quarta-feira, 25 de abril de 2007

Cá o rapaz é assim VII






Arregalou os olhos e virou-se para a prima, dando com um sorriso d’orelha a orelha.
Contagiada, acabou por rir também, mudando de assunto.
-Mas o que é que pensas fazer agora?
Dina arqueou a sobrancelha, desfez o sorriso, olhou para o tecto.
-Quem é que te disse que estou a pensar? Não te preocupes, cortou.
-Mas…
-Mas nada. Virando-se para ele:
-Estás a gostar assim tanto? Tens de me dar uma ajuda, não estou com grande apetite.
Guta remexeu-se na cadeira, endireitou ainda mais as costas e resolveu atestar as baterias para o outro lado. –O que faz?
-Sou agente comercial, produtos de cosmética, respondeu ele, à inevitável pergunta. Trabalho com diversas marcas, se quiser alguma coisa dê-me uma lista que eu arranjo-os a um preço jeitoso.
Foi a vez de Dina mostrar alguma surpresa.

Entre trivialidades o almoço foi decorrendo melhor do que às tantas se adivinhava. De nota, somente o entrar de um casal, que foi encaminhado para um canto acolhedor. Teriam passados despercebidos não fosse o enlevo da rapariga em contraste com o mal disfarçado distanciamento do acompanhante. Pai e filha não são com certeza, pensou ele após uma análise sumária.
Acabou mesmo por dar uma ajuda a Dina que de facto mal tinha tocado do que se servira, e bem pouco tinha sido.

Chegada a altura da sobremesa, não houve unanimidade. Bolo de mel (de cana) para ele, salada de frutas tropicais frescas (papaia, abacaxi, manga), para Dina, enquanto Guta optou pela mousse de "maracujá".
-Dia não são dias, desculpou-se ela, vitima de alguma interior culpa.

A refeição chegava ao fim, Guta querendo aparentar naturalidade, acabou por abordar Dina, desajeitadamente. –Onde é que estás, dá-me o teu contacto. Mas foi desviada para canto.
-Dá-me tu o teu, depois ligo-te.
Acabaram por pedir os cafés. Atenciosamente foi-lhes oferecido um vinho da Madeira, recomendado como excelente digestivo. Ele declinou sendo-lhe então sugerido uma aguardente.
–Caseira, sublinhou o empregado.
–Isso sim, anuiu ele.
A simpatia não ficou por ali, aceitou o charuto oferecido.

-Para onde vais, Dina?
-Deixa-nos numa paragem de autocarros.

A negociação continuou tendo Dina, por fim, aceite que os deixassem no Centro Comercial.
A volta decorreu sem o entusiasmo da ida. Antes de os deixar Guta cedeu-lhes o número do telemóvel. A ela fez-lhe prometer que lhe ligaria; a ele que aceitava os préstimos. Iria ver do que precisava que depois lhe diria.
Com isto se despediram.
Guta viu-os serem engolidos pela pequena multidão que entrava e saía do centro comercial.
Ficou-lhe a imagem dele mochila dela a tiracolo e a dela apoiada no braço dele.

9 comentários:

Fresquinha disse...

Este senhor frequentava a minha casa todas as semanas. Grandes tertúlias em casa dos meus pais. No tempo da outra senhora, em Lourenço Marques. Cresci a ouvi-lo. Em liberdade.

Rafeiro Perfumado disse...

(sacudindo as pulgas)

Enleante. É a descrição que melhor descreve a tua escrita. Para os que vierem cá e não quiserem ir ao dicionário (como eu fui), é um elogio, ok?

Um grande RAUF para ti!

psique disse...

clap clap clap ... ( palmas) e um beijo

Maria Arvore disse...

Como se diz na zona de Coimbra: quanto mais prima, mais se lhe arrima. ;)

E tu continuas a pegar nas teclas e a projectar-nos filmes com pessoas lá dentro. :)

(A despropósito, o meu 1º namorado, aos 9 anos, fazia-me ouvir fados de Coimbra do Zeca ;)

DF disse...

Mas a nossa Dina anda com pouco apetite, coitadita... Quando é que te descoses quanto ao problema que assim a deixa? (mesmo assim, ao maracujá em mousse, não resistiu.... Tá certo!:):))

Arauto da Ria disse...

Devagar se vai ao longe.
Um abraço.

Maria disse...

*vim deixar-te um beijinho antes de ir para a cama.

Anónimo disse...

Erecteu


vem ..vem dançar comigo....

o que levamos da vida?

a alegria , o prazer da amizade...a paz do gostar....

amigo querido

beijos

grande Zeca Afonso
della (fuser)

Fresquinha disse...

Obrigada, Erecteu. Faz-me lembrar os meus tempos de menina e moça. Beijo grande !