domingo, 25 de fevereiro de 2007

Indefinível - BIII

Um vermelho vivo intenso acetinado, números amarelos perfeitos contornados por um filet! Acordou feliz com o sonho. Correu sem se vestir para o quintal e estacou perante a visão. Pareciam onze bacalhaus espalmados as camisolas secas e rijas. Uma indescritível muralha castanha, ria-se dele, contorcia-se e ondulava ligeiramente ao sabor da brisa.
Desalentado sentou-se na celha da roupa, parecendo-lhe que era hora d'embalar a trouxa e zarpar.
Foi buscar a lata de tinta e o pincel com que a avó marcara os socos da casa e resignado começou a marcar os números. Por momentos animou-se ao perceber que o algodão cedia e perdia a rigidez; uma a uma foi dispondo de novo as camisolas na corda para que secassem. Terminada a tarefa agarrou num naco de pão, barrou-o com manteiga de pingo e foi sentar-se no peal da porta contemplando o trabalho alinhado por ordem crescente.

Batia o quarto para as dez na torre de Santiago.
-Não lhes mexas c’ainda nã tão bem secas, recomendou ao Garrincha.
-É só pa ver, pá, tá porrêro, pá.
Sentiu-se confortado, mas a opinião de Garrincha contava pouco porque a esse tudo satisfazia; tentou confortar-se com a ideia de que ao longe o efeito nem era mau.
-Temos qu’ir Rochinha, a malta deve estar-se a juntar lá no largo.
-E se borram?
-Borram nada. Afirmou seguro o Garrincha depois de fazer o teste dedo.

Lá foram eles com elas de braçado para serem recebidos com manifestações de alegria ao assomarem.
Depositaram as trouxas no caixote da Malcriada que lhe servia de banca, junto à Sopa dos Pobres, envolvidos pela ansiedade de tocarem o novo equipamento.
-Tenham calma, arredem porra. Garrincha, podes começar a distribuir.
-Eu? O puto não compreendia, a razão de tal investidura, não acreditava. Ultrapassada a surpresa começou compenetrado: Zé Galo e deu-lhe a branca de mangas compridas, com o um ocre nas costas prantado para seguir com as outras.
-Ganda pinta! Gritou o Zico já de camisola enfiada.
-Uma merda, rosnava o Pica, ist’é qu’é encarnado? Olha-me pa esta merda! Mostrava a camisola amachucada na mão.
Ui! Estralou a confusão.
Foda-se pica, cresceu para ele Garrincha, o qu’é que queres?
-Isto, ist’é qu’é encarnado, caralho?
-Zé Galo meteu-se no meio a tempo.
-Não sei que cor é, disse o Boleta, médio ofensivo de muito poucas falas, mas é a cor do União, para rematar certeiro:

-E não há nenhum clube com cor igal à nossa.

15 comentários:

o alquimista disse...

Tu és um escriba de alta qualidade...os teus textos mereciam outro suporte...


Abraço

Elipse disse...

Também concordo com a qualidade das evocações que aqui nos trazes. É um prazer ler e visualizar as cenas descritas.

Maria Arvore disse...

Umas camisolas tão bonitas e tem logo um de rematar. Embora se calhar não era encarnado ;) mas, na época, não se podia dizer vermelho, não era?... ;)

Nanny disse...

A confusão estralou que nem uma bomba...

E porque não deixa ele jogar o Biegas à baliza? Que mandão!

(ficaram castanhas, hehehe! não faz mal assim não se confundem com mais ninguém...)

Beijo da gata

Maria disse...

Eu gosto da cor :P
É original :P

psique disse...

estes teus escritos dão vontade ler e ler... continua quero mais... a cor é magnifica...
beijinhos

DF disse...

Tenho um irmão que podia bem ter pertencido a essa pandilha... tb jogou num União e tudo, vê lá...:):)

Mary Lamb disse...

Brilhante!

rui disse...

Olá Compadre

O meu amigo poeta alquimista (também ilhéu) tem toda a razão, os teus escritos merecem outro suporte.
É verdade, tens a capacidade de engendrar situações e descrevê-las.

Grande abraço compadre

rui disse...

Compadre,


Só agora reparei na tua foto!

Cuidado com a menta :)))
Está demais!

Abraço

Abssinto disse...

Vestem a camisola e pronto, nao importa a cor:) Grande boleta, com essas plavras finais é como se tivesse marcado um golo! abraço.

Joana disse...

Erecteu,

Acredita que recentemente dou por mim a observar situações e a pensar quase reflexivamente que só a sua pena é que as descreveria condignamente?!!!

Mais um texto fantástico a comprovar esta minha intuição.

Jinhos.

Lara disse...

Vim dar-te um jinho, e agradacer as tuas palavras keridas no meu blog. beijooooo

eu volto

Anónimo disse...

grande blog gostei!

Erecteu disse...

Ab,
Obigado. Na verdade já me suporto mal e à rasca aqui.
Um abraço

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Vermelho acabava no posto, tens razão foste perspicaz.
Beijinhos

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Psique,
Uma adepta do United beteerraba color :)
Beijos

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O USA tá a precisar de reforços. Manda-me a ficha do mano, ok?
Beijinhos

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MWALL
Shinning! Mete medo
Obrigado mas não exageres.
Um beijo repenicado.

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Compadre Rui,
Corria o risco de ficar insuportavel. Neste registo sinto-me bem e em equipa que está bem não se meche, diria o Rochinha.
Mind the menta.
Um abraço

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Absinto,
O Boleta pouco erra por pouco falar, e âs vezes sai-se bem e "mai nada".
Um abraço.

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JJ,
Grande e saudoso esxtremo do Vitória.
Não digas a ninguém mas eu nã descrevo nada. Nunca chego a onde tinha pensado ir. Os textos fogem-me debaixo do teclado, vão para onde lhes apetece, é uma porra.
Beijão,

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B
Prometes? Põe-te bem
Fico à espera.
Beijinhos

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Geo,
Fui a trás de ti.
18? Em cada perna, não? Daí talvez, para teres tesão para assistires a três ao mesmo tempo ;)
Ai esta geração... ;)
Um abraço

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