Congratulo-me com a medida, todas as que sejam tomadas para colmatar a carência da prestação dos cuidados de saúde constitucionalmente prestados,
[Artigo 64.º(Saúde)1. Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender e promover.2. O direito à protecção da saúde é realizado:a) Através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito]
são bem vindas.
Interrogo-me: não temos capacidade para formar mais médicos, ou não temos candidatos à altura das exigências das faculdades de medicina com perfil?
É sabido que muitas famílias recorrem a Espanha para que os seus filhotes, excluídos do ensino médico em Portugal, realizem os seus anseios; por outro lado o nosso sistema de ensino investe em cursos que, sabemos de antemão, não terão saída.
Ah, como eu gostaria de compreender coisas aparentemente tão simples.
Comissão Europeia vai proibir produtos para crianças da China "A União Europeia vai impor um embargo total aos produtos para crianças provenientes da China considerados como produtos de risco, na sequência do escândalo do leite contaminado chinês, anunciou esta quinta-feira a Comissão Europeia."
Estamos perante uma sansão, né? Ou, "és feio não brinco mais contigo". É uma lógica do caraças! Bem gostaria de a ver aplicada aos óleos adulterados, provenientes de Espanha, ou ao vinho nacional, a martelo.
Na verdade quatro crianças, até ao momento, já não é pouco; cheguem-lhes sanções a sério e já agora que tal falar de brinquedos e brincadeiras: que tal menos restrições à produção de leite? E que tal criar excedentes para os enviar prós Biafras e Somálias?
Coro de escárnio e lamentação dos cornudos em volta de S.Pedro Coplas dedicadas às fogosas e vampirescas mulheres daBeira,de quem já Abel Botelho disse o que disse. Monólogo do primeiro cornudo: Acordei um triste dia Com uns cornos bem bonitos E perguntei à Maria Porque me pôs os palitos Jurou por alma da mãe (Com mil tretas de mulher) Que era mentira Tambem,ainda me custava a crer Fiquei de olho espevitado Que calado é o mehor E para não re-ser enganado Redobrei gozos de amor Tais canseiras dei ao físico Tal ardor pus nos abraços Que caí morto de tísico Com o sexo em pedaços Já esperava por isto a magana? Já previra o que se deu? Do Além via-a na cama Com um tipo pior que eu Vi-o dar ao rabo a valer Fornicando a preceito Sabia daquele mistério Que puxa muito do peito Foi a hora de me eu rir Que a vingança tem seus quês O mais certo é para aqui vir Ainda antes que passe um mês Arranjei um bom lugar Na pensão de Mestre Pedro Onde todos vão parar Embora com muito medo Não passava de uma semana O meu dito estava escrito Vítima daquela magana Pobre tísico,tadito Dueto dos dois cornudos: Agora já somos dois A espreitar de cá de cima Calados como dois bois Vendo o que passa na vida Meteu na cama mais gente Um,dois,três logo a seguir Não há piça que a contente É tudo o que tiver de vir São Pedro,indignado,pragueja: É demais,arre diabo-berra S.Pedro,sandeu- E mortos por dar ao rabo,lá vêm eles p'ró ceu... Coro,pianíssimo,lirismo nas vozes: Quem morre como um anjinho... Quem morre por muito amar... Coro,agora narrativo ou explicativo: Já formamos um ranchinho,de cá de cima a espreitar Aparte do autor das coplas:-coitadinhos Passam meses,passa tempo e a bela não se consola Já somos um regimento como esses que vão para a Angola Fazemos apostas lindas sempre que vem cara nova Cálculos,medidas infindas,como ela terá a cova! Há quem diga que por si já não lhe tocou o fundo Outros juram que era assim do tamanho deste mundo Parecia uma piscina!-diz um do lado,espantado- Nunca vi uma menina num estado tão desgraçado (Aparte do autor,antigo militante das esquerdas baixas) Num estado tão desgraçado,parece-me ouvir o povo Chorando seu triste fado nas garras do Estado Novo O ultimo que cegou cá morreu que nem um patego Afogado e era mar nos abismos daquele pêgo O coro dos cornudos acompanhado por S.Pedro em surdina,entoa a moralidade,após ter limpado as últimas lagrimetas e suspirado como só os cornudos sabem:ahh! Mulher não queiras sabida Nem com vício desusado Que podes perder a vida Na estafa de dar ao rabo Escolhe donzela discreta Com os três no seu lugar Examina-lhe bem a greta Não te vá ela enganar E depois de lhe veres o bicho E as mamadeiras que tem A funcionar a capricho Já sabes se te convem Mulher calma,é estima-la Como a santa no altar Cabra doida,é rifa-la Que não venhas cá parar Este conselho te dão E não te levam dinheiro Os cornudos que aqui estão Com São Pedro hospitaleiro Invejosos,quase todos Dos cornos que o mundo guarda Fazem mais um bocado de lamentação (Nota do autor-quase,porque,entretanto alguns brincavam uns com os outros.Rabolices... Mas se fornicas a rodos tua vida aqui não tarda Recomeça a moralidade,estilo 'estão verdes,não prestam' Alguns bêbedos,cornudos despeitados ou amargurados,vozes pastosas (deve ler-se vinho...velhinho) Melhor que a mulher é o vinho Que faz esquecer a mulher Que faz do amor já velhinho Ressurgir de novo o prazer Finale muito católico Assim termina o lamento Pois recordar é sofrer A mãe fode É bom sustento E por nós reza o pater Luiz Pacheco,num dia em que se achou mais pachorrento.
Farsa trágico-cómica. Peça em muitos actos (ainda não se sabe quantos)
Personagens:
Isabel Soares, chefe de gabinete do vice-presidente da Câmara de Lisboa, ex-presidente da Gebalis, empresa municipal que gere a habitação social de Lisboa. dr. José Bastos director do departamento de apoio aos órgãos do município, tenta comprar casa da câmara em boas condições (a defenir o que são boas condições). Ana Sara Brito, actual vereadora da Habitação e Acção Social, ex-Presidente de Freguesias António Costa Chefe de autarquia, sub-chefe de maioria nacional Comentador telegénico Ex-corredor da modalidade Porsch vs Burro Santana Lopes: Ex-primeiro ministro. Presidente da CML Presidente de um partido, quase completamente. irá também ser constituído arguido Helena Lopes da Costa. A actual deputada do quase comletamente. constituída arguida num processo de alegado favorecimento na atribuição de habitações Miguel Almeida, também deputado do tal partido também constituído arguido Manuela Ferreira Leite, Presidente do completamente partido, testemunha de um dos arguidos no caso,
Margarida Sousa Uva, mulher de presidente emigrado testemunha arrolada. Miguel Relvas
misteriosa figura Marco Almeida, vice-presidente da autarquia Sintrense.
Sinopse:
Zangam-se as comadres e não se descobrem as verdades, talqualmente. Helena é acossada arrastando consigo para a rua, enlameada, das amarguras: Pedro, e Miguel. Ficará isto assim? Não! Põe a boca no trombone e… das brumas surge... Isabel, que tem uma casa atribuída pela autarquia há 18 anos, já não vive nela; na casa está agora o seu filho. Isabel tenta adquirir a casa, a um preço abaixo do valor de mercado. O processo acaba por ser aprovado, a data da escritura marcada, mas... o processo esbarrara na vereadora Helena, que tinha o pelouro da Habitação Social, e que acaba por remeter o assunto, juntamente com um outro – o do dr. Bastos -, para o gabinete do, na altura, presidente Santana.
Entram em cena com sus trajes andaluces, e peruquerias: Manela, Pedro e muitos outros…
TU ME QUIERES alba, Me quieres de espumas, Me quieres de nácar. Que sea azucena Sobre todas, casta. De perfume tenue. Corola cerrada
Ni un rayo de luna Filtrado me haya. Ni una Margarita Se diga mi hermana. Tú me quieres nívea, Tú me quieres blanca, Tú me quieres alba.
Tú que hubiste todas Las copas a mano, De frutos y mieles Los labios morados. Tú que en el banquete Cubierto de pámpanos Dejaste las carnes Festejando a Baco. Tú que en los jardines Negros del Engaño Vestido de rojo Corriste al Estrago.
Tú que el esqueleto Conservas intacto No sé todavia Por cuáles milagros, Me pretendes blanca (Dios te lo perdone), Me pretendes casta (Dios te lo perdone), ¡Me pretendes alba!
Huye hacia los bosques, Vete a la montaña; Límpiate la boca; Vive en las cabañas; Toca con las manos La tierra mojada; Alimenta el cuerpo Con raíz amarga; Bebe de las rocas; Duerme sobre escarcha; Renueva tejidos Con salitre y agua; Habla con los pájaros Y lévate al alba. Y cuando las carnes Te sean tornadas, Y cuando hayas puesto En ellas el alma Que por las alcobas Se quedó enredada, Entonces, buen hombre, Preténdeme blanca, Preténdeme nívea, Preténdeme casta.
E já agora, mais casta e mais fiel... ao textoPerdi-o mas encontrei este.
Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara, Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele; E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha (Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro: Não sou parvo nem romancista russo, aplicado, E romantismo, sim, mas devagar...). Sinto uma simpatia por essa gente toda, Sobretudo quando não merece simpatia. Sim, eu sou também vadio e pedinte, E sou-o também por minha culpa. Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte: E' estar ao lado da escala social, E' não ser adaptável às normas da vida, 'As normas reais ou sentimentais da vida - Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta, Não ser pobre a valer, operário explorado, Não ser doente de uma doença incurável, Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria, Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas, E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.
Não: tudo menos ter razão! Tudo menos importar-se com a humanidade! Tudo menos ceder ao humanitarismo! De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?
Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou, Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente: E' ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio, E' ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.
Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki. Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir. E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.
Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato, E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.
Coitado do Álvaro de Campos! Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações! Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia! Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos, Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita, Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha olhos tristes por profissão
Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa! Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!
E, sim, coitado dele! Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam, Que são pedintes e pedem, Porque a alma humana é um abismo.
Eu é que sei. Coitado dele! Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!
Mas até nem parvo sou! Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais. Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.
Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!
Já disse: sou lúcido. Nada de estéticas com coração: sou lúcido. Merda! Sou lúcido.
Surgiram por fim; direitos à aventura de muitas de umas férias promissoras, pulando degrau a degrau para alcançarem mais abaixo a vereda encravada entre morros e o vazio orlado por capim. Deu-lhes o avanço necessário para não “levar uma corrida” e afoitou-se. O peito apertava-se, finalmente podia penetrar no mundo proibido, e se achava que o cenário correspondia às descrições, achava também que uma grande dose de exagero havia no que dizia respeito aos perigos narrados. Procurava reter cada pormenor, guardava a miscelânea de sensações que a assaltavam: cores, sons e cheiros; pela certa que ali não voltaria. O caminho ao princípio largo e de acentuado declive, tornava-se mais plano e estreito.Reconheceu o começo da Tundavala, nome roubado pelos rapazes para se referirem à estreita garganta que rasgava o morro que como um rio começava estreita e, serpenteando, se ia alargando e afundando. O caminho estreitava cada vez mais e ela cada vez mais se cozia à parede do morro, pernas tremendo. De repente estacou. O caminho, cada vez mais estreito, desaparecia numa curva apertada, como que suspenso no ar. Sentou-se, sentido o coração crescer no peito, olhou para trás e reprimiu as lágrimas juntando coragem para fazer o caminho de volta. Algum tempo passou porque sentiu o sol queimar-lhe o corpo. Tomou coragem, levantou-se, deu dois passos de volta e quando pressentiu um movimento na suas costas; voltou-se aterrorizada e… viu o Pirolito correndo na sua direcção. O rosto iluminou-se-lhe de alegria, o canito endiabrado atirava-se-lhe às pernas, ladrava aflito, fugia por onde tinha vindo e voltava ao mesmo. Percebeu que queria que o seguisse. Venceu a curva temida coladinha à parede do morro, juntou forças para ultrapassar uns degraus escavados na terra, observada pelo Pirolito como que a incentivá-la, e viu-o partir de novo correndo. -Pirolito, gritou, anda cá já –mas ele nada. -Pirolito!!! Pareceu-lhe ouvir gritarem: -Ajuda-me… Pôs o ouvido à escuta: -Ajuda-me, ajuda-me… Correu caminho abaixo sem querer saber se era largo ou estreito, deparou com Alfredo, suspenso sobre a ravina,, agarrado ao capim, o Pirolito mordendo-lhe os cabelos. Correu para eles, sentou-se no chão, deu-lhe uma mão e puxou, puxou…
(...) Quando eu morrer e for chegando ao cemitério, Acima da rampa, Mandem um coveiro sério Verificar, campa por campa (Mas é batendo devagarinho Só três pancadas em cada tampa, E um só coveiro seguro chega), Se os mortos têm licor de ausência (Como nas pipas de uma adega Se bate o tampo, a ver o vinho): Se os mortos têm licor de ausência Para bebermos de cova a cova, Naturalmente, como quem prova Da lavra da própria paciência. (...)
You look like a perfect fit For a girl in need of a tourniquet
But can you save me Come on and save me If you could save me From the ranks of the freaks Who suspect they could never love anyone
'Cause I can tell You know what it's like The long farewell of the hunger strike
But can you save me Come on and save me If you could save me From the ranks of the freaks Who suspect they could never love anyone
You struck me dumb like radium Like Peter Pan or Superman
You will come to save me C'mon and save me If you could save me From the ranks of the freaks Who suspect they could never love anyone 'Cept the freaks Who suspect they could never love anyone But the freaks Who suspect they could never love anyone
C'mon and save me Why don't you save me If you could save me From the ranks of the freaks Who suspect they could never love anyone
Except the freaks Who suspect they could never love anyone Except the freaks who could never love anyone
Olho seco viu-os afastarem-se com a jura quebrada. Por uns momentos sentiu prazer em ver o coxear de Alfredo mas a recordação do seu braço sobre os seus ombros enquanto partilhavam a leitura do Kit Carson, fê-la sentir miserável. Eles afastando-se e ela mais miserável, sem saber se era do abandono se era do raio do braço. Decidiu-se; apanhou as saias e torneou em corrida o campo da bola, não ligou ao –Xi minina, onde vais a corêr’assim? – lançado por Dona Mariquinhas, quando lhe atravessou o quintal ganhando vantagem quer na distancia, quer à perna marota de Alfredo; continuou a corrida desenfreada e só abrandou o paço quando avistou a estrada do Cacuaco. Dissimulou-se entre os montes de entulho e algum lixo e dispôs-se a esperar; um olho na orla de cubatas do outro lado da estrada, outro nos degraus ciclópicos que supostamente deveriam atenuar os efeitos das próximas chuvadas, -mais tarde se veriam os resultados de tamanha engenharia.
Para além dos degraus os morros estendiam-se em barrocas esculpidas pela água, qual paisagem lunar, para por fim se espraiarem num extenso mar de areia que morria aos pés do porto.
Lá de cima sentia-se no céu contemplando as cicatrizes rompidas na terra vermelha como de carne se tratasse, nas veredas que se perdiam morro abaixo perdiam-se os pensamentos; em cada uma revivia as histórias contadas pelos seus heróis em tardes mornas, às quais acrescentarei o devido ponto, neste conto. O ritual sagrado era marcado pela permanente lata de gasóleo fervendo no meio da fogueira, pelas folhas de jornal enroladas a preceito, ou cigarros, cuidadosamente furtados ao Sr. Silva, circulando de mão em mão. Cada troféu submetido à mira certeira das fisgas ou de chumbos, merecia uma descrição pormenorizada sobre o avistamento quase sempre longínquo, a aproximação pacientemente furtiva, o visar frio, o impacto certeiro, a trajectória da queda, e finalmente a recolha da peça onde Pirolito assumia recorrentemente um papel relevante.
A tocaia estava montada, os manos tardavam a aparecer.
A minha Maria alembrou-me que ando para aqui há dois anos! Dois anos nisto é tão absurdo como duas horas ou uma até.
Descubro o prazer de me enrolar nesta marmelada por vezes interrompida, qual coito.
Brindo-te com esta hora porque, porque... hoje é quarta.
HORA ABSURDA
O TEU SILÊNCIO é uma nau com tôdas as velas pandas... Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso... E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraiso...
Meu coração é uma ânfora que cai e que se parte... O teu silêncio recolhe-o e guarda-o, partido, a um canto... Minha idéia de ti é um cadáver que o mar traz à praia..., e entanto Tu és a tela irreal em que erro em côr a minha arte...
Abre tôdas as portas e que o vento varra a idéia Que temos de que um fumo perfuma de ócio os salões... Minha alma é uma caverna enchida p'la maré cheia, E a minha idéia de te sonhar uma caravana de histriões...
Chove ouro baço, mas não no lá-fora...É em mim...Sou a Hora, E a Hora é de assombros e tôda ela escombros dela... Na minha atenção há uma viúva pobre que nunca chora... No meu céu interior nunca houve uma única estrela...
Hoje o céu é pesado como a idéia de nunca chegar a um pôrto... A chuva miúda é vazia...A Hora sabe a ter sido... Não haver qualquer coisa como leitos para as naus!...Absorto Em se alhear de si, teu olhar é uma praga sem sentido...
Tôdas as minhas horas são feitas de jaspe negro, Minhas ânsias tôdas talhadas num mármore que não há, Não é alegria nem dor esta dor com que me alegro, E a minha bondade inversa não é nem boa nem má...
Os feixes dos lictores abriram-se à beira dos caminhos... Os pendões das vitórias medievais nem chegaram às cruzadas... Puseram in-fólios úteis entre as pedras das barricadas... E a erva cresceu nas vias férreas com viços daninhos...
Ah, como esta hora é velha!... E tôdas as naus partiram! Na praia só um cabo morto e uns restos de vela falam De longe, das horas do Sul, de onde os nossos sonhos tiram Aquela angústia de sonhar mais que até para si calam...
O palácio está em ruínas... Dói ver no parque o abandono Da fonte sem repuxo... Ninguém ergue o olhar da estrada E sente saudade de si ante aquêle lugar-outono... Esta paisagem é um manuscrito com a frase mais bela cortada...
A doida partiu todos os candelabros glabros, Sujou de humano o lago com cartas rasgadas, muitas... E a minha alma é aquela luz que não mais haverá nos candelabros... E que querem ao lago aziago minhas ânsias, brisas fortuitas?...
Por que me aflijo e me enfermo?...Deitam-se nuas ao luar Tôdas as ninfas... Veio o sol e já tinham partido... O teu silêncio que me embala é a idéia de naufragar, E a idéia de a tua voz soar a lira dum Apolo fingido...
Já não há caudas de pavões tôdas olhos nos jardins de outrora... As próprias sombras estão mais tristes...Ainda Há rastros de vestes de aias (parece) no chão, e ainda chora Um como que eco de passos pela alamêda que eis finda...
Todos os ocasos fundiram-se na minha alma... As relvas de todos os prados foram frescas sob meus pés frios... Secou em teu olhar a idéia de te julgares calma, E eu ver isso em ti é um pôrto sem navios...
Ergueram-se a um tempo todos os remos...pelo ouro das searas Passou uma saudade de não serem o mar...Em frente Ao meu trono de alheamento há gestos com pedras raras... Minha alma é uma lâmpada que se apagou e ainda está quente...
Ah, e o teu silêncio é um perfil de píncaro ao sol! Tôdas as princesas sentiram o seio oprimido... Da última janela do castelo só um girassol Se vê, e o sonhar que há outros põe brumas no nosso sentido...
Sermos, e não sermos mais!... Ó leões nascidos na jaula!... Repique de sinos para além, no Outro Vale... Perto?... Arde o colégio e uma criança ficou fechada na aula... Por que não há de ser o Norte e Sul?... O que está descoberto?...
E eu deliro... De repente pauso no que penso...Fito-te... E o teu silêncio é uma cegueira minha...Fito-te e sonho... Há coisas rubras e cobras no modo como medito-te, E a tua idéia sabe à lembrança de um sabor de medonho...
Para que não ter por ti desprêzo? Por que não perdê-lo?... Ah, deixa que eu te ignore...O teu silêncio é um leque --- Um leque fechado, um leque que aberto seria tão belo, tão belo, Mas mais belo é não o abrir, para que a Hora não peque...
Gelaram tôdas as mãos cruzadas sôbre todos os peitos.... Murcharam mais flôres do que as que havia no jardim... O meu amar-te é uma catedral de silêncio eleitos, E os meus sonhos uma escada sem princípio mas com fim...
Alguém vai entrar pela porta...Sente-se o ar sorrir... Tecedeiras viúvas gozam as mortalhas de virgens que tecem... Ah, o teu tédio é uma estátua de uma mulher que há de vir, O perfume que os crisântemos teriam, se o tivessem...
É preciso destruir o propósito de tôdas as pontes, Vestir de alheamento as paisagens de tôdas as terras, Endireitar à fôrça a curva dos horizontes, E gemer por ter de viver, como um ruído brusco de serras...
Há tão pouca gente que ame as paisagens que não existem!... Saber que continuará a haver o mesmo mundo amanhã como nos desalegra!... Que o meu ouvir o teu silêncio não seja nuvens que atristem O teu sorriso, anjo exilado, e o teu tédio, auréola negra...
Suave, como ter mãe e irmãs, a tarde rica desce... Não chove já, e o vasto céu é um grande sorriso imperfeito... A minha consciência de ter consciência de ti é uma prece, E o meu saber-te a sorrir é uma flor murcha a meu peito...
Ah, se fôssemos duas figuras num longínquo vitral!... Ah, se fôssemos as duas côres de uma bandeira de glória!... Estátua acéfala posta a um canto, poeirenta pia batismal, Pendão de vencidos tendo escrito ao centro êste lema --- Vitória!
O que é que me tortura?... Se até a tua face calma Só me enche de tédios e de ópios de ócios medonhos... Não sei...Eu sou um doido que estranha a sua própria alma... Eu fui amado em efígie num país para além dos sonhos...
Quem não mordeu a maçã da índia parte desta vida sem conhecer um pouco do céu.
Não tardou muito que Alfredo aparecesse à varanda. Balançou o ramo onde se instalara, o suficiente para se fazer notada. –Hei! –ela nada– -Pauliiinha, tornou ele. Paulinha!!!! -já era coisa merecedora do: –Que é? –Viste o Dudu, o Lélé? –Foram pá Missão. –Cabrões! Oh Victor, os gajos foram pá Missão. –Cabrões, concordou logo o Victor. –E levaram as fisgas, picou ela. Num foguete já estavam cá em baixo, e ela também. Espingarda de chumbos na mão Victor perseguido por Alfredo, capengando na sua perna marota, passo marcado pelos chumbos embolsados a chocalhar na caixa, eram por sua vez seguidos de perto por Paula. –Vai-t’embora. –Não vou nada, ora essa! Estacaram ameaçadores mas ela,também, ameaçadora disse: -Não foram pá Missão. –Então?! –Não foram. –Então, porra, merda, ENTÃO? –Só digo se puder ir. –Então? –Juras? –Juro. –E tu? –Juro, anda lá, porra… –Foram pás Barrocas. –Pás BARROCAS!? –dise um. –Pás Barrocas não vais disse o outro. –Mas… vocês juraram!!! –Mas não vais, isso é qu’era bom! (e poderia ter acrescentado: ponto final).
Quem jura… mais mente, mas o que ela em mente tinha…
A colega era nova. Queixava-se do horário, do quarto frio em cave escura e diminuto, da distância de casa, da enxaqueca… Convidei-a para um cafezinho que se prolongou entre silêncios embaraçosos e mais uns quantos lamentos. Lá dentro a rádio local emitia os sucessos do momento; de quando em quando metia informações úteis, tais como:
Perante tanto infortúnio e ainda para mais com tanto Gustavo e Ike a fazer estragos por aí, arrisquei:
-Com este tempo, se calhar, era bom ficares lá em minha casa… -Obrigado, mas não ouvi falar no distrito de Setúbal! -Pois não! Mas nunca se sabe como o tempo evolui, né? -Obrigado na mesma, mas… estou em alerta vermelho.
Pegou na mala, levantou-se. Vi afastar-se num belo movimento de saias.
Não percebi nada. E elas é que se queixam de não nos perceberem!
Hurricane (Bob Dylan and Jacques Levy)
Pistol shots ring out in the barroom night Enter Patty Valentine from the upper hall. She sees the bartender in a pool of blood, Cries out, "My God, they killed them all!" Here comes the story of the Hurricane, The man the authorities came to blame For somethin' that he never done. Put in a prison cell, but one time he could-a been The champion of the world.
Three bodies lyin' there does Patty see And another man named Bello, movin' around mysteriously. "I didn't do it," he says, and he throws up his hands "I was only robbin' the register, I hope you understand. I saw them leavin'," he says, and he stops "One of us had better call up the cops." And so Patty calls the cops And they arrive on the scene with their red lights flashin' In the hot New Jersey night.
Meanwhile, far away in another part of town Rubin Carter and a couple of friends are drivin' around. Number one contender for the middleweight crown Had no idea what kinda shit was about to go down When a cop pulled him over to the side of the road Just like the time before and the time before that. In Paterson that's just the way things go. If you're black you might as well not show up on the street 'Less you wanna draw the heat.
Alfred Bello had a partner and he had a rap for the cops. Him and Arthur Dexter Bradley were just out prowlin' around He said, "I saw two men runnin' out, they looked like middleweights They jumped into a white car with out-of-state plates." And Miss Patty Valentine just nodded her head. Cop said, "Wait a minute, boys, this one's not dead" So they took him to the infirmary And though this man could hardly see They told him that he could identify the guilty men.
Four in the mornin' and they haul Rubin in, Take him to the hospital and they bring him upstairs. The wounded man looks up through his one dyin' eye Says, "Wha'd you bring him in here for? He ain't the guy!" Yes, here's the story of the Hurricane, The man the authorities came to blame For somethin' that he never done. Put in a prison cell, but one time he could-a been The champion of the world.
Four months later, the ghettos are in flame, Rubin's in South America, fightin' for his name While Arthur Dexter Bradley's still in the robbery game And the cops are puttin' the screws to him, lookin' for somebody to blame. "Remember that murder that happened in a bar?" "Remember you said you saw the getaway car?" "You think you'd like to play ball with the law?" "Think it might-a been that fighter that you saw runnin' that night?" "Don't forget that you are white."
Arthur Dexter Bradley said, "I'm really not sure." Cops said, "A poor boy like you could use a break We got you for the motel job and we're talkin' to your friend Bello Now you don't wanta have to go back to jail, be a nice fellow. You'll be doin' society a favor. That sonofabitch is brave and gettin' braver. We want to put his ass in stir We want to pin this triple murder on him He ain't no Gentleman Jim."
Rubin could take a man out with just one punch But he never did like to talk about it all that much. It's my work, he'd say, and I do it for pay And when it's over I'd just as soon go on my way Up to some paradise Where the trout streams flow and the air is nice And ride a horse along a trail. But then they took him to the jailhouse Where they try to turn a man into a mouse.
All of Rubin's cards were marked in advance The trial was a pig-circus, he never had a chance. The judge made Rubin's witnesses drunkards from the slums To the white folks who watched he was a revolutionary bum And to the black folks he was just a crazy nigger. No one doubted that he pulled the trigger. And though they could not produce the gun, The D.A. said he was the one who did the deed And the all-white jury agreed.
Rubin Carter was falsely tried. The crime was murder "one," guess who testified? Bello and Bradley and they both baldly lied And the newspapers, they all went along for the ride. How can the life of such a man Be in the palm of some fool's hand? To see him obviously framed Couldn't help but make me feel ashamed to live in a land
Where justice is a game.
Now all the criminals in their coats and their ties Are free to drink martinis and watch the sun rise While Rubin sits like Buddha in a ten-foot cell An innocent man in a living hell. That's the story of the Hurricane, But it won't be over till they clear his name And give him back the time he's done. Put in a prison cell, but one time he could-a been The champion of the world.
Ah malandra! – atazanava ela – Olha-me para esses pés, olha-me para essa blusa, para essa saia! Fora apanhada a esgueirar-se para a casa de banho. - E isto é que são horas?
Para trás ficara o primeiro dia de férias. Sorrateiramente, logo que a avó, bem cedo, saíra de casa, voou para fora dela a morder o pão com goiabada, sem tempo de afivelar as sandálias, ao encontro da felicidade. E a felicidade morava, logo ali, onde terminava o alcatrão e começavam as cubatas: a do Dudu e da irmã, a do Lelé e das irmãs, restos entalando a casa de dois andares do Victor e do Alfredo, filhos do Sr.Silva camionista, que assinalava nova fase de conquista dos muceques, por uma cidade em expansão emperdenida. Vagueou entre elas perseguida pelo Pirolito. Ah o Pirolito! -cauda enrolada entre as pernas, em permanente zig-zag, no seu branco sujo manchado de negros, primeiro e incondicional compincha de todas as brincadeiras. À segunda volta, Lélé saindo de sua “casa”, espreguiçando o corpo dourado, costelas para fora, num cristo mal amanhado, recebeu-a com um muchocho, facilmente ultrapassado com a partilha do pão que ela roía e ele fez desaparecer em duas penadas; a Dudu bastou a primeira conversa para se apresentar com a sua carapinha desalinhada, dentes a destoar em tanto preto; o milagre do pão que restava aconteceu, mas pela última vez. Passivamente assistiu à decisão da programação do dia: Barrocas do Porto, por unanimidade e sem aclamação. O coração apertou-se-lhe porque barrocas não seriam brincadeira para ela, sabia-o bem. Viu-os recolherem as fisgas, escolherem as melhores pedras, as redondinhas, e partirem. Os “Bicos de Lacre” e “Peitos Celeste”, Cucos até, que se cuidassem.
Trepou à macieira da índia, escolheu as madurinhas, seguindo-os, lá do alto, viu-os atravessar o campo da bola para atalharem nas cubatas mais além.
Espírito de leoa em outro corpo, lutando contra todos , é assim que a viam e a mordiam pelas costas. Não a viam lutando contra si mesma, presa a cadeias que a manietavam e diariamente rebentava, sabendo que outras nasceriam para se lhes ferrarem, mais que a carne, a alma. Desenganem-se os que viam no seu rir ou no seu gesto desenvolto motivo de inveja; a sua língua certeira, e o olho em riste e de caras, que vos afrontavam e tanto temiam, a sua simples presença que vos fazia baixar a voz, ou até mudar de assunto não era uma ameaça porque incrivelmente desarmada andava ela. Senhoras, aquele corpo de menina que tanto vos apoquentava, só aparentemente era frágil; saibam que os excessos correspondiam ao seu espírito. Quais excessos, muito amar? Amasse-se ela a si própria e ter-se-ia feito tão feliz como a tantos, acreditem, fez. Se quiserem falar de excessos, falem daqueles que se vos acumulam nas ancas, vos dilatam as barrigas e vos secam o ego. Compreendo a vossa inveja mas não vos perdoo tanto mal querer, compreendo o mal dizer, afinal elogio vindo de quem vem, mas não vos perdoo a mentira e as suezes alusões. Na verdade até me merecem pena porque ela é a imagem que o vosso espelho não vos devolve. Não é?
Soubessem a dor que a assolava, quando via faltar a outros o que não lhe sobejava... como se ressentia do sofrimento de cão ou gato... como desejou ganhar asas e como se ateve, quase conformada, a um destino...
Fui dizer mal de ti a toda a gente, Jurei, teimei, a todos convenci Que eras um impostor que nada sente E ainda hoje disse mal de ti!
Afirmei que me bates, que me oprimes, Que és covarde, que és cínico e promíscuo! Serias bem capaz dos maiores crimes, Se te pagassem bem! Disse tudo isto!
Todos me acreditaram cegamente! Nalguns olhos vi lágrimas luzindo! Chorei, gritei, gemi cinicamente, Mas cá dentro minha alma ia sorrindo!
Na boca das mulheres vi o lume Do ódio, do rancor que eu acendi! Menti a toda a gente por ciúme! Só eu quero gostar, gostar de ti!
Não falo daqueles que peroram no parlamento ainda que sentados à direita. Ainda que se diga que é no meio que está a virtude, de virtudes está o inferno cheio e na terra ainda sobram muitas... pelo menos é o que ecoa. Falo sim dos que do Vale do Coa ao Zambeze, dos que do Minho a Timor, sem temor, alardeiam a necessidade da manutenção dos ecossistemas e quando começa a vir à baila a porra dos sistemas…
Da formiguinha ao lince da Malcata, do imbondeiro ao aloé ou à doce ervinha, né?, da porra do jacaré à merda da hiena ou à merda de guano, tudo é para manter, pronto aceito.
E eu? Quem me mantém? Quando é que me metem no (eco)sistema? Tá bem, sei que sou um predador de viúvas, se elegantes, e seria de teenagers se isso nã desse cadeia. Papo tudo que seja de boa carne e só se safam os legumes, as frutas e os verdes porque me fazem cair o cabelo, principalmente os verdes. Ah por falar em verdes e queda de cabelo, vem-me à memória Fulguroso Esperto. E porquê? Esperto até é senhor de farta cabeleira! Mas as associações de ideias, como as cerejas, fizeram-me chegar a D. Ferreira, XICo. Esse mesmo o dos minutos verdes e dos vulgos carvalhos, lat. Quercus, pois foi, este mesmo, o mentor de Fulguroso. Fulguroso ,é de bater Palmas, e não só. Acérrimo defensor dos sistemas, com ele não há carvalho que vá abaixo ou barragem que vá acima, não há aeroportos, pontes e TVG’s, sem estudos de impacto ambiental, , ou impacte, feito por empresa idónea e por eles recomendada; nada avança sem queixa para Bruxelas; co-incinerações ou aterros sanitários… isso é qu’era bom, a ver vamos quem fez o projecto.
Bom a conversa vai longa, chega de gastar latim com os ecocêntricos, pois.
Fulguroso Esperto, nascido a 25 de Abril de 1974, ao dar um passo mais longo do que a perna permitia, foi vítima de forte distensão na virilha.
Vai amanhã, definitivamente, a enterrar e não lamento nada.
Mas quem sou eu para…
Estás demitido, obviamente demitido tu nunca roubaste um beijo e fazes pouco das emoções és o espantalho dos amantes. Estás demitido, obviamente demitido evitas a competência não reconheces o mérito és um pilar da cepa torta
E assim vamos vivendo na província dos obséquios cedendo e pactuando enquanto der filósofos sem arte, afugentamos o desejo temos preguiça de viver
Estás demitido, obviamente demitido subornas os próprios filhos trocaste o tempo por máquinas tu és um pai desnaturado. Estás demitido, obviamente demitido arrasas a obra alheia às vezes usas pseudónimo tu és um crítico de merda
E assim vamos vivendo...
Estás demitido, obviamente demitido encostas-te às convergências nunca investiste num ideal tu sempre foste um demitido tu foste sempre um demitido já nasceste demitido!