Grilos
Não falo daqueles que competem com as cigarras no alegrar dos verões, ainda que deles se diga que só moem a cabeça, não deixam dormir, ainda que em noite de aperto, com o calor a morder e o barulho do silêncio instalado na cabeça, se rebole na cama. Falo sim dos grilos da consciência, daqueles que nos sussurram sobre o ombro qual o caminho a trilhar. Falo por exemplo de Fulguroso Esperto, que me apontava o dedo ao peito advertindo-me para a possível negritude dos meus pulmões.
Não falo daqueles que competem com as cigarras no alegrar dos verões, ainda que deles se diga que só moem a cabeça, não deixam dormir, ainda que em noite de aperto, com o calor a morder e o barulho do silêncio instalado na cabeça, se rebole na cama. Falo sim dos grilos da consciência, daqueles que nos sussurram sobre o ombro qual o caminho a trilhar. Falo por exemplo de Fulguroso Esperto, que me apontava o dedo ao peito advertindo-me para a possível negritude dos meus pulmões.
Ainda a (des)conhecida (para o Sô Zé) lei do tabaco estava a muitos anos de parir e já Fulguroso Esperto entrava em crises de asma, só por me ver levar a mão ao bolso da camisa; pusesse eu o cigarrito nos lábios e Fulguroso ficava roxinho; chegada a chama ao tabaco, Esperto, enrouquecia. Enrouquecido e meio desfalecido perorava:
-È uma questão de força de vontade e de respeito pelos outros; eu que fumei durante trinta anos…
Mas que fazer? Força eu tenho alguma, mas vontade... vontade não tenho nenhuma.
Fulguroso Esperto, nascido a 25 de Abril de 1974, foi vítima de aneurisma anal.
Vai amanhã a enterrar. Lamento que não tivesse deixado de fumar um ano mais cedo, talvez o hemorroidal tivesse resistido mais um pouco.
Mas quem sou eu para…
Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...
Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...
Chegou hoje no correio a notícia
É preciso avisar por esses povos
Que turbulências e ventos se aproximam
Ahhh, cuidado...
Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...
Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...
Foi chão que deu uvas, alguém disse
Umas porém colhe-se o trigo, faz-se o pão
E se ouvimos os contos de um tinto velho
Ahhh, bebemos a saudade...
Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade...
E vem o dia em que dobramos os nossos cabos
Da roca a S. Vicente em boa esperança
E de poder vaguear com as ondas
Ahhh, saudades do futuro...
Há sempre alguém que nos diz: tem cuidado
Há sempre alguém que nos faz pensar um pouco
Há sempre alguém que nos faz falta
Ahhh, saudade.
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