quinta-feira, 11 de junho de 2009

Palavras ... o vento leva-as.



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stória stória - mayra andrade
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Troco um dia de poesia por uma vida de ilusão.
Contrariamente à norma, virou-se.
Ah! És tu Deolindo e ponto, sem réstia de exclamação e muito menos de interrogação. O mulato corou, gaguejou, sem buraco para se enfiar e porque recuar não lhe ía no estilo, imaginativo, saiu-lhe na perfeição

- Ah, és tu Docelinda. Vejam só!


Se Docelinda achou piada ao dichote, mais piada achou à atrapalhação reforçando a sua segurança.
Queres vir comigo? Deolindo apontava rua abaixo, rua acima; coitado parecia um policia sinaleiro. Pior que um homem atrapalhado… só dois, né?


-Anda daí.

Apardalado seguiu-a; entre comichões no naris e pigarreios, levou quase um quarteirão a recuperar. Olhando-a pelo canto do olho viu-a abraçando os livros contra o peito não escondendo um sorriso malandro. E assim foram passeio fora, em silêncio, de sombra em sombra que as poucas árvores proporcionavam. Deolindo meio a medo dirigiu-lhe a mão ao peito, ela, fulminou-o com um olhar, meio estarrecido… -Eu levo-tos, disse, apoderando-se dos livros. Corada baixou a cabeça, escondeu o rosto com as mãos, parou e largou uma sonora gargalhada, ele respondeu com outra.

Assim, sim, digo eu, está estabelecido o equilíbrio, pelo menos no que diz respeito a rubores. Mas foi bom.

Dali para a frente não se calaram, vocês sabem como é, coisa de pouca importância: Beatles, actores e filmes bastaram até ela dizer: -Moro aqui; e ele: Ah!
Ela entrou o portão da vivenda e ele lá seguiu os seus passos, sem saber bem para onde.


Mas isto não pode ficar assim, porra! Mas quem manda aqui? Deolindo volta, já, depressa.


Deolindo voltou-se deu uma corrida apanhando-a ainda a meio da porta de casa. –Docelinda, logo vais às aulas?
-Claro.
-Posso…
-Podes, espero-te às duas.


Vejam como vai agora Deolindo assobiando baixinho com o coração a rebentar.

Docelinda entrou em casa chamando a mãe. –Estou aqui, filha. Aproximou-se feliz da mãe que compenetradamente ajeitava um arranjo de flores colocadas sobre o piano junto à janela e beijou-a.
Dona Fernanda de Miranda, retribui docemente o beijo.
-As aulas correram bem?
-Muito bem mãe.
Quem era aquele fulano?


Fulano? Cá para mim o caso está pior parado que crédito em época de crise.
Oh Mãe!!! É um colega.


Hum!!! Vai lavar as mãos para irmos pá mesa.

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