domingo, 28 de junho de 2009

fêjanito nã cai do céu


Guarda o Teu Amor Para Mim - Fernando Girão

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Uns alinhavos arrebentam-se. Outros pontos se vão dando; dia a dia, cerzindo o tempo; como as aranhas, construímos teias de geometria imperfeita.

Os livros ao abandono aguardam arrumo mas há muito tempo para isso. As férias têm o encanto que o cacimbo permite. As praias desertas acolhem grupos que vão chegando em pachorrentos machimbombos ou em boleias que mamãs concedem a troco de recomendações de juizinho. Grupos em roda de meninas tagarelam orgulhosas nos seus falsos biquínis prontamente baptizados de “ ora-bolas”, passado os olhos desinteressados pelos toques de bola, lutas-livres e flic-flacs dos rapazes.
Um par ou outro afasta-se procurando conchinhas para mais além estender as toalhas e de barriga para a areia partilharem inadvertidamente os cotovelos. Por vezes, muitas, dedicam-se aos cuidados da pele besuntando as costas uns dos outros com uma mistura de óleo de coco e tintura de iodo levando tais cuidados para alem de limites em que as ditas mudam de nome.
Pela manhã era isto mas pela manha havia um momento em que Docelinda alçava no seu Imp para trazer pá malta umas coca-colas coadjuvada por Deolindo que tinha bom físico para carregar. Ao princípio as bebidas chegavam fresquinhas mas, com o passar dos dias, foram de mornas a quentes, vá-se lá saber porquê.
Pela tarde, o maralhal tertuliava aqui e ali, montados em muros ou nas costas de bancos de pracetas dispersas bairros fora. Alguns privilegiados, em terraços ou garagens, faziam lentos balanços a 45 rpm; Adamo, Morandi e Montand eram, entre outros, convidados especiais.
Bonito, né? Quase três meses à boa vida não se tornasse isto num ramerrame. Paciência.
Então vamos lá dar um jeito a isto.
Tiremos Docelindo do seu trabalho nocturno. Reconhecidas as suas qualidades de trabalho e a sua competência linguística, passemo-lo para a tarde.
-A partir de amanhã passas para a redacção.
-Oh chefe, mas eu já tinha…
-É isso mesmo já tinhas mas não tens.
E pronto. Bons tempos em que era tudo fácil sem atropelos comissões de trabalhadores nem conteúdos funcionais a atrapalharem.

Continuando então a história: Praia de manhã com coca-colas, óleo de coco e tintura de iodo a rodos; à tarde marmelada para alguns e casos de policia mais obituário para Docelindo; à noite… à noite, quando em vez uma escapadela à boite, ao Flamingo de preferência onde Verynice e a sua banda desancavam os corações femininos e se alimentavam ódios movidos a testosterona. Digo quando em vez porque chefe é chefe e quando o chefe é bom, como é o caso, lá arranjava umas noititas ao Deolindo que no dizer dele sempre lhe haviam de fazer jeito à bolsa e, silabando, à ca-rrei-ra!. Quando isso acontecia estão a imaginar os pulos que, figurativamente, o moço dava, né? Pois é! Só não batia com a cabeça no tecto porque a raiva não era assim tanta e o desalento de uma parte de Docelinda desperdiçada, tudo junto somado, não era superior aos benefícios que o part time, lhe trazia.


A vaidade paga-se e o estômago requer assistência;

calcita bangosa “La Finesse” e feijão não caem do céu.

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