Fumar é um desafio tão grande como deixar de o fazer.
Começei aí pelos seis (6) anos. Cigarro roubado do maço de um tio, partilhado com uma prima, deitados na cobertura de um terraço a que dava acesso à casa das máquinas de um elevador.
Era porreiro!
Começei aí pelos seis (6) anos. Cigarro roubado do maço de um tio, partilhado com uma prima, deitados na cobertura de um terraço a que dava acesso à casa das máquinas de um elevador.
Era porreiro!
A prevaricação multiplicava-se com a troca de acesso ao que cada um tinha que o outro não tivesse. Era porreiro! Tinha de bom o risco de sermos vistos pois o prédio em frente tinha mais um andar.
De tabaco no bolso comecei a andar lá pelos onze anos. Era porreiro! Meio cigarro em cada intervalo, quando havia, partilhado com os que não tivessem,
-Dás-me uma chupa?
-Vá, não abuses.
Aos do terceiro ano lá tinha que ir dando um cigarrito, pois na selva interna que era o colégio, o lugar no grupo vai-se aprendendo, como aprendem os chimpanzés, tal e qual. Dava-me um ar importante e compunha a capa e batina que fedelho passei a usar, lá para os treze anos, e como era comum naquele colégio.
Deste modo fumei até ao dia em que saí da tropa.
Há meses que o pessoal projectava esse dia de liberdade:
Praia ou viagens de um mês era o mais comum. A mim, por opção e necessidade de me desconspurcar de dois anos e meio de zona de guerra e de um mundo kafkiano, calhava-me começar a trabalhar logo no dia seguinte. Faltava uma boa forma de comemorar. Decidi secretamente na véspera do grande dia 12 de Junho: Fumo o último cigarro a passar a porta de armas e não vou ao barbeiro o mesmo tempo que estive na tropa.
Cada vez que me apetecia um cigarrito ou quando passado o stress da privação, via alguém puxar dele, sentia o prazer de estar livre.
É estúpido mas era porreiro!
Fui perdendo este prazer à medida que fui deixando de sentir falta do tabaco e deixei de receber elogios pela força de vontade e coragem (!). Felizmente o cabelo foi crescendo, lembrando o que não queria esquecer. Ao barbeiro não fui durante trinta meses, é verdade, mas a barba, mais que o cabelo, ganhou tais proporções que cedi aos argumentos da minha companheira e aos cuidados da sua tesoura e um pente laminado. Estou-lhe eternamente reconhecido; primeiro porque me aliviou de uma penitência dura, segundo porque me deixava com suficiente ar de troglodita que me tranquilizava relativamente à jura não cumprida verdadeiramente.
Estive, assim, sem fumar o tempo que estive na tropa, até que a isto voltei.
Como? Eu talvez conte.
Mas só se pedirem muito. É mentira, conto se der na bolha.
3 comentários:
Olha, bem queria deixar... mas o vício é grande e as pressões legais só me irritam e me dão mais vontade.
Ainda hoje respondi a 3 colegas que dissertavam sobre a nova lei e os impactos dela: "Menos conversa e eu não iria fumar este cigarro"
Apre! Já me estavam a irritar!
(E como irritam!...) Mas conta lá, Erecteu, se te der na bolha, pq nós queremos saber... :) Bom fds
Cada um sabe da sua vida e dos seus pulmões. E se querem mesmo fumar ao menos que não fumem a merda desses cigarrinhos feitos de papel... Gastem o dinheiro numa caixinha de charutos dos bons.
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