quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Barrocas I

Ah malandra! – atazanava ela – Olha-me para esses pés, olha-me para essa blusa, para essa saia!
Fora apanhada a esgueirar-se para a casa de banho. - E isto é que são horas?

Para trás ficara o primeiro dia de férias. Sorrateiramente, logo que a avó, bem cedo, saíra de casa, voou para fora dela a morder o pão com goiabada, sem tempo de afivelar as sandálias, ao encontro da felicidade. E a felicidade morava, logo ali, onde terminava o alcatrão e começavam as cubatas: a do Dudu e da irmã, a do Lelé e das irmãs, restos entalando a casa de dois andares do Victor e do Alfredo, filhos do Sr.Silva camionista, que assinalava nova fase de conquista dos muceques, por uma cidade em expansão emperdenida. Vagueou entre elas perseguida pelo Pirolito. Ah o Pirolito! -cauda enrolada entre as pernas, em permanente zig-zag, no seu branco sujo manchado de negros, primeiro e incondicional compincha de todas as brincadeiras. À segunda volta, Lélé saindo de sua “casa”, espreguiçando o corpo dourado, costelas para fora, num cristo mal amanhado, recebeu-a com um muchocho, facilmente ultrapassado com a partilha do pão que ela roía e ele fez desaparecer em duas penadas; a Dudu bastou a primeira conversa para se apresentar com a sua carapinha desalinhada, dentes a destoar em tanto preto; o milagre do pão que restava aconteceu, mas pela última vez. Passivamente assistiu à decisão da programação do dia: Barrocas do Porto, por unanimidade e sem aclamação. O coração apertou-se-lhe porque barrocas não seriam brincadeira para ela, sabia-o bem. Viu-os recolherem as fisgas, escolherem as melhores pedras, as redondinhas, e partirem. Os “Bicos de Lacre” e “Peitos Celeste”, Cucos até, que se cuidassem.

Trepou à macieira da índia, escolheu as madurinhas, seguindo-os, lá do alto, viu-os atravessar o campo da bola para atalharem nas cubatas mais além.


Serenata do adeus.mp3 - Duo Ouro Negro

4 comentários:

robina disse...

Fez-me lembrar "o meu pé de laranja lima"


Olá :-)

Erecteu disse...

Robina :) olha que isso é pecado, José Mauro de Vasconcelos !!! De qualquer forma... olha pa mim tão impadinho ;)
Pode ser que me tenha ficado na memória alguma coisa desse agri-(tão)doce livro.
Bjs.

Maria Arvore disse...

Esta história está madurinha em cada linha. Mham mham! :)

Erecteu disse...

Maria :)
Até onde irá? Vamos ver se chega ao final do dia...