Nã sê dançar, nã sê cantar e canto, por vezes danço levado a reboque desta ou daquela.
...
Recolhi-me naquela sala vermelha fugindo de um luar que me sufocava, que roubava o brilho às estrelas para o entregar, cúmplice da humidade fria da noite, à pedra da calçada. Aqui prevalece a penumbra, as palavras ciciadas não adquirem significado, os gestos são lentos, aparentemente calmos; as mesas abandonadas fazem companhia aos instrumentos lá no canto, aquele cigarro esquecido, esvaindo-se, liberta o fumo que desaparece no ar, mas dele fica o doce cheiro.
Vou sorvendo a bebida que me aquece a alma fria à medida que me afasto no tempo, resistindo ao regresso do vermelho desta sala turbulenta aquecida no embalado movimento de corpos e olhos colados, na cadencia sincopada das notas libertadas de um piano e do acordeão que abraças em meneio do corpo e, resisto, à perseguição do teu olhar vergando o meu. Não é verdade que estejas diante de mim, que me tomes e me arrastes, me domes a compasso de um piano tocando só; como marioneta presa dos teus dedos, suspensa nos teus braços e do calor da tua respiração, perco-me. Quero esquecer, o que, mudamente, disseste com o arquear de sobrancelhas, e me apartares do teu copo, rodopiando; quero esquecer as promessas que fizeste com os lábios fechados, ao tomares-me de novo; quero esquecer a última nota do piano pairando no ar, o teu corpo sobre mim debruçado, tal como a melodia do teu rosto.
Soam acordes, para me despertarem, trazerem a esta sala vermelha, quase cheia; o piano ataca seguido de um violino, um par entrelaça-se, por um momento quietos, desafiam-se num olhar e partem sem acordeão.
Quase tudo te perdoo, mas o teres levado outra na tua última viagem de mota, não. Um dia esquecerei o teu rosto, até o teu cheiro, talvez.
Percanta que me amuraste
en lo mejor de mi vida,
dejándome el alma herida
y esplín en el corazón,
sabiendo que te quería,
que vos eras mi alegria
y mi sueño abrasador,
para mí ya no hay consuelo
y por eso me encurdelo
pa´olvidarme de tu amor
Cuando voy a mi cotorro
y lo veo desarreglado,
todo triste, abandonado,
me dan ganas de llorar;
me detengo largo rato
campaneando tu retrato
pa´poderme consolar.
Ya no hay en el bulín
aquellos lindos frasquitos
adornados con moñitos
todos del mismo color.
El espejo está empañado
y parece que ha llorado
por la ausencia de tu amor.
De noche, cuando me acuesto,
no puedo cerrar la puerta,
porque dejándola abierta
me hago la ilusión que volvés.
Siempre llevo bizcochitos
pa´tomar con matecitos
como si estuvieras vos,
y si vieras la catrera
cómo se pone cabrera
cuando no nos ve a los dos.
La guitarra en el ropero
todavía está colgada,
nadie en ella canta nada
ni hace sus cuerdas vibrar.
Y la lámpara del cuarto
también tu ausencia ha sentido
porque su luz no ha querido
mi noche triste alumbrar.
8 comentários:
Huummm
O ambiente desta sala vermelha, ao som do tango... ;-)
Beijocas, rapaz
O convite é geral. Só personalizei o das gajas esquecidas. E tu não és gaja; nem esquecido :D
Estava à espera do teu. E adorei!
Nanny,
É só entrar, as bebidas são por conta da casa.
Hipatia,
Sabes lá o que eu sou, nem eu!!!Bem esquecido sei que sou e nem posso dizer que seja da idade, já vem de caninito.
Ainda bem, que gostaste.
Bjs.
Erecteu,
acabaste de provar que sabes dançar.:) Parece que basta puxares o teu lado feminino. ;)
Os requebros das tuas palavras têm o ritmo da sedução. :)
À custa de tanto dançar as estopinhas, alguma coisa ficou. Ficou o gosto, até!
Digamos que, passei da necessidade primária do uso da dança, para usufruto do fruto proibido, para o nível 2, o do desfrutar o apetecido ;)
Óh meu marreco savcana, afinal também tens um lado feminino? Mas não te esqueças de ir primeiro à depilação, senão ainda dizem que a mulher barbuda fugiu do circo. Obrigado pela foto que te roubei...
Depois de inúmeras tão bem passadas noites, só agora é que descobriste!!!
Rais ta partam
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