Bird Girl - Antony & The Johnsons
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Palavras ... o vento leva-as
Tás frito Jaquim
Para quê gastar Latim
o que tem de ser tem muita força
A partir daqui esta história perde o interesse. As cartas estão dadas, joga-se sem trunfo, manda quem tem melhor mão. Instala-se a rotina:
Docelindo acompanha Deolinda a casa. D. Fernanda de Miranda adverte. Docelinda chuta para canto.
D. Quinhas vê preocupada o seu menino em metamorfose ir tecendo um casulo. Observa-o a manusear livros que até ali, naquela casa, não tinham tido lugar. Embora mais presente sentia o neto ausente.
-Lindo, tu está com problema? Teve que repetir.
-Não velha. Descansa. Acho que os deuses deitaram o rabo do olho para mim.*
-Lindo, tu está com problema? Teve que repetir.
-Não velha. Descansa. Acho que os deuses deitaram o rabo do olho para mim.*
E garanto-vos que estavam mas há deuses e deuses, melhor será que aqueles que gostam de pregar partidas tenham ido espreitar a face escondida da lua.
D. Quinhas moxoxou abanando a cabeça e foi espreitar os quiabos que tinha posto a suar junto com cebola e tomate num fino lençol de óleo de dendem, o feijão encarnado esperava pela sua vez, ao lado morninho, todo inchado. Depois, era o jantar a dois sem muita poesia mas muita ternura selada no fim com um beijo na testa antes da sortida da noite, para no outro dia tudo se repetir.
Houvesse então eme-eme-esses e a coisa seria diferente, mas não havia e os pensamentos de Docelinda ficavam com ela não chegando aonde deveriam chegar.
No outro dia tudo voltava ao mesmo, o que é que querem que vos diga, era assim! Foi assim durante muito tempo. Docelinda fez dezoito anos, tirou a carta, apareceu com um Hillman Imp quê se fez a inveja das amigas, muitas alegrias também lhes deu.
Está-se mesmo a ver onde foram parar os passeios de mãos dadas, não é?
Pois, é. Agora tudo é diferente. Docelinda dá boleia para cá e para lá e agora quem xinga é D. Quinhas.
-Meu filho, tem cuidado essa branca ainda te vai magoar.
Oh vó! Não fales assim.
-Estou-t’avisar.
Passou Deolindo a chutar para canto que D. Fernanda de Miranda amansou desde que o maltês deixou de rapar o pé à sua porta
A bronca estalou quando Deolindo foi apanhado com a boca na botija. Ia Docelinda pela Salvador Correia a caminho do Restauração quando viu Deolindo caminhando pelo passeio. Parou o carro para o chamar mas um camião do lixo retirou-lhe a vista, quando ele se foi também já ele se tinha ido. Simplesmente esfumara-se. O fumo assaltou-lhe a cabeça e como muito sabemos não há fumo sem fogo…
Quando chegou ao cinema procurou o seu lugar no meio do escuro da sala e da alma. O Bugs Buny corria à frente de tiros de caçadeira depois nem Louis de Funes chegavam para lhe secar as lágrimas… havia de pagá-las, prometeu.
No dia seguinte não houve boleia para ninguém.
Nessa noite montou a espera, não haveria carro do lixo que o salvasse. Viu-o vir naquele passo gingão, dizer uma graçola qualquer a duas miúdas que passavam, as pernas deles pareceram-lhe mais tortas, os sapatos mais cambados. Deixou-o entrar no prédio, saiu do carro sem se dar ao trabalho de fechar os vidros, e acometeu decidida.
Empurrou a porta de madeira e espreitou. Lá do fundo vinha um surdo matraquear, ao cimo das escadas viu luz, subiu furtivamente assomou a cabeça ao plano do chão e viu uma desordem de pés de gente e de secretárias.
Uns pés avançaram direitos a si, precipitou-se escadas abaixo e a três passos da salvação foi detida por uma vós.
-Que deseja?
-Desculpe, devo ter-me enganado.
-Malta, gritou ele por cima do ombro, temos passarinha no ninho.
-É bico de laca?
-Não sei venham ver.
Aterrorizada ouviu um tropel.
-Ná. Para mim é peito celeste.
-Deixem a miúda.
-Hô hô temos cavaleiro andante.
-Deolindo aproximou-se afastando-os um a um, passou o braço pelos ombros de Docelinda e levou-a para o calor da rua.
-Que deseja?
-Desculpe, devo ter-me enganado.
-Malta, gritou ele por cima do ombro, temos passarinha no ninho.
-É bico de laca?
-Não sei venham ver.
Aterrorizada ouviu um tropel.
-Ná. Para mim é peito celeste.
-Deixem a miúda.
-Hô hô temos cavaleiro andante.
-Deolindo aproximou-se afastando-os um a um, passou o braço pelos ombros de Docelinda e levou-a para o calor da rua.
Lá no alto a lua fugiu de uma nuvem, ou terá sido a nuvem que saiu da frente da lua?
Sinceramente não sei.
Sinceramente não sei.
*com direitos, mando um abraço ao autor.
*
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I am a bird girl now
I've got my heart
Here in my hands now
I've been searching
For my wings some time
I'm gonna be born
Into soon the sky
'Cause I'm a bird girl
And the bird girls go to heaven
I'm a bird girl
And the bird girls can fly
Bird girls can fly
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