terça-feira, 7 de outubro de 2008

JOÃO SILVA, II

O COMUNICADOR

Tinha que ser. As fabulosas memórias e histórias de João Silva não se podiam perder.
Incluo-me entre aqueles que insistiram para que ele passasse a papel ou a outro suporte duradouro os divertidíssimos episódios por ele vividos ou presenciados e que, de viva voz, nos foi contando ao longos de anos de convivência e amizade, em almoços, encontros, viagens e, aqui que ninguém nos ouve, no próprio local de trabalho. Foram momentos de profundos prazer e aprendizagem.
De prazer, porque João Silva é dotado de um poder de comunicação que pede meças a muitos comunicadores encartados, com a vantagem de ser senhor de um humor fino e inteligente. Ouvi-lo é uma delícia, sempre. Onde ele está é uma festa.
Mas ao mesmo tempo sentimos estar perante um homem sério, de vas­ta cultura e duma mundividência fora do comum, demonstrando, em cada momento, que nada do que é humano lhe é estranho. A sua memória não vacila e, malgrado não ter frequentado academias nem elites intelectuais, impressionam o leque e o volume dos seus conhecimentos. Bento de Jesus Caraça, cujo funeral João Silva filmou e por via disso foi pela segunda vez parar aos calabouços da polícia política, teria sem dúvida rejubilado por encontrar nele os elementos fundamentais do que designava de cultura integral do indivíduo, isto é, uma cultura com sentido ético, que se adquire em contacto com o mundo e intervindo sempre no sentido de fazer desse mundo um lugar melhor, porque mais justo. Homens deste calibre não são, infelizmente, assim tão frequentes.
Estou convencido de que João Silva sempre entendeu ser esta a primeira condição para se sentir bem consigo próprio. O seu conceito de felicida­de passa por aqui. Esta tem sido a plataforma segura donde tem tomado balanço para novas aventuras e experiências, incluindo esta de, aos 90 anos, abalançar a escrever Rocha Chenaider. Eu fui testemunha do seu processo de elaboração. Primeiro, manuscreveu algumas histórias. Depois, convenceu-se de que a coisa poderia resultar melhor desde que passada a computador, e assim fez. Acrescentou-lhe novos títulos. Reorganizou-os e publicou-os no blogue que deu o nome ao livro. A isto chama-se ter capacidade, organização, força de vontade, criatividade e modernidade.
Para quem o conhece, nada disto é novidade. João Silva assume em tudo o que faz a atitude exigente, rigorosa e estrutural do artista, que sempre foi e continua a ser, como comprova este seu livro. No seu trabalho de repór­ter fotográfico na CGTP-IN, que me lembre, nunca falhou um serviço, e em todos eles conseguia um ou vários "bonecos" de se lhe tirar o chapéu. Nem que, para isso, tivesse de subir até quintos andares sem elevador ou trepar a candeeiros de iluminação das ruas e avenidas onde a CGTP-IN se manifestas­se. Punha neste trabalho o mesmo empenho e fervor que, sabemos, aplicou no seu labor cinematográfico com ilustres realizadores como Jorge Brum do Canto, Ettore Scola, entre muitos outros. Mas não se preocupava apenas em fazer bem, preocupava-se também com a qualidade do produto final e com a sua possível repercussão. Foi por isso que, por exemplo, desenvolveu uma autêntica cruzada para que se salvasse, através de microfilmagem, o espólio de imagem da confederação.
Pessoas destas engrandecem as organizações com que colaboram. Com Rocha Chenaider, autor e editor ficarão quites.

Hermínio Fernandes,
Ex-coordenador do Departamento
de Informação/CGTP-IN

1 comentário:

Fernando disse...

Foi com grande satisfação que ao fazer uma pesquisa sobre o lançamento do livro do João Silva encontrei este Blog que dá realce à obra.

Sendo o responsável pelo Departamento de Cultura e Tempos Livres, que coordenou a edição do livro Rocha Chenaider a partir de um conjunto de textos entregues ao Departamento por amigos do João Silva, fico satisfeito pelo que aqui encontrei.

Um livro que aconselho todos a ler, que poderão encontrar à venda no site da CGTP-IN e que brevemente será colocado à venda nas livrarias.

Parabéns pelo blog.

Fernando Gomes