejo-me aflita para dar conta dele, dada a rapidez com que resolve os problemas. O fraco dele é a geografia. –Para que quero eu saber essa coisa dos rios e das serras? –Para seres mais culto.

Oh, cultura não enche a barriga lá no monti.
Que lhe faço?

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

O Guelas - Cópias minhas

Sim, não ia à escola há três dias. Saía de casa montava na carreta do Águamorna, nos quatro caminhos saltava e ala para o pinhal apanhar púcaras e outros cogumelos que não se podem comer mas que o Ti Alfredo compra, acho que para mandar para Espanha.
Hoje deu-me uma grande vontade de voltar.
Fui até lá mas não fui capaz. Fiquei no alto do cabeço de onde os via ir chegando e ficarem a brincar no recreio.
Eles estavam a jogar ao prego, elas brincavam à macaca.











Daqui ouço algumas vozes e distingui perfeitamente a voz dela. A sineta tocou, foram para dentro; o silêncio instalou-se; fiquei mais algum tempo, vi chegar o João a correr, atrasado como de costume, depois para ali fiquei na companhia do bico que não parava de piar. Dei-lhe algumas formigas, mas do que ele gosta mais ainda é de pão mastigado; começaram a crescer-lhe algumas penas, está espevitado e forte, vai safar-se com certeza. Cansado adormeci debaixo do pinheiro tendo acordado um pouco depois com frio. Fui até à vila e andei pelo mercado e pela rua junto ao rio; ía dando de caras com o mainate da herdade, o Severino, pirei-me a tempo, acho que não deu por mim.

***

A professora estava a corrigir os trabalhos de casa e nós a fazer uma cópia quando chegou um homem para falar com a professora. Ela saiu e a Joana ficou a tomar conta da aula; já apontou no quadro o nome do Rodrigo por se ter levantado e ter dado um carolo ao Rui, os outros desataram a rir e a gritar. Se ela não tirar o nome está tramado: fica sem recreio ou apanha, se calhar, as duas coisas porque não é a primeira vez.
A professora, voltou e trouxe com ela o Zeca. Ele foi para o lugar mas não se sentou; ficou de pé ao lado da carteira, a professora também não, ficou de pé em frente da secretária, virou a cara para ele e levantou as sobrancelhas. O Zeca disse:
-Peço desculpa, à soussora por ter saído da aula
-E…
-Por ter dito porra.
-Vais, ficar sem recreios até teres todas as cópias que não fizeste enquanto faltaste, senta-te.

Estou lixado, detesto cópias. Eles estão a brincar lá fora, gritam e riem, felizmente que tenho o bico por companhia, parece que ele gosta da escola, saltita no tampo da carteira, escorrega constantemente.
A Maria trouxe as amigas para brincar ao pé da janela, estão a jogar ao elástico,
agora está no meio, o cabelo e a saia saltam, está a abanar assim com a mão, parece que me está a querer dizer adeus,
olhou para mim, perdeu.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

O Guelas - História pouco edificante

Gosto muito da escola. Agora não tem sido muito bom, o Zeca tem faltado, espero que volte. Não sei se foi por se ter zangado com a professora.

Ele é nosso amigo, é bom, só é mau quando gozam com ele. Ensina-me muitas coisas. Ele sabe tanto! No outro dia apanhámos um passarinho que caiu da árvore, foi a Joana que o apanhou. Levámos à soussora e ela disse para irmos pôr na árvore qu’ele ia morrer. O Zeca disse: -Nã mórri nada. Su prantarem lá é que morri. A professora não gostou. Disse –Prantarem, prantarem… puseREM.
Os meninos riram-se. Ele não gosta nada disso e eles estão sempre a rir. A soussora até ralhou com eles.

Fomos pô-lo na arvore, quando tocou a sineta, ele pediu-me pão mastigou e pôs a cabeça do passarinho na boca dele e deixou lá estar algum tempo, punha e tirava, depois cuspiu-lhe pó bico. Voltou a pôr na arvore mas quando acabou a aula da manhã foi buscá-lo e pô-lo aconchegado no bolso da camisa. Metia água na boca e metia-a na boca do passarinho, por fim era com o dedo que deixava escorrer umas gotas e o passarinho já abria o bico.
Os meninos foram fazer queixinhas. –O Rolha tá com o passarinho. A professora foi ver. A professora deixou o Zeca tomar conta dele, até disse que o podia levar para a aula. Bem feito.

À tarde tivemos aritmética. Já estamos a estudar a tabuada dos seis. Aí é que foram elas. O Zeca é o que faz mais rápido de todos e eu acho que a professora não quer que ele faça como faz.

A profesora começou a escrever no quadro:
.
6X1=
6X2=
6X3=
.... e ele de seguida: Sês, dôzi, dezôito
A soussora parou, olhou para ele e perguntou.
–Quem te ensinou?
-Sê, vi mê paí fazêri!
Mandou-o ao quadro e ele fez:
-Ai é? E quando for 4 X 12, é igual a quê? Vais passar a tarde a contar bolinhas, é?
Ele fez logo de fugida nem pôs bolinhas:
Eu não percebi nada. Ela ficou a olhar para ele e disse: -Tá certo vai-te sentar. Quando ele ia a “assentar-se”, ela disse a rir –É a lei da rolha. Os meninos desataram a rir. Ele não se sentou; agarrou nas coisas pôs na sacola e ía a sair. A soussora perguntou:

-Onde vais, que é isso?
-Éi a lê da porra

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

O Guelas - O Sol que ilumina também cega

Chegámos ao fim da quarta. Fizemos exames. Fiz dois, o da Quarta e o de Admissão aos Liceus; alguns fizeram três como foi o caso do Zé Rolha que também fez o exame de Admissão às Escolas Industriais e Comerciais, não acreditava que se safasse mas, não sei como, lá se safou.
O Zeca como gostava de ser chamado, era um tipo estranho. Ficou Rolha porque o meu Pai conhecia o dele de ginjeira. Não enganava ninguém até que teve a sorte que merecia. Foi dentro quando quis organizar uma revolução lá na herdade.
Um dia à frente do rancho das mulheres disse que no dia seguinte não queriam trabalhar porque era um de Maio. O meu pai já sabia de tudo; uma semana antes, estivera lá a jantar o inspector Faria e alguns colegas do Pai, tinham informações de que se preparava qualquer coisa.

– Amanhã patrão, não trabalhamos.
– Não trabalham, não ganham.
– É assim mesmo patrão, não ganhamos e ganhamos, disse com um sorriso nos olhos.
– Depois veremos.
– Depois de amanhã, patrão, veremos.

Teimava em ter a última palavra. Era o melhor corticeiro da herdade, como fora o pai e o avô mas não saía em feitio aos velhos Rolhas. Fernando Pucarinho degenerara: assinava o nome e pouco mais, mas já desde miúdo, como aguadeiro, arvorava ares de sabichão.

* * *

Reunimo-nos antes de o sol raiar, o frio cortava – em Maio cerejas ao borralho.

Pusemo-nos a caminho do açude cantando.

"Boa herva é o poejo,
Que faz açorda aos ganhões.
É a primeira que vejo:
Cantar chibos em funções

Ôlivêras, ôlivêras,
Ao longe são ôlivais:
Por muito que tu me quêras,
Ainda te quero mais!

Por causa de um saramago
Arranqui um pé de trigo.
Olha a vontade que eu trago,
Amor, de falar contigo!"

O dia amanheceu coberto de uma neblina densa acompanhada de chuva miudinha. Tínhamos os pés molhados e gelados quando chegámos ao açude, o rancho estava animado porque o sol prometia vencer. Dirigimo-nos para os sobreiros grandes onde se fará a merenda.
Outro rancho chegou da Herdade dos Coutos, assumindo ao cabeço Manuel Pombinho cantava:
.
"Regala-me o tê cantar,
E o tê cantar me regala;
E ê regala-me ôvir dar
Reqebros à tua fala"
.
Ao que o nosso respondeu:
.
"O sol, quando nasce, é rê
E às dez horas é c'roado
E à tarde já vai doente,
E à noite é que é sepultado."
.
Os ranchos não tardaram em misturar-se. Apartei-me com Pombinho para conversar-mos. De repente a algazarra quedou-se. Olhei para o alto e vi a fila da guarda a cavalo que se dirigiu, a trote formando um largo arco.
-Manuel Pombinho , Fernando Pucarinho, estão presos. O resto segue para as herdades. Já. - esganiçou em falsete o tenente, sabre na mão.
Seguimos no meio de dos seis cavalos. No alto do cabeço, vi por cima do ombro, os ranchos apartados seguirem ladeados pelos cavalos e bestas. Recebi do tenente uma chibatada em pleno rosto que me cegou, ou foi do sol que despontava com toda a força?

* * *
No dia seguinte, franzina, a mana Bia destacou-se do rancho:
-Patrão, a partir de hoje, a gente trabalha oito horas.

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nota: quadras recolhidas:
in José Leite de Vasconcelos, OPÚSCULOS.Volume VII – Etnologia (Parte II),Lisboa, Imprensa Nacional, 1938

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

O Guelas - so chicha

SIM, ela foi sempre minha companheira mas nunca ficámos juntos na mesma carteira. É muito boa aluna a tudo mas dizia que eu é que era esperto, só porque a ajudava nas contas.
Sentava-se de lado a fazer as cópias, os ditados também; quando acabava, olhava para mim. Parecia que olhava por baixo do braço e sorria um pouquinho mas eu, então, não tinha a certeza. Quando a sousora me deu o livro, fiquei muito contente. Gostava de ler e gostava quando a professora dizia que eu tinha boa entoação. Dava era muitos erros; não vos digo quantos porque uma vez, na tropa, disse e os camaradas chamaram-me pintor. Só vos digo que cada erro era uma reguada e que eu era o único que não levava a dose toda. Esticava a mão e não fugia com ela, apetecia-me muito fugir mas tinha medo que ela estivesse a olhar. Via a régua a subir e pensava, vai doer, vai doer muito, muito e depois… doía menos.

No intervalo ela brincava com as amigas e poucas vezes me via, até porque as professoras não queria que brincássemos com as meninas, mas às vezes deixava, diziam que era quando não estava a senhora directora.
Parece que quando eu não levava a merenda, ela adivinhava. Vinha ter comigo e dizia –Ajuda-me que eu não consigo. Até o leite me dava! Os lanches dela eram tão bons! Umas vezes eram doce, eu perguntava e ela dizia: tomate, pêssego, amora, eu comi de tudo, até de morango que esse é que era muito bom, deixava cá um gosto nos bêços! mas também havia de ovo, de queijo e uma linguiça mole, muito boa.
-É isto que é “só chicha”! Dobrou-se para a frente pôs as mãos juntas entre as pernas, os cabelos tombaram para a frente; atirou-os para trás e disse a rir, segurando-me o braço -SAL-CI-CHA.
Gostava de salciha, mas gostei mais de a ver rir, SIM

domingo, 21 de janeiro de 2007

O Guelas

Sim, conheci-a no primeiro dia de escola. Fui dos primeiros a chegar. Na sacola de pano que a minha Mãezinha fizera, pouco havia: um lápis partido, um caderno novo de duas linhas, os sapatos e um pão com linguiça –Não o comas todo de uma vez, não sejas lambão, dissera-me aquela santinha; -Não penses que pode ser todos os dias assim, acrescentara ela. Viera primeiro de boleia na carroça do Águamorna, até aos quatro caminhos. Ao princípio foi bom, ia contente, ia prá escola! Depois deu-me o sono e devo ter adormecido porque o Água gritou: -Moço dum cabrão, salta Zeca. E eu saltei.
Vim por lá fora e para ali fiquei sentado no muro. Já me doía o cú e me regelavam as nalgas quando chegou o primeiro menino. Sentou-se lá longe a mirar, ora os meus, ora os pés dele. Não sou parvo, tirei a merda dos sapatos da sacola, calcei-os; o magano não foi capaz de me olhar outra vez, pantomineiro! Depois, ao mesmo tempo, começaram a chegar os outros que vinham pela mão das mães. Iam logo lá pra dentro e alguns desatavam a chorar quando as mães se queriam ir embora. Estava a ser giro, os meninos da vila são mesmo esquisitos. Já se me arrepanhavam os pés quando ela chegou. A mãe levou-a até ao portão, deu-lhe um beijinho, acenou à soussora e disse-lhe vai, e ela foi. O recreio foi ficando deserto. E tu, não vens?
Mandou-me sentar, fiquei lá no fundo, ainda bem. Via a sala toda e via tudo lá para fora. Depois disse muitas, muitas coisas, já não sei o quê. Mandou-nos tirar o material(?); tirei o caderno e o lápis; mandou-me tirar tudo; tirei o panito com a linguiça e riram-se todos, quase todos, só ela não se riu. Não percebi. A soussora, a rir, perguntou-me: -E o livro? –Qual livro? –só ela não riu. A professora saiu e voltou com um livro novinho, perguntou-me como me chamava, disse-lhe que era Zeca, e ela que era José, prantou-lhe o meu nome, deu-mo e disse que cuidasse dele.
Tocou a sineta, fomos todos brincar. Eu fiquei a vê-los, corriam e empurravam-se, gritavam muito; ela ficou sentada no degrau do alpendre. Fui ao pé dela, mostrei-lhe o meu guelas. Olhou para ele e depois ficou a olhar para mim. As meninas têm uns olhos tão lindos, tão lindos… gostava de ter os olhos dela; entravam pela minha cabeça, doces, mas sem saber o que diziam. –Queres? Mordeu o lábio, atirou a cabeça para o lado, o cabelo esvoaçou para ficar poisado no ombro, quase loiro brilhava ao sol de Outubro, dia sete; ficou assim algum tempo, muito tempo. Fui-me embora, senti passos atrás de mim, pegarem-me na mão.
Ao voltar-me via-a muito séria, de mão estendida dizer-me baixinho: -SIM

© Vicente Rodríguez-Madridejos Ortega (alterado o formato)