O Abominável Jorge das Neves quando fez o seu primeiro aninho recebeu como presente um anão “muitalindo”, como ele, oferecido pelo padrinho. O anãozinho de borracha era a sua alegria apaziguadora das suas dores entremeadas de dentinhos a nascer e de dores de barriguinha a que, nem gel nas gengivas nem aero-om ou supositórios de glicerina punham termo o sofrimento. O seu bálsamo era o boneco que com os seus guinchos de corneta aguda, sacados pelos deditos rechonchudinhos, punham a praguejar avó e tias que moravam no rés-do-chão. Mais tarde veio a saber que o anãozinho se chamava Rezingão.
Quando entrou para a escola já não tinha um mas sete, oferecidos pontualmente a cada 15 de Março, está-se mesmo a ver pelo padrinho. Completada a colecção dos florestais amigos, o Abominável vaticinou para com os seus botões que no ano seguinte o padrinho lhe traria a Branca de Neve.
Puro engano! Mamou com mais um que o dito padrinho desencantou. Entrado para a tropa já contava com uma vintena de todos os feitios e para todos os gostos, deste os de pau aos de barro... no dia do casamento o padrinho, vá lá, ofereceu-lhe um cheque jeitosinho mas quando voltou da lua de mel, gozada lá para os lados da Caparica, quando chegou a casa, lá tinha um anão avantajado, daqueles para colocar no jardim, com um bilhete: Desculpa. Não estarei cá para os teus anos, fica o antecipadamente o presente.
O Abominável não sabia se havia de rir com a situação se com os apartes românticos da esposa... o que é certo é que chorou quando soube que o padrinho tinha sido eliminado do jogo por morte súbita.
No aniversário seguinte, o Abominável acordou com uma sensação de profunda angústia, arranjou-se, engoliu de pé umas bolachas, ajeitou a gravata de meio executivo e depois emborcou o café. Despachou a mulher com um beijo, remoendo um surdo quase-ódio por a mulher não se lembrar do seu aniversário.
Quando voltou a casa, altas horas, deitou-se de mansinho, estranhou um embrulho junto à almofada, pelo que sorrateiramente o abriu na casa de banho. Era um anão!
1 comentário:
Deixa que eu quando voltar à Dinamarca hei de ver se ainda lá está uma Branca de Neve insuflável e convidativa que um dia vi numa montra. Depois digo-te.
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