sexta-feira, 19 de junho de 2009

Raios e coriscos



O Olimpo todo ele se iluminou e tremeu: um raio saiu dos olhos de Zeus, a sua voz trovejando gritou:
-Quem és tu Erecteu para condenar ou perdoar?
Fosse Erecteu de fibra e com uns tintins no sitio, independente do tamanho, ter-lhe-ia respondido qualquer coisa que tiraria a deixa a uma Pessoa qualquer, na voz de um borrado marinheiro ( felizmente que o não fez tal a bronca que seria ver mais um ilustre acusado de plágio):

-Aqui ao leme sou mais do que eu, sou um deus que quer o que é teu… e por aí adiante, né?

Mas não. Erecteu meteu o rabinho entre as pernas e disse:
Oh Zeus, nã t’irrites, eu tava a brincar. E entre dentes: Foda-se que mau feitio!
Mais dois relâmpagos e respectivos trovões e Zeus: -Qu’é que disseste?
Já com os tomates roçando Gea, ouviu-se uma voz fininha: - Disse que tava a brincar, conheces o meu feitio.
-Há! Tá bem, assim, sim.
Ok. Caté logo.
-Ond’é que vais, menino?
-Ia ali mijar, estou mesmo aflitinho.
Tá bem, mas olha, vais-te pôr a dar ao dedo e refazer aquela merda do Deolindo. Agarras na ultima deixa da Docelinda e –o Erecteu saltava ora num pé ora noutro -aproveitas a cena da Lua e… -o gajo de joelhos juntinhos mijando-se pelas pernas abaixo: -Tá já apanhei a ideia, tchau.
Lá se foi o Erecteu, pernas abertas, deixando um rasto de pingos, tal como viera ao mundo.

À tardinha, ligou a sua máquina, um dois oito seis AT com coprocessador aritmético, disco de 40 e uns avantajados quatro megas de lembradura; acendeu um Clubmaster às escondidas e começou a bumbar:

Lá no alto a lua fugiu de uma nuvem, ou terá sido a nuvem que saiu da frente da lua?
Sinceramente não sei.
-Mas porque é que não me disseste?
- Oh Doce, não ligues a ninharias
-Quantas coisas mais tens escondidas de mim?
-Mais nenhuma. Não tenho nada, nadinha.
-Hum…
-Já alguma vez t’enganei?
A moça resolutamente disse que não, depois hesitou, pensou e acrescentou: Pelo menos que eu saiba...
-Tas a ver, querida… e entre neurónios –Nem te torno a enganar.
-Mas o que é que fazes aqui, afinal?
-Ganho umas massitas. Faço a revisão d’ “A Província de Angola”, pagam-me vinte paus à hora.
-Não é mau não senhora.
-Olha tenho qu’ir despachar ums artigo que ainda me faltam.
-E isso demora muito?
-Nâ filha, meia horita.
-Então espero por ti.

Nem dez minutos depois lá saiu Deolindo agora com as pernas à cavaleiro; os sapatos cambados até lhe davam uma certa gracinha. Enfiaram-se no carro.
-Onde vamos? À ponta da ilha?
Deolindo anui sentido a ponta a despertar e lá foram de janelas abertas, cotovelos de fora, mãos dadas metendo as mudanças numa simbiose perfeita.

Chegados lá não perderam tempo. O amasso era tanto que o carro fumegava e não me parece que fosse do cacimbo no capot.

Na rádio passava o “Café da Noite em Boa Companhia”. O João Canedo estava a por sua conta porque o Sebastião Coelho já se tinha posto nas putas, do éter veio:
.



Valsinha
(Vinicius de Moraes - Chico Buarque)

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito
De sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente
Do que sempre costumava olhar
E não mal disse a vida tanto quanto era seu
Jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto
Pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo
Não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a
Guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como
Ha muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça
Foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança
Toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade enfim
Se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos
Roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

2 comentários:

vague disse...

esta música tem o condão de tocar nalgum ponto g da alma, de tão bonita :)

'independentemente do tamanho', rs

Erecteu disse...

Pois é! Esta vaga não passa de voga.
Bj.