sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Pátio de novo

A Laidinha, como já lhe chamam, Dief, o que dizer dela? Há tão pouco a dizer de uma pessoa assim! Será então: seca de carnes mas não de olho, mexe-se como lagartixa ou ratito do campo, se preferires, faz a sua vida em casa saindo para os avios, vive para os filhos embora já tenham a sua casa, enfrenta quem lhe pisar os terrenos. Pergunto-me se será uma pessoa feliz. Vocês julgarão, se nos der ocasião para tal. No pátio chamam-lhe a “Generala”, chamam, quer dizer, referem-se a ela, seguros de não estar por perto. De generala Á’delaide não tem nada; será uma ajudante de campo, sargento de dia ou fachina voluntária, generala, definitivamente, não; só para quem não a entende. O seu orgulho é o Manel Carvalho, o seu homem. Como ele não há outro. Nunca lhe pedira namoro mas não mais se esqueceu daquele dia em que se fora despedir do irmão que viera a casa para se despedir antes de partir para as Áfricas; o comboio a apitar para partir e sai de lá aquele rapagão direito a ela, –Posso escrever-te? o comboio a pôr-se em marcha, ele ali especado a olha-la do alto; só quando sem som lhe sair da boca lhe disse, –Sim é que ele sem mais nada, rodou e correu a tempo de ainda apanhar a última carruagem. Depois, foram dois anos e dois meses:

Adelaide
Espero que esta te vá encontrar de saúde, na companhia dos teus, por aqui tudo bem, graças a Deus.
….
O que tanto bem te quer,
Manuel Carvalho

Tinha-os lá todos; quatro maços amarelos atados em fita de cetim rosa, arrumadoas na caixa de camisa TV. "É LAVAR PENDURAR E VESTIR"

Depois... era já uma vida sem o ouvir queixar de nada.

7 comentários:

Joana disse...

Ontem não consegui passar por aqui, mas acompanho, e compenso-o agora com o primeiro dos comments.

Actualmente poucas pessoas tem o dom de (d)escrever assim. Le-se de rajada, volta-se a ler, para saborear cada momento, para pesar cada expressão/impressão...

Tem que pensar em editar isto em papel, um dia destes... ;)

Jinhos.

rui disse...

Oh Erecteu
Boa noite

Faço minhas as palavras da minha conterrânea, a JJ, ou melhor a Joana.
Tens um jeitinho especial para descrever estas situações.
Que tal compilar uns contos e formar uma livro?
A foto do aerograma está de morte! Fizeste-me recordar os meus tempos em África!

Oh amigo, porque o natal te deixa triste?
Um grande abraço

DF disse...

Obrigada por me teres contado da Laidinha. Como dizem os fans atrás, tb acho que poderias bem oferecer-nos qq dia o TEU livro! Adorei "rever" o papelinho amarelo que tantos anos circulou lá por casa...:)
Bjs
P.S.- Tudo repara que andas "cabisbaixo"... ANIMA-TE!:)

Erecteu disse...

Obrigado amigos.
Estou aqui mais babado que um camêlo.
Isto excede em muito a brincadeira a que me propunha. Já alarguei demais o passo que pensava poder dar. A partir daqui é rotura na virilha, pela certa, diz o "Princípio de Peter".
De qualquer forma o meu ego não vos consegue pagar.
É "verdede" que SCP-SLB 0-2,5 ajuda um poucachito.
Beijinhos, abração

Maria Arvore disse...

Fiquei banza como aerograma que foi a primeira vez que vi um. :) E depois as referências bem metidas à publicidade da época. :)

E continua que não dás cabo da virilha, cruzes! :))Escrever está-te nas veias como está o sangue. :))

E como noutras coisas, quanto mais se escreve, mais vontade dá de escrever. ;)

Maria disse...

Posso escrever-te?*

*cute

beijinhos e bom fim-de-semana

Erecteu disse...

Marie-baum.
Pormenores que a memória vai desfiando com palavras escritas.
A escrita é um prazer que dá uma ganda trabalheira. Não tenho estaleca para maior compromisso.
Fui ao teu quintal roubar umas fotos do João Aguiar. que agradeço teres divulgado.
Obrigado pelos incentivos, tomara poder.
Um beijinho.

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Bolachinha,
Podes escrever-me?
É obvio que seria um prazer.
Beijinhos.