Os marinheiros estão desejosos de chegar e logo de partir,
dizem.
Diz-se que são, inconformados de
olhos desfocados em busca de novos cenários para aventuras de fazer gelar o
sangue ao mais valente; de trazer até à amurada as fauces de monstros saídos
das profundezas; dizem mesmo que depois de uns quantos Gins ou Runs fecham
ainda mais a alma enquanto vão soltando a língua e abrindo a boca de espanto a
quem os oiça e compreenda. Nessas ocasiões veem à ribalta sereias de cabelos
dourados cantando em timbre de harpa, selvagens tatuados rangendo dentes e
brandindo facas descomunais; por vezes, baixando a voz, até falam de dobrões
d’oiro, diamantes, esmeraldas e rubis, dentro de baús de grosso ferro, enterrados
à sombra de três palmeiras de uma ilha deserta no meio dum mar imenso.
Na verdade nunca ouvi marinheiro
em discurso directo mas, um amigo que foge para tudo quanto é porto e doca
jurou-me que é errado falar assim de marinheiros. Tornou evidente que, tal como
as marés e os pôr-do-sol, não há dois marinheiros iguais.
Contudo, disse ele, numa coisa
em particular são todinhos iguais – no desejo de possuírem embarcação própria para
capitanear. Contou aliás que os dois dias mais felizes de um marinheiro são: o primeiro, o da compra do batel e o segundo quando se desfazem dele, por um
pataco que seja...
Esta coisa tem gaitas!!! Afinal
os marinheiros são como os meninos e os brinquedos novos; aliás são como os homens
e as namoradas, né?
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