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terça-feira, 14 de outubro de 2008

A crise já vem de muita longe

O nosso imaginário reflecte a imagem de Padeiras de Aljubarrota e Marias da Fonte. As nossas heroínas projectam, nos filhos, pelo menos neste filho da mãe, criado ao vosso dispor, valores que se foram tornando em dogmas.

A minha rica padeirinha, corajosa, capaz de enfrentar à pazada sete valentes castelhanos, não tem a existência confirmada e, reza a lenda, era feia que nem um bode não lhe faltando profícuos folículos pilosos.

A Maria, da tal Fontarcada, personificou a luta do povo contra: o recrutamento militar; a obrigatoriedade do registo de propriedades para introdução da contribuição predial; a proibição de enterros em igrejas, por questões de saúde pública.
Os Cabrãolistas, vai de impor; os mais avessos ao progresso, principalmente nas zonas rurais de acentuado fanatismo religioso, e os sobreviventes pró-absolutistas, vai de aproveitar a cena.


O rastilho aceso no Minho, rapidamente incendiou as Beiras, Trás-os-Montes e a Estremadura. (…) “feita por homens de saco ao ombro e de foice roçadora na mão, para destruir fazendas, assassinar, incendiar a propriedade, roubar os habitantes das terras que percorrem e lançar fogo aos cartórios, reduzindo a cinzas os arquivos”. Tal ia a moenga, heim!


Moral da história: cuidado com os mitos (principalmente os feios), porque para mito basto eu, e a Padeirita, coitada, se estava a ser fodida pelos liberais, não se livrou de ser enrabada belos absolutistas, que senhores duma ganda peida, para ela se estavam cagando.


Bom já viram que liberais e "neon"-liberais, nã papo e absolutistas nêm chêrari. Atão, (perguntam vocemessês) por aí nã se papa nada?

Pronto, vá lá, confesso que por vezes, com ou sem laranja, pactuo absolutamente.


Maria da Fonte - Vitorino

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Felizmente cresci numa época de abundância e optimismo.

Vivi olhando com alguma sobranceria a minha avó que dava cabo das lâmpadas num estranho ritual de apagar e acender luzes, comprometedor da esperança de vida dos filamentos, e entre sermões de necessidade de poupança. Herdei sem saber os tiques de guardar lixo que atafulham gavetas e dispensas com vista a uma necessidade futura, inevitavelmente relegado para o esquecimento não servindo absolutamente para nada.



Paula rego Untitled-10


Era enervante aturar as suas manias mas eu lá condescendia, julgo que de forma inconsciente, a troco do carinho que recebia.Os cortes para calças ou camisas eram comprados após avaliações de alturas ou larguras sempre tendo em conta uma folgada bainha dado vaticinar que eu ainda iria dar um pulo. Virava colarinhos e punhos, botavam-se solas e meias solas com protectores metálicos, tão do meu agrado pelo partido que tirava deles, mais não fosse, em sapateados balançados segundo a inspiração da última “cóboiada” ou episódio do Bonanza.
Na cozinha as metamorfoses sucediam-se em deliciosas propostas que podiam evoluir de cozido à portuguesa em empadão ou de carne estufada em croquetes tal como os restos de uma pescada cozida com todos se finava em deliciosa tortilha. A “roupa velha” não conta porque resultava de uma acção premeditada em vésperas de Natal.
Se uma torneira pingava havia algum recipiente que se encarregava de recolher durante o dia ou noite para posterior utilização em lavagens ou mesmo cozinhados.
Ah! as braseiras. Para quem seja familiar, eram dois ou três objectos que cirandavam pelos quartos da casa, incluindo o quarto de banho. Uma dela era a rica, de cobre, as outras, as de folha-de-flandres, não me lembro de lhes ter sido dito nada, mas seriam as pobres, coitadas! Por engenho da "velha" e o muito moer o ferreiro, sofreram um up-grade: uma grelha em ferro forjado, pensarão vocês que por questões de segurança, talvez; mas o certo é que levavam em cima com um jarro de esmalte que se não vertesse as águas numa espécie de bidé, para algum banho checo ou lavar de pé, acabava entre lençois numas botijas de barro ou em ultimo caso no alguidar de lavar a louça.
Tostão era tostão, lençol velho não morria como tal. O carvão do fogareiro, assadas as sardinhas, era salvo por uma baldada e ficava a secar esperando um carapau.
Com ela tudo produzia e se possível mais do que uma vez e uma coisa. No quintal, o que produzia sombra também produzia figos, as galinhas ou produziam ovos ou antecipavam a produção de carne e as desgraçadas das coelhas como nunca se habituaram a pôr ovos punham coelhinhos ou eram rapidamente associados à vinha-d’alhos.
Com a genica que tinha e capacidade de polivalência se me tenho lembrado de a inscrever na independente, não sei, com a crise que para aqui vai… Ambiente, Economia?




Paula Rego Assumption