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domingo, 4 de março de 2007

Há jogos a doer B VI

Bom, atendendo a que não houve uma maioria qualificada de comentários reforçando a deixa para pôr de lado esta treta, sinto-me na obrigação moral de cumprir o papel de Fernão Lopes, cronista isento, resistindo à tentação de apimentar a história com pormenores pitorescos ou pinceladas de carácter impressionista e muito menos surrealista.
Serei como até agora objectivo com enquadramentos de grande plano. Recorrendo a um ou outro close-up, não será com certeza para eliminar figura menos composta ou ambiência menos favorável.


-Nã pod’o quê? Rochinha até bufava.
Nã pecebes né? Ist’é a sério, e muita sorte têm vocês em eu apitar sem fiscais de linha.

Só faltava mais esta! O Silvinha a lembrar-se dos preceitos.

-Não têm um suplente? Vêm pá’qui armados em heróis de equipamento e tudo, mas…
-É um equipamento sem equipa, eheheh, mordeu reforçando o Senfim.
Os do USA, sentados no chão, apoiados nos braços ou em flor de lótus, já maldiziam Rochinha.
-O gajo punha o Biegas à baliza e tava tudo resolvido. -A simplicidade da solução ao alcance de qualquer um, não é?.
-Oh Rochinha cheg’aqui. Lá veio ele parlamentar, com os seus.


-A Nanny, desculpem, o Zé Galo, teve a ide…, o capitão/treinador nem deixou o Garrincha acabar.
–Entra o Biegas saio eu. A equipa tá feita e da ultima vez nã havia suplentes. E lá voltou para o conciliábulo.

Silvinha que já sentia a falta do apito nos beiços, lá teve que ceder, -Se assim querem, assim vão ter, cada um joga com o que tem, e o ISP se quiser usa o suplente, e o USA se tiver lesões, ou alguém se for abaixo das canetas, aguenta a tormenta.
Puxa da sua moeda oficial, exibe-a com toda a solenidade e pergunta ao Borrego, -Cara ou coroa? volteia-a no ar e...–azar do Borrego.
Destapa a moeda, pergunta ao Rochinha –Bola ou campo? E o Rochinha: –Bola.

A jogada estava ensaiada. Ao estridente e autoritário apito, Metomê dá um pequeno toque para Bicho, Bicho atrasa p’ó, p'ó guarda redes, a bola rola devagar, Penas persegue a bola, o Invencível carreeEGA em bloco, Zé Galo consegue apanhar a bóoola, chuta em arco, fortíssimo… Garrincha adiaaantado recolhe a bóoola, passe em profundidade, Meialeca desloca-se, está of-side, não está, o arbito não apITA o Invencível ficou parado clama of-siiiide…

-Ofsaide, ofsaiiiide, gritavam em coro os Invencível, enquanto acenavam os braços.
Os do União: -Vai Meia vai, -Vai Leca guinchavam .

… aí vai Meialéeeeca, completamente isolado, infleeecte, inflete para o centro do terreno; sai Cagante, sai Cagaaante, faz a mancha, Meialeca puxaaaaá bola pó pé esquerdo , Cagante estira a perna Meialeca remata, a bola parte, passa por baixo das pernas do guarda redes e é, é. não é, é é é Golo, Goooolo do USA, Gooooooolo!!!

Cinco, dez? vá lá quinze segundos de jogo, confesso que não sei!

O Invencível corria em bloco direito a Silvinha, Meialeca em pose de avião corria para os companheiros que para ele corriam. Toda a gente corria! Silvinha, esse, corria às arrecuas terminando no chão, fruto de falta de treino com certeza. Levanta-se aos Pris-Pris improvisados, envolvido pela indignação do Invencível.

-Eu é que sou o arbitro, lembrava ele.
-Nã vali, nã vali; -É golo, é golo –gritavam ao desafio.
-Bol’ó centro, sentenciou assertivamente Silvinha.
-Gatuno, ladrão, pantomimêro –de um lado
-Respêtem o arbitro –do outro
-Gatu…, Silvinha mand’á mão ao bolso que, mandam as leis,, em contra ordenação grave tem de puxar do cartão, mas... vê a malta do Invencível a avançar pa ele e… volta costas a correr.
-Moços dum cabrão, se querem arbitro vão ao Totta. E pernas pa que te quero.

Sai o arbitro… mudam-se os tércios.
Ainda Silvinha não tinha chegado à estrada e já a bola virava tourada em movimento uniformemente acacetado. Doze contra onze, ferve a cachaporrada! O USA remeteu-se logo para a táctica do quadrado, sim que as lições de história servem para alguma coisa, o Invencível ladeava o flanco cortando-lhes a retirada pó castelo.
Sopapo e pontapé, pontapé e sopapo as coisas ficavam feias para uns e sorridentes pó Invencível. Uma forte e ousada investida dá jus ao nome de Invencível: quadrado roto, desnorte nas hostes uniuninas, aconselhava a retirada em regime disperso.
Abalam uns para um lado outros pa outro, de olho por cima das costas quando se ouve o capitão:

-Voltem, caralho, voltem ,oh que os gajos enfardam no Biegas.

Confesso que, na confusão, até a mim me tinha escapado que o jogo afinal terminava empatado doze a doze

sexta-feira, 2 de março de 2007

Apito B V

Isto começa bem, pensou o Silvinha.
O Silvinha, Sr. Silva, carteiro de profissão faz a volta logo pela manhã, depois é fácil encontrá-lo ao longo da muralha dando dicas a custo zero, a pescadores ocasionais e até aos de lugar cativo.
Personagem de referência desperta a simpatia na maioria do povo. Do alto do seu metro e meio e sob o peso dos seus 49 Kg mal aviados, impõe-se indiferente a risinhos ou veladas piadinhas. A única nódoa no seu desempenho social é a sua destreza no domínio da Casal Boss de duas velocidades.
Homem apaixonado, passeia-se com a sua Paulinha, braço sobre o ombro. Ainda não lhe chegou aos ouvidos foi o dichote posto a correr, por quem não digo, ainda que me matem: “A Paulinha é a paixão mas vem-se é com o futebol” – aquele Luís é lixado, se algum dia morder a língua cai pró lado com o próprio veneno.

Virtuoso do apito, Silvinha controla as situações de jogo com mestria em morses e intensidades próprias. Um Prrriiii, semibreve e seco confinou o ISP e o USA aos seus meios campos, chamando ao centro Rochinha e Borrego, capitães d’equipa.
–Como é, estamos aqui pa jogar ou querem barraquinha?
A profissão de fé unânime dos capitães qu’era mesmo pa jogar, era comprometida pelos gestos de Lambuça que, dando às asas com os cotovelos e esgravatando a gravilha, ensaiava uma dança em círculos . Do outro lado o dedo espetado do Bicho, contagiava o resto do USA.

Sério e grave começou com os considerandos, qual preambulo de diploma, do que o levava a apitar, aquele jogo, ele que já apitara o nacional – diga-se que omitiu a terceira divisão - advertiu que não admitia – a lista é tão extensa que me coíbo de a enumerar, para quase por fim mostrar-lhes duas cartolinas mais um bloco por fim, por fim mesmo, lhes pedir a lista dos jogadores.
Conhecendo vocês a do USA limito-me a revelar-vos a do ISP:
  1. Cagante
  2. Prego
  3. Cenoura
  4. Senfim
  5. Lambuça
  6. Carelhas
  7. Borrego
  8. Manhoso
  9. Dentinho
  10. Penas
  11. Galeira
  12. Careca

Com esta formalidade satisfeita, Silvinha dispensa os capitães, olha para o relógio e eis quando senão e de repente, saca das listas olha para uma e para a outra e volta a chamar os capitães.


-Isto assim nã pode sêri. Antão uma equipa tem onze e a outra dôzi? Ou há condições iguais ou nã há jogo


Assim não há pachorra, puta de vida, quem ainda acaba com esta merda de história sou eu.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Triunfal B IV

Aí vai a canalha, pensava Biegas. Aí vai o rancho, pensaria a mana Bia, mas não pensou, largou foi o falsete: -Hê moços dum cabrão, ao vê-los abalar direitos à Stª Luzia em formação desorganizada.
-O raio dos moços nem sei o que parecem! Disse apontando a cabeça ao alto pá vizinha que batia os tapetes um no outro.
– Olhe daqui, parecem um rancho de sacristas a caminho da procissão do Senhor dos Paços.

Lá iam eles calçad’ábaixo em chilreada e guincharia, ufanos no seu trajar. Todos equipados, até ao Pica se desvaneceram as dúvidas. Agora sim, o USA era pa valer.
-Devíamos trazer cartazes, aventou.
-E quem é que segurava neles? – Devolveu o Rochinha.
-Pois é! Mas uma bandêra, era porrêro, temos de fazer uma.
Rochinha não lhe deu troco mas começou logo a vê-la.

É o Biegas, é o Biegas. Apontava para o alto, Zé Galo aos pulos.
Rochinha mirou de soslaio e secou-o: -E depois, para quê o carnavali? O Zé baixou a crista mais baixo que a esperança de sair da baliza. A algaraviada amansou e lá foram seguindo com os olhares o Biegas que os seguia lá pelo alto da colina do castelo.

A tensão foi-se instalando à medida que se aproximavam do campo da Parvoíce. Ainda lhes mordia na pele a chacota, resultado do último encontro. O Meia, para alguns, Leca para outros, Meia-Leca, só fora de campo para todos, vaticinou, -Os gajos mamam uma à minha conta. Mais valera estar calado, chamemos-lhe impropérios ao chorrilho de comentários que se seguiram ao seu desempenho no anterior jogo; aos pastelão, biqueira torta, fura nuvens, respondeu: -Nalgas – e entre dentes, caralhos ma fodam.
Zico manifestava a sua fezada que agora é que era: -Hoje temos, arbitro, com o Sr. Silva a apitar, a mama acabou-se.
Assim chegaram ao armazém do sal, por trás do qual ficava o campo.

Procurava o Rochinha, explanar a táctica, puxa do papel, e começa a ditar o que todos sabiam, ou não envergassem já eles as camisolas:
  1. Zé Galo (baliza)
  2. Zico (defesa direito)
  3. Rochinha (defesa central,)
  4. Pica (defesa esquerdo)
  5. Boleta (médio direito)
  6. Baldão (centro campista)
  7. Bonanza (médio central recuado)
  8. Meia-leca (médio central avançado)
  9. Garrincha (extremo esquerdo)
  10. Bicho (extremo direito)
  11. Metómê (avançado de centro)


    Posto isto, preparava-se pá ultima palestra mas… qual quê! Meia-leca disparara a correr direito ao campo arrastando os outros atrás, surpreendendo as hostes do Invencível de S. Pedro, o USA fazia uma entrada triunfal.

    O silêncio instalou-se no campo, o aquecimento parou, a visão do equipamento ferrou fundo no trajar civil do Invencível. Advinhava-se uma vitória psicológica do USA.

.
-Malta, as galinhas fugiram todas da capoêra!!!
Chacota geral, o Invencível recuperava o pé.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Indefinível - BIII

Um vermelho vivo intenso acetinado, números amarelos perfeitos contornados por um filet! Acordou feliz com o sonho. Correu sem se vestir para o quintal e estacou perante a visão. Pareciam onze bacalhaus espalmados as camisolas secas e rijas. Uma indescritível muralha castanha, ria-se dele, contorcia-se e ondulava ligeiramente ao sabor da brisa.
Desalentado sentou-se na celha da roupa, parecendo-lhe que era hora d'embalar a trouxa e zarpar.
Foi buscar a lata de tinta e o pincel com que a avó marcara os socos da casa e resignado começou a marcar os números. Por momentos animou-se ao perceber que o algodão cedia e perdia a rigidez; uma a uma foi dispondo de novo as camisolas na corda para que secassem. Terminada a tarefa agarrou num naco de pão, barrou-o com manteiga de pingo e foi sentar-se no peal da porta contemplando o trabalho alinhado por ordem crescente.

Batia o quarto para as dez na torre de Santiago.
-Não lhes mexas c’ainda nã tão bem secas, recomendou ao Garrincha.
-É só pa ver, pá, tá porrêro, pá.
Sentiu-se confortado, mas a opinião de Garrincha contava pouco porque a esse tudo satisfazia; tentou confortar-se com a ideia de que ao longe o efeito nem era mau.
-Temos qu’ir Rochinha, a malta deve estar-se a juntar lá no largo.
-E se borram?
-Borram nada. Afirmou seguro o Garrincha depois de fazer o teste dedo.

Lá foram eles com elas de braçado para serem recebidos com manifestações de alegria ao assomarem.
Depositaram as trouxas no caixote da Malcriada que lhe servia de banca, junto à Sopa dos Pobres, envolvidos pela ansiedade de tocarem o novo equipamento.
-Tenham calma, arredem porra. Garrincha, podes começar a distribuir.
-Eu? O puto não compreendia, a razão de tal investidura, não acreditava. Ultrapassada a surpresa começou compenetrado: Zé Galo e deu-lhe a branca de mangas compridas, com o um ocre nas costas prantado para seguir com as outras.
-Ganda pinta! Gritou o Zico já de camisola enfiada.
-Uma merda, rosnava o Pica, ist’é qu’é encarnado? Olha-me pa esta merda! Mostrava a camisola amachucada na mão.
Ui! Estralou a confusão.
Foda-se pica, cresceu para ele Garrincha, o qu’é que queres?
-Isto, ist’é qu’é encarnado, caralho?
-Zé Galo meteu-se no meio a tempo.
-Não sei que cor é, disse o Boleta, médio ofensivo de muito poucas falas, mas é a cor do União, para rematar certeiro:

-E não há nenhum clube com cor igal à nossa.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

União ? - BII

O grito do Zé Galo caiu como caía o sol.
-À Baliza, à baliza? O coro desafinado do “USA” –União Sport dos Açougues- não se conformava com a vista da bola voando em arco para violar, nas suas visões o véu da noiva dos da parvoíce, desvanecer-se com a exigência do Biegas.
Agitavam-se à sua volta como formigas com o carreiro desfeito. Imploraram, ofertaram a escolha do número da camisola, o Rochinha garantia liberdade de movimentação em campo mas esbarraram com determinação tão grande ou maior que o craque em contratação.
-Já disse carago, só à baliza.
Estava feito, e desfeita a esp’rança; assim como a noite estava agora feita, estava desfeita a união dos Açougues.
Lá foram eles a caminho do bairro, bola debaixo do braço como viola no saco. Quem os visse passar estranharia com certeza a procissão. Onde estava a corrida em passes de bola, a berraria do PAss'á, os risos e os palavrões?
Depois do jantar encontramo-nos no largo disse o Rochinha compenetrado no seu papel de jogador treinador.
-Se a minha velha deixar, disse o Zé Galo.
-Quero lá saber, vai quem pode.

O primeiro a chegar foi o Garrincha que não tinha limitações, vantagem de quem não tem quem tenha para com ele grandes obrigações. Seguiu-se o Rochinha; os outros foram chegando aos pares. Pelo meio lá veio o Zé Galo fazendo contas ao troco que lhe caberia por não ter dito nada lá em casa.
-O gajo não joga, abriu o jogo logo meigo.
-Ó Rochinha…
-Foda-se não joga, atalhou e justificou: Equipa já temos, se ele não tivesse aparecido aí como era, não jogávamos na mesma?
-Mas ò Rochinha, é a desforra, e na Parvoíce.
-Mais’uma razão. É a nossa desforra, acabou.

Qual acabou! Mais uma vez o União Sport dos Açougues estava desunido.
Deixa lá o gajo ir à baliza, gemia Zé Galo, galardoado frangueiro merecedor do apelido, apoiado pela maioria dos indecisos.
-Amanhã, antes do almoço, todos aqui no largo para distribuição do equipamento.
Assim acabava a reunião; dispersaram uns a caminho de casa, Garrincha sem saber para onde deixou-se para ali ficar e ainda ouviu o Pica.
-O gajo tem a mania que é ele que manda.

Chegado a casa Rochinha foi logo apalpar as camisolas. Ainda estão húmidas não dava para marcar os números.
A preocupação dele instalou-se. O vermelho revelava-se pró castanho. Assaltava-o a dúvida do resultado daquela tingidela. Seguira à risca as recomendações que lhe dera a avó do Borrego.
Pusera a panela a ferver com uma beterraba. por cada camisola, mais três punhados de sal e um copo de vinagre; quando a água estava a ameaçar levantar fervura enfiara-lhe as camisolas mexendo com um pau durante, quase, uma hora, tirara-as depois para fora e passou-as de imediato por água fria e mais sal. Tudo a preceito por duas vezes que a panela de ferro não dava para mais.

Uma despesa do caraças, cada uma a 1$50 regateados três por 4$00 lá conseguira que o Cuba passasse o lote das doze para 15$00, nem menos um tostão avisou o judeu. Onze escudos era tudo o que então tinha, nada que duas idas à pinha não tivessem resolvido.
Nessa manhã passara por lá a levantar a encomenda.
Negócio fechado, levantara as camisolas interiores, o Cuba deu-lhe um aperto de mão e ofereceu-lhe uma de manga comprida.
–É para o guarda redes, tem defeito na costura mas não se nota.

-Afinal o Cuba é porreiro

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

BI

Apareceu lá no campo treinávamos nós à tardinha, cantos e livres à entrada da área, conscientes da dificuldade que era enfrentar no dia seguinte os do S. Pedro, numa tentativa de minimizar os atributos do Zé Galo, guarda-redes por imposição mas não por vocação.
Cirandava em orbita da malta, bamboleante num arrastar de pés, mãos nos bolsos, olhar esquivo de soslaio. Não demorou muito que, a argúcia do Pica, não determinasse a convocação urgente da roda .-É espia deles – sentenciou apontando com o queixo – tá a topar a nossa táctica.
Os olhos da equipa, como de um se tratasse, afincaram-se no magano que, virando costas comprovava a tese e a sentença estava aprovada: era sim senhor: só podia ser bufo do ISP – “Invencível de S. Pedro”, para eles, “Invencível Só Parvoíce”para nós, diferendo amiúde resolvido à pedrada na encosta do castelo.

-Que sa lixe, continuamos o treino que o Galo não tá em forma.
-Nalgas. Nã tou em forma vais tu à baliza.
Não Galo – troou o couro. Era velho o ponto assente de que a baliza era dele. Se na verdade não era um dotado guardião, fora da baliza tinha o desastroso papel a quem se limpa o cú. O Galo era contudo imprescindível na equipa dada a grande qualidade de fornecedor das bolas.

Continuado o treino, logo ao primeiro canto, disparada a bola em arco… -Troc’ás botas, lá foi ela para a bancada –imaginemos– para saltitar até os pés do maltês que impávido olhava para ela e para nós enquanto a malta olhava uns pós outros a ver quem lá ia.
Porra que o sacana era grande, ar de urso mal escovado, cabeça XL, olhos XS plantados na fuça quadrada.
Teve que ser:
-Vai lá Garrincha.
-Eu? Vai tu...
-Foste tu que chutaste, porra.

Para alívio dele e da malta o gajo lá se dirigiu para a bola, dá-lhe um toque comprido para a linha de fundo, ensaia uma corrida, dispara e aí vai ela voando por cima das cabeças direita ao Galo para lhe passar por entre as asas, morrendo enrolada nas redes.
-Ca ganda chuto, sibilou o Zico.
-Ca ganda vaca, arrotou Garrincha despeitado.
Volto os olhos para ele e já nos tinha voltado as costas, biqueirando a terra levantava poeira.
-Ei. –Ó tu. –Psstes, foram saindo.
O treino parou. A malta rodeou-o.
-Que fazes aqui?
-Ía a passar.
-Dond’és?
Daqui, sou da Ti Custódia.
-Da Ti Custódinha? Pode lá ser!
-Sou sobrinho, vim pa cá.
-Como ta chamas?
-Rui, Rui Biegas.
-Queres jogar connosco?
-Só se for à Baliza.

-BOA, grita-me o Galo.