Mesa a preceito. Toalha de xadrez outrora vermelho e branco, um pouco puída, escondendo a cor da mesa, não acusava a viagem; nem um vinco! A penumbra ía vencendo o que restava da luz, agora pendurada no céu onde castelos de nuvens empardeciam. Preparado o cenário, passemos à luta: Não vó, sopa não, em insistências pungentes não demoveram à’vó. –o determinado: –Só esta. sobrepôs-se às palmadas nas coxas com que Nereu reforçava –Sopa não vó. As duas primeiras foram dele, é verdade; mas as outras foram pelo pátio. –Esta é… pela Graça, esta ééé… pelooo…, o arrastar reticente das palavras tinham o efeito mágico de lhe entreabrir a boca, pelo Manuel Carvalho que é… mecânico e lá ia outra por goela abaixo – Mecânico? de quê? –Ora essa! de carros pois! assim continuaram naquele entremeado ora abre a boca ora desvia a cara de lábios arrepanhados. –Mas foi e toda!: AVÓ 1 / NEREU 0.
Sim senhora! Rematou Maria, mais regalada que triunfante, ao levantar-se para ir buscar a costeleta e as batatas fritas abafadas no fogão. No caminho deu à luz, convencido o dia em dar lugar à noite, a sala foi afagada por uma claridade amarela que as vinte e cinco velas ofereciam. Para não cansar: AVÓ 2 / NEREU 0, resultado de uma segunda parte de um jogo fastidioso. Por fim, o coelho que esfriava poude confortar Maria. Retornada à mesa com o, prato entre mãos, levava ainda meia pêra que Nereu teria de roer. Sentou-se e antes de atacar, ao prato deu uma volta inteira para, não se entende, na mesma posição ficar! Nereu debicava, Maria entre garfadas mirava-o meio absorta. Resultado deste prolongamento? MARIA 0 / NEREU 0, ou empate técnico como Absinto diria.
Finalizada a refeição deitou a mão ao candeeiro a petróleo, apagou a luz e voltou a sentar-se de costas apoiadas na parede. Nereu não tardou. Rabo no banco depositou a cabecita no colo d’avó; ao remexer no cabelo e ás pontas de dedos aflorando a cabeça, respondia cavando as pernas com a o nariz, á outra mão afagando as costas, respondia um serpentear do dorso, assim para ali ficaram aquelas duas almas tagarelando, tagarelando, sei lá sobre o quê.
O frio foi-se instalando e o sono chegando. Ereneu lá foi nos braços da avó para a cama. Ao depositá-lo, Maria sentiu-se apossada pelas mãozitas que se apegavam. Olhos entreabertos: -Vó contas uma história? Maria tapou-o, deitou-se a seu lado, puxou para si a coberta, começou: Era uma vez…, e sentiu a respiração pesada e quente do neto.
volvendo os olhos pra Nereu,
mas que dia!
ut parvus est
7 comentários:
histórias doces de avós e de brincadeiras: vejo-me sentada no baloiço preso à pernada mais alta da oliveira e depois a comer as nêsperas ainda verdes ou a trepar a figueira...
e ela a migar as couves no colo, sentada, vestida de luto, sempre...
... e de repente, mesmo sem me ter apercebido, vi a minha tristeza recorente a nascer do passado.
Vou fugir daqui, que o dia está tão feio hoje...
Desculpa, não era nada disto que eu queria dizer... é que gosto das tuas histórias. Gosto mesmo!
As tuas histórias suaves, acalmam-me. E cada uma me espanta, ao deixar-me visualizar a cena como se fosse um filme.Um filme dos grandes portugueses do século XX deste país. :)))
Elipse,
O dia foi de facto pesado de chuva.
Eu que gosto tanto de chuva acusei os 200 Km de temporal mais dez horas do inferno de Lisboa á sexta-feira.
É bom voltar para estar ao pé de vocês.
Desculpa a nostalgia do conto mas é assim que sai.
Um beijinho.
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Maria incondicional,
obrigado pelas tuas reconfortantes palavras.
Já os meti na cama, acabou o dia.
Um beijinho.
Vim desejar-te um óptimo fim-de-semana ^-^
Muitos beijinhos para o meu Erecteu
As histórias da nossa infância!
"Abre a boca.... olha o avião,,,!!
Mais uma em que nos podemos talvez todos rever... mas que tu é que contas assim, BEM! Bjs
P.S.- é por ser fds ou... hj não há texto?! sniffff....
MFC,
Como nos "enganavam"!
Bfs, bejs
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Diefe,
O dia acabou. Eles ficaram deitadinhos e confortados.
Beijinhos.
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