Os balanços, e o último golinho faziam-me uma sonolência terrível, terrivelmente agradável.
O som do motor e a chiadeira dos carris não eram suficientes para me perturbar. Um ou outro solavanco evitavam que a figura se descompusesse para alem do tolerável. Ainda que tal sucedesse, nenhum mal viria ao mundo; vantagens de nos diluirmos na imensidão da cidade e de na hora o eléctrico seguir quase vazio.
Lá á frente, encostado à cabine do condutor, um negro seguia ferrado com o saco das ferramentas entre os pés; escoltando o guardo freio seguia o eterno policia em conversa que se adivinhava através dos vidros: futebol, última jornada, rapto de menina, talvez.
O som do motor e a chiadeira dos carris não eram suficientes para me perturbar. Um ou outro solavanco evitavam que a figura se descompusesse para alem do tolerável. Ainda que tal sucedesse, nenhum mal viria ao mundo; vantagens de nos diluirmos na imensidão da cidade e de na hora o eléctrico seguir quase vazio.
Lá á frente, encostado à cabine do condutor, um negro seguia ferrado com o saco das ferramentas entre os pés; escoltando o guardo freio seguia o eterno policia em conversa que se adivinhava através dos vidros: futebol, última jornada, rapto de menina, talvez.
Do lugar dos palermas nada mais via, encostei a cabeça fechei os olhos e deixei-me ir com a imagem da Sé, rememorando a sua simplicidade: o portal coroado pela generosa rosácea, as discretas frestas e os vãos sineiros, os merlões na casa do Senhor. Assim embalado fui fantasiando momentos passados: D.Gilberto de Hastings, ao melhor estilo de Rafael Nadal, tanto batia à direita ao longo da linha como a duas mãos firmava o báculo para desferir impiedosas esquerdas cruzadas, convertendo os infiéis sarracenos em…
Um solavanco devolveu-me ao mundo de boca aberta, não, escancarada.
Uma simpática velhinha vinda do nada, posso jurar, abraçada à carteira sorria-me como se docemente me beijasse, o seu olhar percorrendo-me aconchegou-me um mágico cobertor ao redor do pescoço entalando-o por trás dos ombros. Sem jeito procurei retribuir carícias tamanhas. O seu sorriso embalava-me, o rosto revelava uma estranha beleza; cerrei por breves momentos os olhos, vi-a em todo o esplendor juvenil: um rosto perfeito emoldurado por um cabelo rebelde, olhar penetrante e felino, lábios carnudos de morango crescente…
De novo despertei, dirigi-lhe o olhar…
De novo despertei, dirigi-lhe o olhar…
Porra, maldito abssinto.
11 comentários:
a mulher sem idade a espreitar (te) de dentro da velhinha...
bela, a velhinha, consegui ver...
:)
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Obrigado mariazinha, ainda bem que não me viste a mim sacoleando a cabeça :)
e eu que sou alérgico a morangos.... sou novo por aqui, faz-me uma visita!
cumps
Delicioso, tão seu, tão seu... (o fim então...)
Jinhos.
P.S. Já tinha saudades deste cantinho, my fault que não vinha cá há que tempos.
Sapo,
Vai em frente, sempre a assapar.
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JJ,
É como eu. Não temos que ir sempre às mesmas; o ideal é que se vá com prazer, né?
Postal tao bem ilustrado da "Olisipo"...
abraço
Eu diria antes bendito absinto ;) que te faz filmar o 28 de Lisboa a desoras e te mostra o lado apetecível que vês em cada pessoa. :)
e agora para atestar, vai-te lá desengomar da praxadela
bjo
Ab,
Olisipo tem postais que não acabam e isso sabes melhor que ninguém.
Um abraço.
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Baum-marie,
São os teus olhos que vêem, de qualquer forma inchas-me.
Doces beijos.
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JP,
Adivinho um streap qualquer, mas já me vou certificar.
Erecteu,
mas também sei dar massagens para fazer passar inchaços. ;)))
(desculpa a brejeirice mas foi impulso)
Beijinhos repenicados
Marie-Baum, :)))
Qual quê, desculpo lá!
Brejeirices? Ainda me deixas mais inchadito ;)
Beijos repenicados e adoçados.
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