sábado, 28 de agosto de 2010

Se não existisse teria que ser inventado

Omnipotente, debitando mais cavalos que um Ferrari e um Porsche juntos; Omnipresente deixando o Bip-Bip a léguas, Omnisciente ofuscando Sócrates...


Primeiro moldou no barro o homem à sua imagem e semelhança entregando-lhe o paraíso, depois. porque se entediava, a partir de uma costela deu-lhe a mulher e, pedagogicamente, advertiu-o de que não deveria tocar no fruto apetitoso... Foi o bastante para receber quase de imediato uma acção de despejo desterrando-o para a terra onde crescemos e nos multiplicamos sujeitos à dor para aprendermos a não sermos lambões.

Na sua infinita bondade desceu à terra para nos redimir do pecado original que com o tempo foi evoluindo acrescentando à pouca original posição do missionário nuances bem mais divertidas, na minha modesta opinião.

É impossível um mundo sem deuses. A quem atribuir a culpa das catástrofes que se abatem sobre nós? Como explicar eclipses, chuvas de sapos, coriscos ribombantes, o escapar in extremi às garras de um felino ou o simples desabrochar de uma flor, se não a Ele ou a eles, consoante o fuso horário de que se trate?

Se para uns nos vale o “ai Jesus”, para outros o Salvador ainda está para se vir não passando o presumível Filho de um arauta profético. Quem tem razão não sei mas não custa nada ficar cada um com a sua e deixarem-se de merdas quezilentas e muito menos de andarem à lambada por coisa de pormenor. Culturas e as suas derivadas crenças podiam muito bem coexistir em paz na terra, fossemos nós homens de boa vontade e menos picuinhas.

Se uns com o tempo deram a volta ao véu, não será de esperar sentado à espera que a moda das burkas passe? Basta lembrarem-se daquela do fruto mais apetecido, sim o tal originalmente proibido e que hoje consumimos, à fartazana, com ou sem casca...

Mutilações e subserviências, cada um toma as que quer e deixemo-nos de paternalismos porque crenças são afinal querenças, né? Não? Temos o dever de proteger os menos esclarecidos, tá beeeem!...

Pronto vamo-nos a eles e pespeguemos-lhe os devidos correctivos acabaram-se as Excisões e a népia de burkas e outras tretas quejandas, “mai nada”... pó camano, quem aceitar fica quem não quiser vai desta para melhor, geograficamente falando, claro.

Já agora aproveita-se a ocasião e convertem-se todos em bons chefes de família, tá?

Viv’ó Benfica.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

felicidade


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Para que promessas incumpridas não fiquem por celebrar, sugiro que façam as adaptações que considerem pertinentes a esta magnífica canção, nesta versão atrevidamente erudita...


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O primeiro nunca se esquece

A ordem de comando, denunciando irritação de noite mal dormida, se dormida veio cava e rouca: -OUTRO...

Não importava quem, alto ou baixo, magro ou gordo, loiro ou moreno

-OUTRO, Nnnnnão ouviram? Se o primeiro outro pusera em marcha todo o serviço de apoio que se resumia a uma míope que não fazia inveja a uma petinga seca, fará a um carapau, o segundo, acrescido Nnnnnão puseram a senhora a bater as socas de madeira em passo de corrida acelerado.

-Entrem, entrem disse assistente multifunções, contorcendo-se, com a expressões de quem quer ir à casinha de banho.

Pela mão de minha mãe entrei; no meio de um cenário no mínimo estranho, pelos objectos estranhos que não prenunciavam nada de promissor mas sobretudo pelos cheiros dei; com ele de costas oferecendo à vista um pescoço de rodes sobressaindo de uma bata pretensamente branca

-Sente-o. o homem não falava, comandava.

Com as devidas ajudas lá amarinhei cadeira acima e me instalei desconfortavelmente naquela imensidão sem saber onde pôr os braços face ao desajuste ergonómico.: Enorme, tez morena, nariz achatado semeado de pelos, manápulas de onde saíam umas excrescências travestidas de dedos, avançando para mim pôs-me de boca aberta que nem foi preciso receber instruções complementares. Sentando-se a minha frente foi pegando em objectos: espelhinhos percorriam-me todo por dentro enquanto ele fazia uns “hunms”, chegou a vez de uma espécie de anzolinho que ora percutia ora ia escarafunchando até que dei, simultaneamente, um salto e um urro.

-Assim não posso trabalhar, foi o bastante para a mutifunções me manietar; face ao insucesso... entrou minha mãe na lide não me restando outra hipótese do que recorrer, em legítima defesa, ao espernear face ao ataque de um sinistro aparelho do tempo dos discos de 45 rpm que zumbia e agia como martelo pneumático.

-Traga o lençol raios...

E foi assim que me sacaram o primeiro dente, pelos vistos com processos que nem eram exclusivos do Dr, Qualquer coisa de Matos, ex- boxeur, jogador inveterado em noites longas no Automóvel Clube.

Com agradecimentos ao Abílio que me enviou esta foto, amigocom quem partilho afinal mais padecimentos passados do que ele imagina.

domingo, 22 de agosto de 2010

Feitio

Quem não o tem? “Do marisco à bifana, há de tudo.” – como diz o mê Paulinho da Vila, nome que lhe ficou embora o burgo tenha sido promovido a cidade.

São feitios. Diz-se com condescendência mas sempre acompanhado de um franzir de qualquer coisa. Mas, cá pó je e para nous, que ninguém nos lê, o dele é tramado. Teso com’é, mais fácil cede dinheiro do que passagem se lha quiserem forçar; é o seu espírito, feitio, de contradição que não o deixa ver ninguém à rasca sem que lhe valha, ou que mete velhinha na linha, se dissimulada se faz à caixa do Mini, não fora isso e outra galinha cantaria: -Faz favor minha senhora, passe lá, tem tão pouca coisa e eu tanto tempo tenho...

Quem bem o tope, como eu, se o gajo se esforçasse mais um bocadinho até lhe poderia ser atribuído o diploma de bi ou até mesmo de tri-polar. Mas na verdade vos digo que o cabrão não é mau tipo, pecando só por ser um pouco, demais, naif levando a vida demasiado a sério.

Há uns tempos comecei a vê-lo macambúzio, nã lhe via ameaça de saltar um dentinho com as suas piadinhas, joco-irónicas com que brinda os mais próximos... - Olá, pensei eu pó meu fêxecler, a depressão dos Açores deslocou-se pó Bº do Castelo.

-Então Martírio –é o nome qu’herdou da mãe- como vai isso?

-Hã...

-Vá lá, desembuxa, diss’eu, a medo.

-Tou chateado. E o sacana não desenvolvia, parecia uma carripana movida a gasoil low-cost.

-Tás chateado porquê?

-Estou preocupado, disseram-me que tenho um feitio do caralho, não acho justo.

-Não ligues Martírio.

-Se calhar, até têm razão e agora percebo porque me chamam judeu.

-...?

-Sim, tenho espelhos em casa, chamam-me judeu e desde que me disseram que tenho um feitio do caralho comecei olhar-me melhor. É uma porra ter uma cabeça com um feitio do caralho e não ter prepúcio.

sábado, 21 de agosto de 2010

Peace ao Quadrado


Composition:

“Peace is in the waves at sea. Peace must begin with you and me!”
- Student, Gander Middle School, Gander, Newfoundland, Canada

“Why destroy when we could create, Keep the peace, erase the hate.”
- Normal Community West High School, Normal, IL, US





(des)Composição:

.roubada d'aqui


Já começo a ficar farto desta merda, men, I wich piss all over the world

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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Ippon


Era uma vez... e fujam que lá vem história, né seus trastes?


Já não se lembram, meus, do tempo em que os bichos não liam... até arregalavam os olhos em cada pausa metida a tempo certo, ou em arrastar de frase colocada no registo dos graves, dos protestos de quando o final ficava para o dia seguinte ou, quando curta suplicavam – vozinha, conta lá mais uma, conta...

Mais tarde as histórias foram outras. Acho que, lá pela quarta, comecei a meter-me na vida de uns fidalgotes franceses que acabaram enrolados com uma Tareja e uma Urraca e a partir daí foi uma coboiada, ora contra moiros ora contra castelhanos, varríamos tudo à rambada, digo, à lambada. É verdade que a par foram entrando o Buck Rogers, Kit Carson e à socapa do bando mais alargado, os mais íntimos trocavam Mickeys e Donalds, enfim concessões a gostos mais de meninas.

Mais tarde a coisa piou mais fino e afinfaram-nos com melodramas de Diniz, dramas de Herculano mas aquilo que eu gostaria de ter lido era mesmo aquele em que o herói era um padre, acho que de nome Amaro, mas esse era mais difícil de arranjar do que aquele cromo que não deixava acabar a colecção; mudei de colégio várias vezes mas ou não tinham ou não podia ser requisitado, coisas da vida... mas acho que um dia ainda pego nele.

Depois, depois passamos a fazer histórias; umas de amor outras cómicas, outras ainda tristes, essa deveriam começar por: “Once ipon a time...” especialmente as que acabam, connosco a lamber feridas, sem forças para praguejar.

Ippon Seoi nage, ou melhor ippon sayonara.

Ippon é um termo japonês comum no judô. Pontuação utilizada em competições de judô, atribuída quando um golpe, desferido de forma correta, resulta na projeção do oponente, com queda, desde que este fique com as costas por completo no tatame Com esta pontuação a luta termina, podendo assim a luta resolver-se em um único golpe. Este pode igualmente ser atribuído em caso de imobilizações, dentro do tempo regulamentado, desistência do adversário em caso de chaves, de estrangulamento, e em resultado de dois wazari.



quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Estou encantado

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Vocês sabem lá, contado ninguém acredita, só vos conto a vocês porque sabem que sou pessoa séria, puro, purinho.


Atão não é que ontem acordei encantado?

Sorte, dirão vocês, mas não, já viram o qu’é uma pessoa deitar-se como sempre e acordar transformado em príncipe? É verdade que daria jeito a muita gente mas vejam lá a pouca sorte que havia logo de ter, ao invés dos das histórias, esbelto e formoso, não é que sou um canastrão? Bom, não me imaginem logo um Schreck, sou até mais bem apresentável que o do Mónaco: tenho mais cabelo, sou mais desenrascado e não, passe a publicidade, ressono tanto e dou pulos na cama, isso posso garantir-vos que a minha senhora me disse que lhe tinha dado uma noitinha santa. Vá lá... príncipe e com massa a vida não me há-de correr mal, julgam vocês né?

Vá lá uma porra, nã lhe contem, mas estou enrascado, atão não é que tinha uma escapadinha apalavrada com a Dra. Noémia, jurista acessora do vereador da Cultura da Cambra? E agora com’é que vai ser, com’é ca convenço que eu sou eu? Azar do camandro tudo já tão acertadinho! Íbis de Portimão reservado e pré pago, carro alugado e fornecido de viagra, não fosse o diabo tecê-las, porque já dizia o padre Cron “água benta e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Com’é agora chego ali às bombas da Galp, como combinado, e digo entra, bute pá bagnole e ela sem mais entra, é? Entra o caraças, ainda pensa mas’é que sou algum detective privado que o manso do marido, administrador da TELÉLE - EP lhe lançou às canelas.

Telefona-lhe primeiro disse-me o mê gand’amigo Abílio das finanças, cusca de primeira mas que eu tenho curto pela arreata pois se ele deu comigo mais a doutora na Mata do Guizo, por sorte minha trazia agachada no carro a sonsinha da Libélula, professora e diácona catequista em rgime pós-laboral.

O Abílio ou é parvo ou estava a ver se eu fazia a espargata; quem não sabe que os telemóveis só não apanham gente graúda e ainda assim porque os investigadores e outros curadores gerais podem menos que a rainha d’Inglaterra? Fiz-me de mula e deixei passar a conversa da treta, - o Feio esteja lá em paz onde quer que esteja, embora que, com ele lá, aquilo deva estar em polvorosa, pior que a 25 de Abril em final de mês de férias; se do céu se tratar, que os deuses protejam Deus que o imagino dobrado de riso, com dores maiores que as de pedra em rim.

Não há volta a dar, de qualquer forma, se a figura se me avantajou, em proporção inversa os tomates minguaram de tal forma que fariam os tomatinhos-cereja da minha amiga Jaquina, rebolarem de gozo se vissem o estado da minha pobre horta: mato não lhe falta mas os legumes coitados... fossem peixe e não passavam, de certeza, na lota tal é o seu tamanhinho.

Colhei a lição: tou bem encantado mas não m’alegro.

-Erecteu acorda, tens qu’ir ao pão e vai de me pespegar um safanão, a minha senhora. Despertei de supetão, nem resmunguei, agarrei-me aos tomates e agradeci aos deuses e rogando-lhes que o meu sonho de criança nunca se venha a cumprir.

d'aqui


The moment I wake up
Before I put on my makeup
I say a little prayer for you
While combing my hair now
And wondering what dress to wear now
I say a little prayer for you

Forever and ever
You´ll stay in my heart
And I will love you
Forever and ever
We never will part
Oh how I´ll love you
Together, forever
That´s how it will be
To live without you
Would only mean heartbreak for me

I run for the bus dear
While riding it I think of us dear
I say a little prayer for you
At work I just take time
And all through my coffe break time
I say a little prayer for you

Forever and ever...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Marmelar

Mas quem é que nã gosta de marmelar? Só quem não provou, claro! Marmelar é bom, e quem vo-lo diz sabe, imodestamente, do que fala.


Marmelar é já ali, para uns no cu de judas, é verdade, mas isso é relativo porque o cu sempre há-de ficar perto de alguma coisa, mais palmo, menos palmo. Cá para este vosso humilde, humilíssimo, humildessissimo até serviçal, Marmelar, dizia, fica a partir d’ontem a um palmito do meu coração e tenham em consideração que não sou homem de mãos largas nem de vistas grossas, juro-vos. A falar verdade, cousa que muito prezo, ainda que muito me custe e de que maneira, entrei por um lado, dei a volta à igreja e saí por outro, ah! Fiz uma paragenzita, pelo meio, na da Tereza Joaquina e já agora, precavendo, da do Paulo e do João, gente quentinha, como pão saído do forno, não desfazendo em V. Exas.
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Mas porqu’é qu’um cristão, não praticante, se mete ao caminho para destino desconhecido? Olhem, asseguro-vos que nã tenho vocação de Marco Pólo e se nã fora o Gerinho desinquietar-me não tinha passado pela Vidiguêra –Alô Vidigueira- para ver uma exposição da, ou do, Homocenter, que... nã comento, que, dizia, não tinha enfim, Marmelado, entenda-se: devassado uma casa tranquilamente vivida e trabalhada, não teria matado a fome a saudade esquecida, não teria comido melão disputado naco a naco, queijos de amolecer na boca, nao me teria inebriegado com bom vinho e amizade, não teria risos... e, por isso, marmelar é bom. Visitar o Alqueva, também; lavam-se os olhos na paisagem desenrolada por estradas que serpenteiam colinas, branqueia-se a alma.
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Depois, a noite cai e volta-se sem revoltas, com promessas muitas de até 30.
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WEHAVEKAOSINTHEGARDEN: Super-bactéria já em Portugal

WEHAVEKAOSINTHEGARDEN: Super-bactéria já em Portugal:
"Li a noticia que a Super-bactéria já foi encontrada em Portugal. Fiquei surpreendido porque pensava que já por cá nadava a contaminar o pa..."

Quando uma pandemia se vai há outra que se vem... em defesa da economia de mercado; o que seria da procura sem oferta?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

very britishly & polish

Têm por hábito, circunstancialmente, os britânicos falarem do tempo quando mais nada de substante ocorre.


Pois bem, hoje está um magnífico dia.

Pois está, retorquiria o interlucutor, very britishly & polish.

A minha alma lusa perante factos e sem argumentos, diria que ficaria parva e, complicada como é, pôr-se-ia a lucubrar se estaria um magnifico tempo para ocupar soldadinhos de fogo, secar o tomatal, aquecer a pele prenunciando uma corrida aos dermatologistas com direccionamento para o IPO ou se simplesmente os subidtos de sua majestade quereriam dizer que faz sol. Não sei nem me ocorre ir perguntar, lá longe, à entronada Elisabeth. Mas, pensando bem, poderíamos perguntar ao PGR que, segundo opinião sua, dele, se sente com poderes similares aos seus, dela.

But... porque não investigar? Consulte-se o tempo, AccuWeather.

Oh diabos! Estamos a ser invadidos por uma onda laranja e se nos ativermos exclusivamente a Portugal podemos apercebemo-nos de um triangulo vermelho de base irregular!

Não sabendo lidar com búzios nem ossinhos, estando a Maia de férias, não vos restam outras altenativas se não dar corda aos miolos ou auscultarem o Professor Erecteu, formado na escola da vida em para-psico-tudo-e-mais-alguma-coisiologia.

Oiçam pois a reportagem da Cêéneéne:

-Bom dia prof, queríamos...

-Já sê, saber como tá o tempo, né? Tá maravilhoso.

-E...

-Que vêja esse papeli, né? Nã preciso de veri, nem preciso de concentrar-mi. É o mapa de portugali onde está anexo uma futura nossa, província.

-Mas professor...

-O triangulo? Oh homi, qual triangulo, qual carapuça, aquilo é mas’é um losango, um losango assim com’a modos do triangulo das Bermudas. Trará muito afundamento, de fortunas fáceis, topa?

-Oh professor...

-O mê amigo se se tivesse dado ao trabalho de ler a mensagem...

-Que men...

-A de Pessoa, carago, como dizem lá os sês amigos galegos do norti. Aqui ao lemi sou mais do qu'eu, nã ta dou aquilo que n'é teu... e por aí a fora.

-Desculpe...

-Pois olhi, o losango prenuncia que o império se estenderá até ao Brasili, Portalegri assumirá o papeli da antiga Portucal, mas de manêra muito mais rênadêra...

-Reinadeira, quer dizer, a brincar?

-Nã, a rênar à força toda, mas alegremente.

-E quem vai reinar?

-D. Loição I, o Reinador d’aquém e d'alem mar

-Professor, diz isso com um ar tão sério...

-Então já nã posso eu reinar? Estou teso mas em férias, homem dum cabrão.


PS- Menos doutoralmente direi que é a imagem estilizada de um riso de escárnio a mal dizer sinas de quem não limpa florestas municipais ou nacionais, de quem apadrinhou o abandono dos campos subscrevendo PAC's ou Pec's, de quem guardou na gaveta, até à última, projectos de veículos eléctricos e, por ventura, guarda os de sintetização do hidrogénio; de mim que cortei aquele arbusto e aquela arvore, de ti embora não saiba porquê...


domingo, 15 de agosto de 2010

QI 30 / IQ 0

-Desculpa lá, Avozinha, mas exageras.


-Pronto, não faças essa cara, estás a dramatizar um pouco...

-!...

-Tá bem tens razão, não dês demasiada importância às palavras, mas c’os diabos, desculpa a expressão, o tempo passa e não queiras que eu seja o mesmo.

-!...

Claro que ainda gosto de ti, te adoro.

-!...

Não sejas assim, com’é que queres que ache piada às mesmas coisas? Claro que me ria quando me espetavas o dedo no umbigo, claro que adorava aninhar-me ao teu colo!!!

-!...

Não, ainda gosto muito de te ouvir, se bem que a história da Carochinha não me deixe hoje extasiado nem a sorte do João Ratão me cause pesar, não compreendes?

-!...

Desobediente? Oh Vó? Mas querias qu’inda andasse com as botas da “Chico”, por amor de deus! Se não deixei de ser chato, até aos quinze anos querias tu que o pé fosse ao sítio aos trinta e cinco?

-!...

- Surdo? E depois não queres que te diga que exageras! Se estou p’áqui a falar contigo, sou surdo, é?

-!...

-Que nem uma porta? Ok, mudemos de conversa, tá?

(finalmente a bucha)

-!...

Tá bem, não me fica bem, mas que queres que faça ao olho torto?

-!...

Que o endireite? Mas como?

-!...

Que não vire a cabeça, pó lado? Que olhe em frente? Mas se assim não consigo ver!!! E , já agora,olha, se andei dois anos com o olho tapado à pirata e nem os óculos me deixavas tirar enquanto dormia, porque os sonhos me podiam entortar os olhos...

-!...

Qual teimosia, qual quê? A Lagos, já te disse que não vou, quero lá saber dessa sumidade de médico Holandês, chiça! Desculpa, tenho qu’ir embora.

-!...

Tá bem, não volto tarde.

-!...

Tá bem, só bebo refrigerantes.

-!...

Tá bem, guio com cuidado.

-!...

Tá bem, já sei o qu’é cas raparigas querem. Tchau.

*

**


Mas afinal havia mais


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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Ladislau I

Há quem diga que não, eu não posso garantir que nã tava lá mas, cá pa mim aquilo deve ter sido, não, foi mesmo amor à primeira vista e ponto.


Encontraram-se por acaso:

ele - vagueando à toa metendo o nariz ora aqui junto ao quintal com a nespereira, ora ali frente ao portão da escola olhando desinteressado para os catraios, encolhendo-se à passagem de uma perseguição desenfreada por causa de um boné surripiado; achou por bem atravessar a rua para que o outro lado, então descampado, que se oferecia menos confuso; iniciou a marcha observando por cima da espádua o momento em que o larápio era alcançado, sobressaltou-se com a chiadeira de uns pneus e...

ela - ouviu o estrondo, viu-o ser projectado para a berma, bater no lancil e ficar prostrado. Correu para ele enquanto nos seus ouvidos ecoava um “meu Deus” saído sabe-se lá de onde ou de que garganta; acocorou-se junto dele e os piores receios pareciam confirmar-se face à imobilidade e à estranha flacidez que apresentava; pegou-lhe na cabeça e desatou num incontrolado choro quando lhe viu os olhos a entreabrirem-se, depois... levou-o, combalido, para sua casa, fez-lhe a cama na sala e ele sem se fazer rogado aconchegou-se e, parece que, antes de fechar os olhos lançou-lhe um sorriso agradecido.


Foi pois o início de uma relação assente em recíproca amizade e ternura, ainda que entremeada com amuos e ralhetes, uma relação linda de mais, de mais de uma dezena de anos, vocês sabem com’é, né? Ainda lhe doíam os ossos e já ele estava enfiado no quarto dela, pois então! Ladislau era assim e, afinal de contas cá pa mim são todos iguais, enquanto não se enfiam na cama delas nã descansam e... pumba, bem feito, ah ganda Ladislau.

E ela? Ela como todas as outras, ao principio não se importou e até achou piada (ele também) mas com o passar dos anos ela lá lhe foi apontando o seu lugar e frequentemente, Ladislau, batia com o nariz na porta e lá tinha que se resignar ao sofá da sala, pois então, que sempre é melhor que colchão no chão. Atravessava as noites cismando que a má sina e os anos se vinham apossando dele. A dor nos ossos do atopelamento já lá ia , é verdade, mas outras de mansinho chegavam, a uma articulação, depois a outra, depois a outra ainda... não sei que idade tinha e até ela acho que também não. Mas se a safada lhe fechava a porta do quarto, outras, muitas, lhe abria quando necessário, não importa a que horas da noite fosse para o socorrer, ora do coração ora dos rins qu’isto da idade não perdoa! Resta a lição que amor não é só cama, né? Pois é! Não deixar um amigo sofrer é acto de amor grande.


Por uns tempos deixei de ver Ladislau, dantes ainda os via passearem pela frescura da noite, estranhei, consta que o mandou abater.