segunda-feira, 23 de julho de 2007

Sem titulo

Congratulemo-nos com o esforço do governo para dotar os organismos de uma eficácia enquadrada no rigor e transparência.
A partir de agora com o Zé já não se brinca. Os servidores do Estado serão avaliados pelo seu desempenho, os incompetentes serão sancionados com medidas que afectarão as suas carreiras e poderão mesmo vir a ser dispensados. Assim é que é. Acabaram-se as baldas, ou se bule ou se vai de escova.
Médicos, até aqui uma classe intocável, vão assinar o ponto. Parabéns.
Os professores, que cumpriam vinte e duas horas lectivas e depois… casa, com o argumento de que tinham de preparar as aulas, fazer e ver testes, já começaram a alinhar e mais alinharão. Acabou-se-lhes a mama, agora têm de preparar as liçõezitas a sério, porque serão objecto de inspecções rigorosas: verificação dos planos de aulas e terão aulas assistidas. Acho muito bem, só espero é que tenham condições de trabalho nas escolas, como por exemplo: uma secretária, computador, scaner, e um armarito à mão com os seus livritos.
Mais, a partir de agora, só se será professor depois de certificadas as competências através de vários exames onde não se poderá obter em qualquer deles menos de 14 (catorze) valores. É a garantia da qualidade.
Acresce que nas escolas, os professores velhinhos, os titulares, é que ocuparão os cargos. Melhor? Nem na farmácia! Está tudo planeado, concursos feitos, só falta começar.
Aqui, mesm’aqui, numa pequena escola, ficaram de fora da provisão de titular alguns professores dado que somente foram criados quatro lugares para dez concorrentes. Porquê? Certamente porque não são necessários mais professores titulares e o Estado, pessoa de bem, não é esbanjador. Mais uma vez parabéns.
Decerto que está tudo devidamente planeado, de outra forma haveria incompetência ou outra coisa qualquer.
Se acontecer os professores titulares não serem suficientes para os cargos existentes como é? Os responsáveis pelo concurso irão de escova como irão os funcionários incompetentes, ou não tendo havido incompetência, haverá a outra coisa?
A outra coisa poderá ser coagir os excluídos a aceitarem o trabalho sem terem as contrapartidas devidas, ainda que se lhes dê um suplemento salarial por desempenho de função. Neste caso estar-se-á perante a utilização de mão-de-obra barata impedindo que esses trabalhadores progridam na carreira. Mais, existirá coacção porque, mesmo contrafeitos, aceitarão face à possibilidade de num futuro concurso serem ultrapassados por outros que aceitem fazer o frete, pois o futuro… só aos deuses pertence.
É impossível esquecer uma boa foda.
E cá para mim foi a melhor em 36 anos, embora fodido e mal pago.
Por este andar ainda ouvirão de novo a velha música "Pra melhor, está bem está bem" e verão para aí um Lorpa a gritar de bandeirinha na mão:


Trabalho igual salário igual


Fascismo nunca mais


25 de Abril, sempre

Qualquer Dia




No inverno bato o queixo
sem mantas na manhã fria
No inverno bato o queixo
Qualquer dia
Qualquer dia
No Inverno aperto o cinto
Enquanto o vento assobia.
No inverno aperto o cinto
Qualquer dia
Qualquer dia

No Inverno vou pôr lume
Lenha verde não ardia.
No inverno vou pôr lume
Qualquer dia
Qualquer dia

No Inverno penso muito
Oh que coisas eu já via
No inverno penso muito
Qualquer dia
Qualquer dia

No Inverno ganhei ódio
E juro que o não queria
No inverno ganhei ódio
Qualquer dia
Qualquer dia

(F. Miguel Bernardes/ José Afonso)

7 comentários:

Maria disse...

E assim falou... Erecteu!


[where are you?]

Hipatia disse...

Provavelmente não vais gostar do que vou escrever, mas convém lembrar que, muitas vezes, é quase impossível não achar que os professores estão a reclamar demais e de papo cheio. Eu olho à volta e vejo-os ainda como privilegiados, tirando obviamente os que ainda andam nos mini-concursos, mas esses nem para as estatísticas contam. Bem, poderiam passar a contar se aqueles de entre eles verdadeiramente competentes pudessem ir substituir muitas das avantesmas que têm lugar cativo no quadro de zona ou lá como se chama. Agora, que medo é esse das avaliações? Quem não deve não teme, ora. Eu cá trabalho por objectivos; e tenho promoções por mérito relacionadas com essa avaliação; e a distribuição de lucros também está sujeita a essa mesma avaliação; além disso, todo e qualquer prémio fica pendente do número de faltas dado e seus motivos. É com estas regras que trabalho e - em função das chefias - já passei de bestial a besta e de novo a bestial e novamente a besta e... E nunca, mas mesmo nunca, fiz as figuras tristes que vi aqui ao lado, das matronas das professoras a dizerem de véspera que estavam em greve para os alunos não aparecerem e, depois, aparecerem elas, terem o dia por inteiro e estarem a dar à língua no café. Queres que tenha pena? Não tenho. Como não tenho pena que sejam avaliados. Aliás, acho que é preciso que o sejam. É que há professores e professores - incluindo todos aqueles que foram para o ensino porque não havia mais nada para fazer - e não me parece é que a qualidade da formação dos alunos esteja a melhorar.

Erecteu disse...

Maria,
Saiu-me.
Ando por aí, tratando dos vivos.
Um beijo.

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Hipatia,

Se tivesses lido com atenção.
"...terão aulas assistidas. Acho muito bem, só espero é que tenham condições de trabalho..."

Centro o post na perfídia da subtracção de direitos que a reforma propõe.

Poderás achar bem que se peça trabalho de oficial mantendo as pessoas como sargentos, eu não.

De qualquer forma os blogs só têm piada com a discussão de pontos de vista, o meu sincero obrigado e uma beijoca reforçada.

rui disse...

Olá Compadre

Tens razão, é impossível esquecer uma boa recordação!

Abração

Filipe disse...

sem mentários

Erecteu disse...

Rui,
Impossível ;)
Abração

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Filipe com 100
Um abraço

Elipse disse...

A questão que colocas devia ser vista como uma questão que só tem a ver com um estado que se armou em economicista (e lá terá as duas razões, ok, é discussão para muitos dias... assim a gente visse que o exemplo vinha de cima)e por isso anda a pôr pessoas contra pessoas dentro do sector público (professores incluídos)e fora dele.

Mesmo assim continuarei a afirmar que não falo do que se passa nos privados ou na magistratura ou na classe médica porque não estou por dentro.