O Ti Alfredo Coelho já lá vai há
muito tempo, descanse em paz.
Atacava com o mesmo a vontade e
dedicação tractor agrícola, sachs e zundaps, motores de regas e tudo o mais que
metesse bielas e cambotas, isto “pa nã” falar de frigoríficos a petróleo ou
chocadeiras.
Era o que se pode chamar à
semelhança dos médicos: “MECÂNICO GENERALISTA” (ou, como se usa hoje: DE
FAMÍLIA), assim deveria constar no portão de sua garagem se tal fosse necessário...
Estou a vê-lo metido dentro do
fato de macaco que daria pelo menos para duas lebres -Muito macaco sobrava ao
Coelho! Revelando de falhas no marfim que a idade somara aos chupa-chupas da meninice
estou a ver risos abertos, emoldurados num rosto seco e rudemente talhado sob
uma cabeleira farta, negra e crespa que nem camadas de brilhantina punham na
ordem.
Ti Alfredo, generosamente, não se
negava a nada deitando mão a tudo e a todos que procurassem os seus serviços. Só
não era generosos com uma pessoa – consigo próprio, pois, na hora do quanto é, coçava
a gadelha torcia-se um pouco e a conta, sempre a mesma:
-Olha´, pá próxima... pagas tudo
junto,
Como se vê não era homem para
fazer mal a quem quer que fosse, tirando as porraditas que dava á mulher quando
o Sporting perdia e o copito tinha ido para além da conta. Como o fato de
macaco, era um grande homem enfiado em corpo pequeno, de simplicidade
despreocupada que a terceira classe dotara de muita sabedoria e cuja alma tinha
mais alminhas que o purgatório: ele era a alminha de artista, cantador de fados
canalhas, era o desportista, ás do pedal e do jogo da malha; ele era o
revolucionário distribuidor d’Avantes dando o corpo pela jornada de oito horas
de trabalho, ele era o filósofo que meditava, meditava e, não encontrando solução
para a questão, invariavelmente, rematava:
-Esta coisa tem gaitas!!!
Pois’é Alfredo, acreditas que não
me lembro da cor dos teus olhos? Esta coisa tem mesmo gaitas!
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