segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Toca a todos

Vá-se lá saber porquê mas veio-me hoje à memória aquele dia longínquo em que, andava eu mais a maluca da Afrodite e dei com Zeus especado lá no alto do Olimpo, a uns bons 9.570 pés d’altitude, para ser mais preciso: 40° 3′ N; 22° 21′ E.

Nariz apontado ao sol que se punha lá para os lados da Ítaca, vi-o resmungando nos seus velhos trejeitos de velho, em pose pouco abonatória para a sua condição de rei dos deuses. Receoso colei-me à sombra de um penhasco e decidi dar à sola não fosse o cavalheiro, só para alívio do seu estado de espírito, descarregar algum raio como acontecera ao pobre Apolo que viu a sua beleza maculada, para sempre, ao ser atingido nas partes podengas deixando-o marcado pelo estigma de abrilhantar um testículo subido, como aliás se pode constatar nas diversas representações do coitado.
Foi um triste dia; fim de festa que decorria tão animada sem nada lhe faltar pois farra onde Dionísio metesse o dedo era sucexo garantido que nem Baco alguma vez se lhe assomou aos calcanhares.

Pensava eu ter escapado quando, minha mãe Geia m’acuda, o céu se iluminou e aos meus pobres tímpanos chegou tremendo arroto trovejante:
-Quod vadis?
Estaquei, se rabo tivesse entre as pernas estaria com toda a certeza, balbuciei: Quo quê? !!!
–Qual é a tua meu?
-Há!
-Então já nem se dá vaia?
A coisa estava a compor-se, mal por mal prefiro a sua bipolaridade, à esquizofrenia...
–Por quem sois, só não queria incomodar os teus pensamentos...
Largou um muxoxo à laia de sorriso, e convidou: -Puxa d’um calhau e senta-te aqui.
Que remédio... lá se ia a colheita d’azeitona pó galheiro! Fiz um sinal à Afroditinha pedindo um minutinho mas a cabrona virou-me as costas e lá se foi meneando as anquinhas.

O sol a pôr-se, a estrela do pastor a vir-se e o gajo... moita carrasco, qu’é como quem diz, pois lá voltou às falas com os botões ainda por inventar! De rompante:
-Olha estou a pensar em deslocalizar esta merda.
- Deslocaquê?!!!
-Bazar d’aqui pa fora, homem! Fazemos as malas e ala p’á itálica.
Cá pa mim o gajo nã podia, memo, soprar o balão!
-Eréchtheion, isto está pela hora da morte, já ninguém nos dá crédito e não tarda nada temos o FMI à perna, já tenho quase tudo hipotecado só me resta o monte...
-Qual monte?
-O Parnasso, qual havia de ser. Prepara-te, e diz à tua malta para fazer as malas.
-Tá bem tu mandas, Zeus.
-Olha a partir d’agora tratas-me por Júpiter, tá?

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