segunda-feira, 6 de outubro de 2008

JOÃO SILVA I

Porque o tempo urge e a promessa está feita fica um de vários testemunhos, que publicarei,
recolhidos do Livro Rocha Chenaider:

HOMEM DA LIBERDADE E DO SINDICALISMO



A entrada do João Silva na CGTP-IN, em Novembro de 1979, munido da sua inseparável "máquina de fazer bonecos", significou um sopro de vitalidade e cores novas no Alavanca, que emanavam da sua personalidade, do seu saber, da sua experiência de vida vivida.
Viril, nas suas 63 primaveras, João Silva, pela sua atitude e postura positivas perante a vida, pela capacidade de brincar falando sério e de seduzir, foi ensi¬nando a todos que com ele trabalhavam ou conviviam em espaço de trabalho, como se pode construir e guardar o "segredo" da juventude.
O João foi capaz de pegar no trabalho dos seus antecessores - que eram homens criativos e construtores do Alavanca como importante órgão de in¬formação sindical em contexto de revolução e de resistência à contra-revolu-ção - dignificou-o pela continuidade garantida, pela revitalização conseguida através das expressões novas, fruto do seu olhar específico sobre os seres humanos, as suas práticas e formas de agir.
A sua permanente jovialidade, a inquietude, a destreza na captação das melhores e mais expressivas imagens dos muitos acontecimentos da vida sindical, mas também, a sua preocupação em deixar a memória fotográfica desses momentos, de que foi construtor, foram fazendo dele uma referência insubstituível na vida da CGTP-IN.
Conhecendo, pelo que já havia vivido individual e colectivamente, o valor das causas dos trabalhadores, da liberdade e da democracia, abraçou o projecto sindical da CGTP-IN, identificou-se com toda a naturalidade nele, integrou-se no colectivo e nas suas formas de acção. Por isso foi vivendo com tanto inte-resse e sensibilidade cada manifestação, cada debate, plenário, conferência ou congresso, tornando-se participante obrigatório de todos eles.
No seu espaço de trabalho houve sempre algo para criar. Foi, de facto, o João Silva que deu um cunho organizativo mais estruturado ao arquivo foto¬gráfico da CGTP-IN, e é graças a esse seu trabalho que dispomos hoje de um repositório histórico de inestimável valor para a vida sindical.
Como repórter fotográfico com carteira profissional de jornalista, João Silva cobriu muitas centenas de acontecimentos sindicais num trabalho em que caldeava o sentido operário do dever profissional com uma apurada concep¬ção artística da fotografia, "vício" certamente alimentado pelas suas aventu¬ras de ser humano curioso, perante as mais diversas expressões de vida e de comportamentos e, também, pela sua experiência de assistente de imagem e profissional de múltiplas actividades na produção cinematográfica.
Ao meter mãos-à-obra para transportar para a escrita as suas fabulosas histórias, João Silva sossegou todos aqueles que, sendo seus privilegiados ouvintes, entendiam ser uma perda irreparável as suas narrativas não pode¬rem chegar a muito mais gente.
Maior surpresa é o facto de, nesta sempre difícil transposição do oral para o escrito, nada se ter perdido em termos da imagem do real e da vivacidade do discurso, o que revela mais uma qualidade do João que, até agora, estava escondida.
No percurso que vai das histórias de Lisboa aos olhares deliciosos sobre pedaços da vida africana de Angola e Moçambique, dos episódios pessoais às recordações da prisão, da tropa e do cinema, e ainda, na expressão do seu pensamento político, encontramos relatos reais que reflectem o amor à liber¬dade, a cultura e o sentido ético da vida que nos habituámos a reconhecer ao João Silva.
O 25 de Abril devolveu ao João Silva a Liberdade por que lutou de forma so¬lidária ao longo da sua vida. Conta ele que estava no Andulo, Angola, quando soube do que se passava então em Lisboa e diz-nos "Não chorara na véspera à noite, mas chorei naquela manhã".
Ao lermos as histórias do João sentimo-nos reconduzidos à situação de crianças deslumbradas, tal é a originalidade, o sentido de humor e, sobretu¬do, o afecto e o humanismo, que nelas perpassam.
João, todos nós, teus amigos e companheiros de tantas vivências no dia-a-dia do sindicalismo, das relações humanas, intervenção e luta social que ele significa, nos sentimos em dívida para contigo face aos ensinamentos imensos que nos vens oferecendo e vais continuar a oferecer. Havemos de ter a arte e o engenho necessários, a capacidade de dedicação às causas em que estamos, a alegria e confiança no futuro, suficientes para te irmos retribuindo.
Sabemos também que essa vai ser a atitude daqueles que te conhecerem, pela primeira vez, através da leitura deste teu belo livro.


Manuel Carvalho da Silva
Rocha Chenaider

2 comentários:

Maria Arvore disse...

Obrigada pelo I Capítulo. :)

Erecteu disse...

Maria,
Outros se seguem, de acordo com a promessa.