Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço
Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste
Nem sequer gemeste,
Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos
Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres
A infância sem quarto
A suor, a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: fiz serão
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher
Estendi-me na cama
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Acrílicos Tania Leal
BOLERO DO CORONEL SENSÍVEL QUE FEZ AMOR EM MONSANTO
10 comentários:
Gostei de reler este poema e que bem enquadrado nas imagens...
Obrigada por esta versão musical que eu só conhecia a do Vitorino.
E as telas assentam que nem uma luva no post:mulheres pasmadas à espera.
Grande António. Grande, grande, grande...
Bem!!!! Que reviravoltas... andas com uma injecção de criatividade... ai ai!
Adorei, volto logo para ouvir, que aqui não dá!
Beijoca da gata
Sensível.
"Eu que me comovo
Por tudo e por nada"
O Sergio godinho tem uma música com o mesmo título. Abraço
Olá Erecteu
A gatinha disse que estavas com a pica da criativadade em alta, e eu estou de acordo.
Está tudo a preceito!
Grande abraço, compadre
Fenomenal! A conjugação das imagens com o poema está soberba. Parabéns!
Jinhos.
gstei da composição
beijos
della
Tenho um desafio para ti, fofo ^-^
Espero que aceites...
beijinhos e boa noite
um beijo a correr e de passagem, mas ainda assim cantado nesta música solta.
tenho pouco tempo... mas volto.
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